A fonte do conceito de autonomia da arte é o pensamento
estético de Kant. Praticamente tudo o que fazemos na vida
é o oposto da apreciação estética, pois praticamente tudo
o que fazemos serve para alguma coisa, ainda que apenas
para satisfazer um desejo. Enquanto objeto de apreciação
estética, uma coisa não obedece a essa razão instrumental:
enquanto tal, ela não serve para nada, ela vale por si. As hierarquias
que entram em jogo nas coisas que obedecem à razão
instrumental, isto é, nas coisas de que nos servimos, não
entram em jogo nas obras de arte tomadas enquanto tais.
Sendo assim, a luta contra a autonomia da arte tem por fim
submeter também a arte à razão instrumental, isto é, tem por
fim recusar também à arte a dimensão em virtude da qual,
sem servir para nada, ela vale por si. Trata-se, em suma, da
luta pelo empobrecimento do mundo.
(Antonio Cícero. “A autonomia da arte”.
Folha de S.Paulo, 13.12.2008. Adaptado.)
De acordo com a análise do autor,
Gabarito comentado
Alternativa correta: B
Tema central: autonomia da arte e a oposição entre apreciação estética e razão instrumental. Entender o conceito exige conhecer a noção kantiana de juízo estético (desinteresse, valor em si) e a crítica à redução da arte a fins utilitários.
Resumo teórico: Para Kant (Crítica do Julgamento, 1790), o juízo estético é desinteressado: apreciamos uma obra sem finalidade prática, apreciando-a por seu valor próprio. A autonomia da arte significa que ela não deve ser avaliada apenas por sua utilidade instrumental. Quando a arte é submetida a fins externos (mercado, propaganda, utilidade), perde qualidades intrínsecas e o mundo cultural empobrece — ideia presente no texto adaptado de Antonio Cícero.
Por que a alternativa B está correta: A opção afirma que um mundo empobrecido seria aquele em que o campo estético perde suas qualidades intrínsecas. Isso coincide exatamente com a análise do autor: submeter a arte à razão instrumental elimina seu valor por si — resulta num empobrecimento do mundo cultural. A resposta capta a relação entre perda de autonomia estética e empobrecimento.
Análise das alternativas incorretas
A — Incorreta. Afirma que a racionalidade instrumental fornece fundamentos para a apreciação estética. É o oposto do texto e de Kant: apreciação estética não se baseia em fins instrumentais, mas no desinteresse.
C — Incorreta. Diz que transformar arte em espetáculo da indústria cultural é critério adequado para avaliar sua autonomia. Na verdade, isso é um exemplo de perda de autonomia (submissão a fins comerciais), não um critério legítimo de autonomia.
D — Incorreta. Propõe validar a apreciação estética pelo gosto médio do público consumidor. O juízo estético kantiano não se reduz ao gosto médio; autonomia implica independência de padrões puramente utilitários ou mercadológicos.
E — Incorreta. Afirma subordinação prioritária da autonomia à valorização mercadológica. Isso contradiz a própria noção de autonomia: se a arte depende do mercado, deixa de ser autônoma.
Dica de prova: Procure palavras-chave: “autonomia”, “razão instrumental”, “vale por si”, “empobrecimento”. Em questões sobre estética, desconfiar de opções que transformam critérios estéticos em critérios utilitários ou mercadológicos — são frequentemente armadilhas.
Fontes recomendadas: Immanuel Kant, Crítica do Juízo (1790); comentários introdutórios em manuais de Estética e Filosofia da Arte.
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