Leia o texto a seguir.
Certamente, a brusca mudança de direção que encontramos nas reflexões de Maquiavel, em comparação
com os humanistas anteriores, explica-se em larga medida pela nova realidade política que se criara em
Florença e na Itália, mas também pressupõe uma grande crise de valores morais que começava a grassar.
Ela não apenas constatava a divisão entre “ser” e “dever ser”, mas também elevava essa divisão a princípio e
a colocava como base da nova visão dos fatos políticos.
(REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia. São Paulo: Paulinas, 1990. V. II, p. 127.)
Dentre as contribuições de Maquiavel à Filosofia Política, é correto afirmar:
Gabarito comentado
Alternativa correta: E
Tema central: a questão avalia a contribuição de Maquiavel à filosofia política — especialmente a ruptura com a moral cristã tradicional e a autonomia do poder civil frente à autoridade religiosa.
Resumo teórico: Maquiavel distingue o "ser" do "dever ser": observa a política tal como ela é (realismo político), não como deveria ser segundo preceitos morais. Em obras-chave — O Príncipe e os Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio — ele descreve práticas de governo e legitimidade sem subordinar o poder civil à Igreja, propondo uma ética política voltada para a eficácia e estabilidade do Estado (Reale & Antiseri, História da Filosofia).
Justificativa da alternativa E: Ao afirmar que Maquiavel “rompeu o vínculo de dependência entre o poder civil e a autoridade religiosa”, a alternativa capta sua inovação central: separar a orientação normativa religiosa da arte de governar, conferindo ao príncipe/República autonomia para decidir segundo interesses políticos e não exclusivamente segundo mandamentos religiosos. Isso inaugura a modernidade política.
Análise das alternativas incorretas:
A — Inaugurou a constituição do Estado ideal: errado. Maquiavel não desenha um “Estado ideal” normativo; descreve como conquistar e manter o poder na realidade concreta.
B — Estabeleceu critérios para consolidar governo tirânico: equivocado. Ele analisa meios que tiranos usam, mas não formula um manual para tirania — seu foco é eficácia e conservação do poder, aplicáveis tanto a príncipes bons quanto a regimes fortes.
C — Consolidou a tábua de virtudes do bom homem: incorreto. Sua noção de virtù refere-se à capacidade de ação política eficaz, não a um código moral tradicional.
D — Fundou procedimentos de verificação da correção das normas: não procede. Maquiavel não institui métodos de validação normativa; ele descreve práticas e causas históricas, não uma teoria normativa de correção.
Dica de prova: ao ler alternativas, procure palavras-chave como "ideal", "tábua de virtudes", "verificação de normas" (remetem a tradição normativa), contrastando com termos como "rompeu vínculo" ou "autonomia", que apontam para Maquiavel.
Fontes principais: Maquiavel, O Príncipe e Discursos; Reale & Antiseri, História da Filosofia.
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