Questão 3cfb5f94-8d
Prova:UNESP 2011
Disciplina:Filosofia
Assunto:Maquiavel e O Príncipe, A Política

Analise o texto político, que apresenta uma visão muito próxima de importantes reflexões do filósofo italiano Maquiavel, um dos primeiros a apontar que os domínios da ética e da política são práticas distintas.

        “A política arruína o caráter", disse Otto von Bismarck (1815-1898), o “chanceler de ferro" da Alemanha, para quem mentir era dever do estadista. Os ditadores que agora enojam o mundo ao reprimir ferozmente seus próprios povos nas praças árabes foram colocados e mantidos no poder por nações que se enxergam como faróis da democracia e dos direitos humanos: Estados Unidos, Inglaterra e França. Isso é condenável? Os ditadores eram a única esperança do Ocidente de continuar tendo acesso ao petróleo árabe e de manter um mínimo de informação sobre as organizações terroristas islâmicas. Antes de condenar, reflita sobre a frase do mais extraordinário diplomata americano do século passado, George Kennan, morto aos 101 anos em 2005: “As sociedades não vivem para conduzir sua política externa: seria mais exato dizer que elas conduzem sua política externa para viver".

                                                                                                                    (Veja, 02.03.2011. Adaptado.)

A associação entre o texto e as ideias de Maquiavel pode ser feita, pois o filósofo


A
considerava a ditadura o modelo mais apropriado de governo, sendo simpático à repressão militar sobre populações civis.
B
foi um dos teóricos da democracia liberal, demonstrando-se avesso a qualquer tipo de manifestação de autoritarismo por parte dos governantes.
C
foi um dos teóricos do socialismo científico, respaldando as ideias de Marx e Engels.
D
foi um pensador escolástico que preconizou a moralidade cristã como base da vida política.
E
refletiu sobre a política através de aspectos prioritariamente pragmáticos.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Resposta correta: E

1. Tema central
A questão exige reconhecer a afinidade entre o trecho apresentado e a tradição maquiavélica: a distinção entre moral privada e ações políticas, isto é, uma abordagem pragmática da política. Identificar esse traço é essencial para provas de teoria política.

2. Resumo teórico
Maquiavel (Il Principe; Discorsi) inaugurou o chamado realismo político: avalia a eficácia e a conservação do poder como prioridade, sugerindo que juízos morais privados nem sempre se aplicam à ação estatal. Sua preocupação é com resultados políticos e estabilidade, não com adesão a uma moral cristã abstrata.

3. Fontes
Principais referências: Niccolò Machiavelli, Il Principe (1513) e Discorsi sopra la prima deca di Tito Livio. Para contextualização moderna: estudos sobre realismo político e razão de Estado.

4. Justificativa da alternativa correta (E)
A alternativa E afirma que Maquiavel refletiu sobre a política por vias prioritariamente pragmáticas. Isso é coerente com sua tese de que o governante deve agir conforme as exigências da conservação do poder e do bem comum político, usando meios que a moral privada poderia reprovar — tema diretamente relacionado ao texto de apoio.

5. Análise das alternativas incorretas
A — Incorreta: Maquiavel não defendeu explicitamente "ditadura" como modelo único; analisou diversos regimes e as estratégias necessárias para manter o poder, sem advocacia simples por repressão absoluta.
B — Incorreta: Não foi teórico da democracia liberal; seu foco não é direitos liberais ou representação moderna, mas eficácia política e estabilidade.
C — Incorreta: Não tem relação com o socialismo científico; escreveu séculos antes de Marx e não baseou sua teoria em luta de classes ou materialismo histórico.
D — Incorreta: Não é escolástico cristão; critica a aplicação acrítica da moral cristã à política e separa moral privada e ação estatal.

6. Estratégia de prova
Procure palavras-chave: “pragmático”, “ética vs. política”, “realismo político”. Elimine alternativas que atribuem a Maquiavel posições anacrônicas (socialismo) ou contrárias ao seu método (moralismo cristão, defesa estrita da democracia liberal).

Boa prática: relacione sempre a ideia central do enunciado com conceitos clássicos (aqui: realismo/razão de Estado) antes de ler alternativas — isso evita cair em pegadinhas.

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