Sócrates, Giordano Bruno e Galileu foram pensadores
que defenderam a liberdade de pensamento frente
às restrições impostas pela tradição. Na Apologia de
Sócrates, a acusação contra o filósofo é assim enunciada:
Sócrates [...] é culpado de corromper os moços e não
acreditar nos deuses que a cidade admite, além de aceitar
divindades novas (24b-c).
Ao final do escrito de Platão, Sócrates diz aos juízes:
Mas, está na hora de nos irmos: eu, para morrer; vós,
para viver. A quem tocou a melhor parte, é o que nenhum
de nós pode saber, exceto a divindade. (42a).
(PLATÃO. Apologia de Sócrates. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém:
EDUFPA, 2001. p. 122-23; 147.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a disputa
entre filosofia e tradição presente na condenação
de Sócrates, assinale a alternativa correta.
Gabarito comentado
Resposta correta: E
Tema central: a disputa entre a filosofia (liberdade de pensamento) e a tradição (normas religiosas e políticas) na condenação de Sócrates. É necessário conhecer a Apologia de Platão e o pensamento socrático sobre a vida examinada, a alma e a natureza da morte.
Resumo teórico e base textual: Sócrates defende que o objetivo da filosofia é cuidar da alma e buscar a verdade. Na Apologia ele explica que prefere seguir a verdade mesmo frente à sentença de morte; a morte não é automaticamente um mal — pode ser um sono sem sonhos ou a passagem para outro lugar onde se encontrará conhecimento (Apologia, 40-42a). Sua recusa em fugir decorre da fidelidade às leis e da convicção de que cometer injustiça (fugir) seria pior para a alma do que morrer.
Justificativa da alternativa E: A alternativa E corresponde ao sentido do texto: Sócrates aceita a sentença porque não considera a morte necessariamente um mal e por acreditar que o livre exercício do pensamento leva à compreensão dessas verdades sobre a alma e o destino. Ele valoriza a integridade moral e intelectual acima da vida física — tema claramente expresso em Platão, Apologia.
Por que as outras alternativas estão erradas:
A: afirma que há “desprezo pela vida” e “reconhecimento da soberania dos juízes”. Isso distorce: Sócrates não despreza a vida por si; ele valoriza o bem da alma. Tampouco reconhece a soberania moral dos juízes — ele os critica e mantém sua missão filosófica mesmo diante da condenação.
B: confunde aceitar o veredito com aceitar os argumentos dos acusadores. Sócrates aceita as consequências do processo, mas não confessa ter sido convencido pelos argumentos; mantém suas teses e sua defesa até o fim.
C: supõe que a acusação decorre da insuficiência dos argumentos de Sócrates e das “contradições do seu pensamento”. Na realidade, a acusação é política/religiosa (impiedade e corrupção dos jovens), fruto do conflito entre o modo filosófico socrático e as crenças tradicionais, não de contradições lógicas internas.
D: sugere que Sócrates prega o repúdio às instituições para favorecer a liberdade de pensamento. Sócrates critica práticas e crenças, mas não propõe abandonar instituições a qualquer custo; ele demonstra confiança no diálogo e no exame crítico, e respeita a lei ao não fugir — seu gesto é complexo, não simples repúdio institucional.
Dica de interpretação: procure na passagem indicativa (Apologia 40–42) frases sobre a morte como não necessariamente ruim e sobre a prioridade do cuidado com a alma. Distinga “aceitar uma pena” de “concordar com a acusação”. Sempre vincule alternativas ao sentido do texto e ao contexto histórico-filósofico.
Fontes: Platão, Apologia de Sócrates; Stanford Encyclopedia of Philosophy, entrada “Socrates”.
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