Questão 330c9998-dd
Prova:IF-PR 2018
Disciplina:Filosofia
Assunto:Formas de Governo: Democracia e Representatividade, A Política

   “Odeio os indiferentes (...) Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. (...) A indiferença é o peso morto da história. É a bola de chumbo para o inovador, é a matéria inerte na qual freqüentemente se afogam os entusiasmos mais esplendorosos. (...) A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. (...) O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se deve tanto à iniciativa dos poucos que atuam, quanto à indiferença de muitos. (...) Os fatos amadurecem na sombra porque mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões restritas, os objetivos imediatos, as ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens ignora, porque não se preocupa”. (GRAMSCI)

A partir do texto acima e da perspectiva de análise filosófica sobre política, participação e cidadania, podemos inferir que: 

A
infelizmente, não dispomos em nossa época de verdadeiros “salvadores da patria”, que possam garantir um futuro melhor enquanto nação.
B
o fortalecimento e endurecimento das leis poderão nos trazer um futuro de fato alicerçado na ordem e progresso.
C
 os destinos de uma época, povo ou nação, são cuidadosamente pensados e garantidos, a partir da ação individual de sujeitos comprometidos com a coletividade.
D
a análise sobre a histórica e cultural indiferença com a política em nosso país, bem como a análise dos mecanismos que sustentam essa indiferença, nos ajudam a melhor compreender a situação política em que nos encontramos.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Alternativa correta: D

Tema central: análise filosófico-política da indiferença cidadã e suas consequências para a vida pública. É importante compreender como a ausência de participação transforma a arena política e permite a ação de pequenos grupos com impacto coletivo (tema recorrente em Gramsci).

Resumo teórico: Antonio Gramsci, em seus Cadernos do Cárcere, alerta que a indiferença coletiva funciona como força passiva que permite a manipulação dos destinos históricos por minorias ativas. Em teoria política, participação e cidadania (CF/88, arts. 1º e 14) são condicionantes para legitimidade democrática: o engajamento fortalece controle social e responsabilização dos governantes.

Justificativa da alternativa D: A alternativa D capta plenamente a ideia do texto: propor a análise histórica e dos mecanismos da indiferença para compreender a situação política atual. Isso segue a interpretação gramsciana — investigar as causas da apatia coletiva revela por que elites ou grupos restritos podem dominar decisões públicas.

Análise das alternativas incorretas:

A: Afirma ausência de “salvadores da pátria” — leitura equivocada; o texto não propõe messianismo, mas responsabilização coletiva. Gramsci critica a passividade, não defende a busca por heróis.

B: Propõe endurecimento das leis como solução — simplificação normativa que ignora a raiz social da indiferença. Leis são necessárias, mas sem participação e controle social permanecem ineficazes.

C: Diz que destinos são garantidos pela ação individual comprometida — contrária ao texto: Gramsci aponta que são pequenos grupos ativos, não indivíduos isolados, que manipulam situações quando a massa é indiferente.

Dica de prova: busque palavras-chave no enunciado (ex.: indiferença, massa, mãos que tecem) e conecte-as a autores/valores (participação, controle social). Desconfie de alternativas que ofereçam soluções simplistas ou extrapolem o foco do texto.

Fontes: Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere; Constituição Federal de 1988, arts. 1º e 14 (sobre soberania popular e participação).

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