Questão 455da125-3c
Prova:UNESP 2015
Disciplina:Filosofia
Assunto:Conceitos Filosóficos, A Razão e seus Sentidos

A fonte do conceito de autonomia da arte é o pensamento estético de Kant. Praticamente tudo o que fazemos na vida é o oposto da apreciação estética, pois praticamente tudo o que fazemos serve para alguma coisa, ainda que apenas para satisfazer um desejo. Enquanto objeto de apreciação estética, uma coisa não obedece a essa razão instrumental: enquanto tal, ela não serve para nada, ela vale por si. As hierarquias que entram em jogo nas coisas que obedecem à razão instrumental, isto é, nas coisas de que nos servimos, não entram em jogo nas obras de arte tomadas enquanto tais. Sendo assim, a luta contra a autonomia da arte tem por fim submeter também a arte à razão instrumental, isto é, tem por fim recusar também à arte a dimensão em virtude da qual, sem servir para nada, ela vale por si. Trata-se, em suma, da luta pelo empobrecimento do mundo.
(Antonio Cícero. “A autonomia da arte”. Folha de S.Paulo, 13.12.2008. Adaptado.)
De acordo com a análise do autor,

A
a racionalidade instrumental, sob o ponto de vista da filosofia de Kant, fornece os fundamentos para a apreciação estética.
B
um mundo empobrecido seria aquele em que ocorre o esvaziamento do campo estético de suas qualidades intrínsecas.
C
a transformação da arte em espetáculo da indústria cultural é um critério adequado para a avaliação de sua condição autônoma.
D
o critério mais adequado para a apreciação estética consiste em sua validação pelo gosto médio do público consumidor.
E
a autonomia dos diversos tipos de obra de arte está prioritariamente subordinada à sua valorização como produto no mercado.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Alternativa correta: B

Tema central: autonomia da arte e a oposição entre apreciação estética e razão instrumental. Entender o conceito exige conhecer a noção kantiana de juízo estético (desinteresse, valor em si) e a crítica à redução da arte a fins utilitários.

Resumo teórico: Para Kant (Crítica do Julgamento, 1790), o juízo estético é desinteressado: apreciamos uma obra sem finalidade prática, apreciando-a por seu valor próprio. A autonomia da arte significa que ela não deve ser avaliada apenas por sua utilidade instrumental. Quando a arte é submetida a fins externos (mercado, propaganda, utilidade), perde qualidades intrínsecas e o mundo cultural empobrece — ideia presente no texto adaptado de Antonio Cícero.

Por que a alternativa B está correta: A opção afirma que um mundo empobrecido seria aquele em que o campo estético perde suas qualidades intrínsecas. Isso coincide exatamente com a análise do autor: submeter a arte à razão instrumental elimina seu valor por si — resulta num empobrecimento do mundo cultural. A resposta capta a relação entre perda de autonomia estética e empobrecimento.

Análise das alternativas incorretas

A — Incorreta. Afirma que a racionalidade instrumental fornece fundamentos para a apreciação estética. É o oposto do texto e de Kant: apreciação estética não se baseia em fins instrumentais, mas no desinteresse.

C — Incorreta. Diz que transformar arte em espetáculo da indústria cultural é critério adequado para avaliar sua autonomia. Na verdade, isso é um exemplo de perda de autonomia (submissão a fins comerciais), não um critério legítimo de autonomia.

D — Incorreta. Propõe validar a apreciação estética pelo gosto médio do público consumidor. O juízo estético kantiano não se reduz ao gosto médio; autonomia implica independência de padrões puramente utilitários ou mercadológicos.

E — Incorreta. Afirma subordinação prioritária da autonomia à valorização mercadológica. Isso contradiz a própria noção de autonomia: se a arte depende do mercado, deixa de ser autônoma.

Dica de prova: Procure palavras-chave: “autonomia”, “razão instrumental”, “vale por si”, “empobrecimento”. Em questões sobre estética, desconfiar de opções que transformam critérios estéticos em critérios utilitários ou mercadológicos — são frequentemente armadilhas.

Fontes recomendadas: Immanuel Kant, Crítica do Juízo (1790); comentários introdutórios em manuais de Estética e Filosofia da Arte.

Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!

Estatísticas

Questões para exercitar

Artigos relacionados

Dicas de estudo