Questão 05d4eefe-bf
Prova:
Disciplina:
Assunto:
Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demonstra o vínculo entre o seu pensamento político e o humanismo renascentista ao
Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demonstra o vínculo entre o seu pensamento político e o humanismo renascentista ao
A
valorizar a interferência divina nos acontecimentos definidores do seu tempo.
B
rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos.
C
afirmar a confiança na razão autônoma como fundamento da ação humana.
D
romper com a tradição que valorizava o passado como fonte de aprendizagem.
E
redefinir a ação política com base na unidade entre fé e razão.
Gabarito comentado
M
Michel MelloMestre em Filosofia (PUC-Rio), Mestre e Doutor em Filosofia (Universidade de Basel / Suiça)
A questão aparentemente traz a problemática do pensamento social de Maquiavel, todavia há aqui algo além no comentário abaixo do texto do autor: o humanismo renascentista. O Renascimento é uma das fases mais interessantes e polêmicas da história da Filosofia. A tradição filosófica o classifica como o início da Filosofia moderna, todavia existem três teses que postulam relações distintas:
a) Renascimento como auge do pensamento medieval;
b) Renascimento como um movimento filosófico-espiritual distinto tanto do Medievo como da Modernidade;
c) Renascimento como o início do pensamento moderno.
Aqui, para efeito de estudos, mantemos a opção “c” como reguladora metodológica. Assim, o Renascimento pode ser considerado como o início do rompimento com o pensamento clássico, ou seja, greco-cristão. Maquiavel se encontra nesse momento que defende o chamado antropocentrismo, ou seja, o homem como centro das indagações filosófico-científicas. Segundo a tradição, que coloca o pensamento e reflexão de outro renascentista, Nicolau de Cusa, é o homem que passa a ser o centro do universo e não mais Deus. Isso se dá devido à volta aos parâmetros de arte greco-romanos, que valorizam mais as formas humanas do que a divina. Observamos isso nas obras de arte, como por exemplo, um quadro de um nobre medieval pode ser retrato como um santo e uma escultura da Virgem Maria, por exemplo na Pietá, tem traços completamente humanos. Isso leva a um início cada vez maior da confiança do homem na razão, elemento que terá seu auge no Iluminismo. É importante ressaltar aqui também o pensamento da Reforma Protestante, sobretudo Lutero, que defendia o “servo-arbítrio”: podes pecar muito, mas reze mais ainda, dizia o reformador. Nesse contexto histórico-filosófico temos a necessidade de reafirmar-se a doutrina escolástica do livre-arbítrio, que Deus cria o homem com vontade livre.
a) A alternativa “a” está errada por base no próprio texto, que coloca metade dos acontecimentos para a sorte (fortuna, em latim, que pode ser compreendida como destino ou vontade divina e até mesmo com a vontade de Deus) e a outra para o homem.
b) A alternativa “b” também está errada devido à mesma observação feita acima.
c) A alternativa “c” está correta porque afirma o espírito renascentista do antropocentrismo.
d) A alternativa “d” parece correta, numa visão limitada sobre o Renascimento, mas está errada a partir do próprio texto que defende metade da imputabilidade das ações a Deus e aos homens, logo não é rompimento absoluto com a Escolástica, mas afirmação do livre-arbítrio. Na opinião deste professor está confuso aqui se a resposta do gabarito for “c”, pois dá essa também a entender que é uma ruptura absoluta com a tradição medieval, na qual o Renascimento tem ligação direta, quer por criticá-la, quer por ter nela sua origem histórica.
e) A alternativa “e” está errada, de acordo com o texto que divide a causa eficiente da ações humanas e a tendência interpretativa da própria questão. Além disso, o candidato deve ter conhecimento que é nesse período que se começa a separação, ainda que não totalmente, entre fé e razão devido ao surgimento da ciências empíricas, ou melhor, ao estabelecimento de uma ciência distinta da filosófica: a empírica.
a) Renascimento como auge do pensamento medieval;
b) Renascimento como um movimento filosófico-espiritual distinto tanto do Medievo como da Modernidade;
c) Renascimento como o início do pensamento moderno.
Aqui, para efeito de estudos, mantemos a opção “c” como reguladora metodológica. Assim, o Renascimento pode ser considerado como o início do rompimento com o pensamento clássico, ou seja, greco-cristão. Maquiavel se encontra nesse momento que defende o chamado antropocentrismo, ou seja, o homem como centro das indagações filosófico-científicas. Segundo a tradição, que coloca o pensamento e reflexão de outro renascentista, Nicolau de Cusa, é o homem que passa a ser o centro do universo e não mais Deus. Isso se dá devido à volta aos parâmetros de arte greco-romanos, que valorizam mais as formas humanas do que a divina. Observamos isso nas obras de arte, como por exemplo, um quadro de um nobre medieval pode ser retrato como um santo e uma escultura da Virgem Maria, por exemplo na Pietá, tem traços completamente humanos. Isso leva a um início cada vez maior da confiança do homem na razão, elemento que terá seu auge no Iluminismo. É importante ressaltar aqui também o pensamento da Reforma Protestante, sobretudo Lutero, que defendia o “servo-arbítrio”: podes pecar muito, mas reze mais ainda, dizia o reformador. Nesse contexto histórico-filosófico temos a necessidade de reafirmar-se a doutrina escolástica do livre-arbítrio, que Deus cria o homem com vontade livre.
a) A alternativa “a” está errada por base no próprio texto, que coloca metade dos acontecimentos para a sorte (fortuna, em latim, que pode ser compreendida como destino ou vontade divina e até mesmo com a vontade de Deus) e a outra para o homem.
b) A alternativa “b” também está errada devido à mesma observação feita acima.
c) A alternativa “c” está correta porque afirma o espírito renascentista do antropocentrismo.
d) A alternativa “d” parece correta, numa visão limitada sobre o Renascimento, mas está errada a partir do próprio texto que defende metade da imputabilidade das ações a Deus e aos homens, logo não é rompimento absoluto com a Escolástica, mas afirmação do livre-arbítrio. Na opinião deste professor está confuso aqui se a resposta do gabarito for “c”, pois dá essa também a entender que é uma ruptura absoluta com a tradição medieval, na qual o Renascimento tem ligação direta, quer por criticá-la, quer por ter nela sua origem histórica.
e) A alternativa “e” está errada, de acordo com o texto que divide a causa eficiente da ações humanas e a tendência interpretativa da própria questão. Além disso, o candidato deve ter conhecimento que é nesse período que se começa a separação, ainda que não totalmente, entre fé e razão devido ao surgimento da ciências empíricas, ou melhor, ao estabelecimento de uma ciência distinta da filosófica: a empírica.