Leia o texto a seguir.
Rochedos audazes sobressaindo-se por assim dizer ameaçadores,
nuvens carregadas acumulando-se no céu,
avançando com relâmpagos e estampidos, vulcões em
sua inteira força destruidora, furacões com a devastação
deixada para trás, o ilimitado oceano revolto, uma alta
queda d’água de um rio poderoso etc. tornam nossa capacidade
de resistência de uma pequenez insignificante
em comparação com o seu poder. Mas o seu espetáculo
só se torna tanto mais atraente quanto mais terrível ele é,
contanto que, somente, nos encontremos em segurança;
e de bom grado denominamos estes objetos sublimes,
porque eles elevam a fortaleza da alma acima de seu nível
médio e permitem descobrir em nós uma faculdade de
resistência de espécie totalmente diversa, a qual encoraja
a medir-nos com a aparente onipotência da natureza.
(KANT, I. Crítica da Faculdade do Juízo. Trad. Antonio Marques e Valério
Rohden. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. p. 107.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o juízo
de gosto e o sublime na estética moderna, particularmente
em Kant, assinale a alternativa correta.
Gabarito comentado
Gabarito: Alternativa D
Tema central: o trecho de Kant trata do sublime estético — experiências diante de forças naturais que ameaçam, mas que trazem prazer quando estamos em segurança. A questão exige distinguir sublime de belo e localizar onde, para Kant, reside o sublime: não na coisa, mas na reação do sujeito.
Resumo teórico progressivo (Kant):
- Belo: juízo de gosto vinculado à forma e à finalidade sem fim, produz prazer desinteressado; análise mais ligada à harmonia das faculdades sensoriais e do entendimento.
- Sublime: surge diante do ilimitado ou da força avassaladora da natureza; provoca inicialmente medo, mas também uma elevação do ânimo quando percebemos que estamos seguros.
- Para Kant, o sublime não é uma propriedade objetiva da natureza: é uma experiência em que a razão e a consciência da própria superioridade moral/intuitiva se revelam — é, portanto, fenômeno subjetivo.
- Fonte principal: Immanuel Kant, Crítica da Faculdade do Juízo (Crítica do Juízo).
Por que a alternativa D está correta: afirma que "o sublime não está contido em nenhuma coisa da natureza, e sim em nosso ânimo, quando nos tornamos conscientes de nossa superioridade à natureza." Isso expressa a tese kantiana: o sublime é uma experiência subjetiva que revela a superioridade da razão/moralidade sobre a mera potência natural — corresponde ao sentido do trecho apresentado (prazer ao contemplar, estando em segurança, e apercepção de uma faculdade diferente de resistência).
Análise das alternativas incorretas:
- A — Errada: associa beleza à atividade do entendimento que "protege" o sujeito da destruição. Kant não vê o belo como defesa contra a natureza; o belo é prazer desinteressado, não uma apreensão conceitual que dá sentido a eventos ameaçadores.
- B — Errada: exagera ao dizer que elementos da natureza constituem o núcleo do juízo de gosto e parte essencial da concepção de gênio. O juízo de gosto não se reduz à natureza; o gênio relaciona-se à faculdade produtiva criativa, não diretamente aos elementos naturais.
- C — Errada: afirma que o interesse vem quando há possibilidade iminente de destruição. Pelo texto e por Kant, o prazer do sublime aparece precisamente quando estamos em segurança — não na iminência real de sermos destruídos.
- E — Errada: confunde faculdade: a "faculdade de resistência" evocada no texto refere-se à consciência da capacidade moral/rasão (sublime), não à faculdade produtora do belo.
Dica de prova: procure palavras-chave no enunciado: "em segurança", "eleva a fortaleza da alma", "faculdade de resistência" → remete a experiência subjetiva do sublime (consciência da superioridade), não a características objetivas das coisas nem ao belo.
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