Questão 3d0af3e1-8d
Prova:UNESP 2011
Disciplina:Filosofia
Assunto:A Política

Analise o trecho da entrevista dada pelo chefe de imprensa do governo do Irã a um jornal brasileiro.

Folha – Há preocupação quanto a uma mudança de posição do governo brasileiro, sobretudo na área de direitos humanos, depois que a presidente Dilma se manifestou contrariamente ao apedrejamento de Sakineh?

Ali Akbar Javanfekr – Encontrei poucas informações sobre a realidade iraniana aqui no Brasil. Há notícias distorcidas e falsas. Isso é preocupante. Minha presença aqui é para tentar divulgar as informações corretas. No caso de Sakineh, informações que chegaram à presidente Dilma Rousseff não foram corretas.

Folha – A presidente Dilma está mal informada?

Ali Akbar Javanfekr – Sim. Foi mal informada sobre esse caso.

Folha – É verdade, como diz o presidente Ahmadinejad, que não há gays no Irã?

Ali Akbar Javanfekr – Não temos.

Folha – É o único país do mundo que não tem gay?

Ali Akbar Javanfekr – Na República Islâmica do Irã, não há.

Folha – Se houver, há punições?

Ali Akbar Javanfekr – Nossa visão sobre esse tema é diferente da de vocês. É um ato feio, que nenhuma das religiões divinas aceita. Temos a responsabilidade humana, até divina, de não aceitar esse tipo de comportamento. Existe uma ameaça sobre a saúde da humanidade. A Aids, por exemplo. Uma das raízes é esse tipo de relacionamento.

                                                                                               (Folha de S.Paulo, 14.03.2011. Adaptado.)

Sob o ponto de vista ético, as opiniões expressas no trecho da entrevista podem ser caracterizadas como


A
uma visão de mundo fortemente influenciada pelas matrizes liberais do pensamento filosófico.
B
uma posição convencionalmente associada ao pensamento politicamente correto.
C
uma visão de mundo fortemente influenciada pelo fundamentalismo religioso.
D
opiniões que expressam afinidade com o imperativo categórico kantiano.
E
posições condizentes com a valorização da consciência individual autônoma.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Alternativa correta: C — uma visão de mundo fortemente influenciada pelo fundamentalismo religioso.

Tema central: a questão pede identificar, do ponto de vista ético, que matriz explica as opiniões do representante iraniano. É preciso reconhecer se a justificativa moral vem de autoridade religiosa, de princípios liberais, do discurso de “politicamente correto”, de uma ética kantiana ou da ênfase na autonomia individual.

Resumo teórico curto: o fundamentalismo religioso caracteriza-se por leitura literal de textos sagrados, autoridade divina como fonte de norma e rejeição da pluralidade moral. Essa postura promove proibições morais sustentadas em tradição religiosa, não em princípios racionais seculares (ver: Encyclopedia Britannica, entrada “Religious fundamentalism”).

Por que a alternativa C é correta: as afirmações do porta-voz ancoram-se em justificativas religiosas (“responsabilidade... divina”), descrevem comportamentos como moralmente repugnantes e apresentam proibições/ameaças à saúde como fundamento moral — marca típica do fundamentalismo religioso, que confere validade normativa a preceitos religiosos e não a argumentos racionais ou à defesa de direitos individuais.

Análise das alternativas incorretas:

A (matrizes liberais) — O liberalismo enfatiza direitos individuais, liberdade e tolerância; portanto, posições que criminalizam ou moralizam condutas privadas por autoridade religiosa são contrárias ao liberalismo.

B (politicamente correto) — O “politicamente correto” tende a proteger minorias e promover linguagem e atitudes inclusivas; a condenação religiosa e a estigmatização de grupos não se alinham com esse perfil.

D (imperativo categórico kantiano) — O kantismo funda-se na razão prática e na universalização de máximas, tratando a pessoa como fim em si mesma. A justificativa baseada em sanção divina e temor à “saúde da humanidade” não corresponde ao formalismo racional kantiano.

E (valorização da consciência individual autônoma) — A ênfase na autonomia moral individual implica liberdade de consciência; a imposição de normas religiosas e a negação da legitimidade de escolhas pessoais contradizem essa posição.

Estratégia para provas: busque palavras-chave que indiquem a fonte da autoridade (ex.: “divina”, “proibição”, “ameaça à saúde”); identifique se o argumento é religioso/tradicional ou baseado em direitos/razão. Elimine alternativas que representem o oposto lógico (liberalismo, autonomia, kantismo).

Referências: Encyclopaedia Britannica (religious fundamentalism); Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes (para contraste).

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