Analise o trecho da entrevista dada pelo chefe de imprensa do
governo do Irã a um jornal brasileiro.
Folha – Há preocupação quanto a uma mudança de posição
do governo brasileiro, sobretudo na área de direitos humanos,
depois que a presidente Dilma se manifestou contrariamente
ao apedrejamento de Sakineh?
Ali Akbar Javanfekr – Encontrei poucas informações sobre a
realidade iraniana aqui no Brasil. Há notícias distorcidas e
falsas. Isso é preocupante. Minha presença aqui é para tentar
divulgar as informações corretas. No caso de Sakineh, informações
que chegaram à presidente Dilma Rousseff não foram
corretas.
Folha – A presidente Dilma está mal informada?
Ali Akbar Javanfekr – Sim. Foi mal informada sobre esse caso.
Folha – É verdade, como diz o presidente Ahmadinejad, que
não há gays no Irã?
Ali Akbar Javanfekr – Não temos.
Folha – É o único país do mundo que não tem gay?
Ali Akbar Javanfekr – Na República Islâmica do Irã, não há.
Folha – Se houver, há punições?
Ali Akbar Javanfekr – Nossa visão sobre esse tema é diferente
da de vocês. É um ato feio, que nenhuma das religiões divinas
aceita. Temos a responsabilidade humana, até divina, de não
aceitar esse tipo de comportamento. Existe uma ameaça sobre
a saúde da humanidade. A Aids, por exemplo. Uma das raízes
é esse tipo de relacionamento.
(Folha de S.Paulo, 14.03.2011. Adaptado.)
Sob o ponto de vista ético, as opiniões expressas no trecho da
entrevista podem ser caracterizadas como
Folha – Há preocupação quanto a uma mudança de posição do governo brasileiro, sobretudo na área de direitos humanos, depois que a presidente Dilma se manifestou contrariamente ao apedrejamento de Sakineh?
Ali Akbar Javanfekr – Encontrei poucas informações sobre a realidade iraniana aqui no Brasil. Há notícias distorcidas e falsas. Isso é preocupante. Minha presença aqui é para tentar divulgar as informações corretas. No caso de Sakineh, informações que chegaram à presidente Dilma Rousseff não foram corretas.
Folha – A presidente Dilma está mal informada?
Ali Akbar Javanfekr – Sim. Foi mal informada sobre esse caso.
Folha – É verdade, como diz o presidente Ahmadinejad, que não há gays no Irã?
Ali Akbar Javanfekr – Não temos.
Folha – É o único país do mundo que não tem gay?
Ali Akbar Javanfekr – Na República Islâmica do Irã, não há.
Folha – Se houver, há punições?
Ali Akbar Javanfekr – Nossa visão sobre esse tema é diferente da de vocês. É um ato feio, que nenhuma das religiões divinas aceita. Temos a responsabilidade humana, até divina, de não aceitar esse tipo de comportamento. Existe uma ameaça sobre a saúde da humanidade. A Aids, por exemplo. Uma das raízes é esse tipo de relacionamento.
(Folha de S.Paulo, 14.03.2011. Adaptado.)
Sob o ponto de vista ético, as opiniões expressas no trecho da entrevista podem ser caracterizadas como
Gabarito comentado
Alternativa correta: C — uma visão de mundo fortemente influenciada pelo fundamentalismo religioso.
Tema central: a questão pede identificar, do ponto de vista ético, que matriz explica as opiniões do representante iraniano. É preciso reconhecer se a justificativa moral vem de autoridade religiosa, de princípios liberais, do discurso de “politicamente correto”, de uma ética kantiana ou da ênfase na autonomia individual.
Resumo teórico curto: o fundamentalismo religioso caracteriza-se por leitura literal de textos sagrados, autoridade divina como fonte de norma e rejeição da pluralidade moral. Essa postura promove proibições morais sustentadas em tradição religiosa, não em princípios racionais seculares (ver: Encyclopedia Britannica, entrada “Religious fundamentalism”).
Por que a alternativa C é correta: as afirmações do porta-voz ancoram-se em justificativas religiosas (“responsabilidade... divina”), descrevem comportamentos como moralmente repugnantes e apresentam proibições/ameaças à saúde como fundamento moral — marca típica do fundamentalismo religioso, que confere validade normativa a preceitos religiosos e não a argumentos racionais ou à defesa de direitos individuais.
Análise das alternativas incorretas:
A (matrizes liberais) — O liberalismo enfatiza direitos individuais, liberdade e tolerância; portanto, posições que criminalizam ou moralizam condutas privadas por autoridade religiosa são contrárias ao liberalismo.
B (politicamente correto) — O “politicamente correto” tende a proteger minorias e promover linguagem e atitudes inclusivas; a condenação religiosa e a estigmatização de grupos não se alinham com esse perfil.
D (imperativo categórico kantiano) — O kantismo funda-se na razão prática e na universalização de máximas, tratando a pessoa como fim em si mesma. A justificativa baseada em sanção divina e temor à “saúde da humanidade” não corresponde ao formalismo racional kantiano.
E (valorização da consciência individual autônoma) — A ênfase na autonomia moral individual implica liberdade de consciência; a imposição de normas religiosas e a negação da legitimidade de escolhas pessoais contradizem essa posição.
Estratégia para provas: busque palavras-chave que indiquem a fonte da autoridade (ex.: “divina”, “proibição”, “ameaça à saúde”); identifique se o argumento é religioso/tradicional ou baseado em direitos/razão. Elimine alternativas que representem o oposto lógico (liberalismo, autonomia, kantismo).
Referências: Encyclopaedia Britannica (religious fundamentalism); Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes (para contraste).
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