Questõesde UFJF
Leia atentamente o rótulo de um soro infantil:
Se observarmos as recomendações do fabricante e administrarmos a dose máxima diária, qual será a massa (em
gramas) de cloreto de potássio ingerida por uma criança de 18 kg em um dia?
Leia atentamente o rótulo de um soro infantil:
Se observarmos as recomendações do fabricante e administrarmos a dose máxima diária, qual será a massa (em
gramas) de cloreto de potássio ingerida por uma criança de 18 kg em um dia?
Os diferentes tipos de chocolate (amargo, ao leite e branco) têm em sua composição algumas
moléculas orgânicas como mostrado no quadro abaixo:
Em relação a essas moléculas, assinale a alternativa CORRETA:
Os diferentes tipos de chocolate (amargo, ao leite e branco) têm em sua composição algumas moléculas orgânicas como mostrado no quadro abaixo:
Em relação a essas moléculas, assinale a alternativa CORRETA:
O mergulho em cavernas é uma atividade de alto risco. No gerenciamento do gás em mergulho em
cavernas, utiliza-se a regra do 1/3: divide-se a quantidade de gás contido no cilindro de mergulho por 3, dos quais 1/3
do gás será consumido no caminho de ida, 1/3 é usado no caminho de volta (para sair da caverna) e o 1/3 restante
fica como segurança, para ser usado em cenários de emergência. Considere um mergulhador que entre em uma
caverna possuindo 240 atmosferas de gás em um cilindro de capacidade igual a 0,006 m3
. Após consumir um terço do
gás, inicia imediatamente o regresso. Suponha que o consumo de gás pelo mergulhador seja constante durante todo
o trajeto e que a temperatura no interior da caverna seja de 20 °C. O número de mols de gás que restará no cilindro
ao sair da caverna será (dado R = 0,082 atm.L / K.mol):
O nitrato de potássio é um composto químico sólido, bastante solúvel em água, muito utilizado em
explosivos, estando presente na composição da pólvora, por exemplo. Uma equação termoquímica balanceada para a
queima da pólvora é representada abaixo:
Assinale a alternativa que representa a interpretação correta da equação termoquímica para a queima da pólvora:
O nitrato de potássio é um composto químico sólido, bastante solúvel em água, muito utilizado em explosivos, estando presente na composição da pólvora, por exemplo. Uma equação termoquímica balanceada para a queima da pólvora é representada abaixo:
Assinale a alternativa que representa a interpretação correta da equação termoquímica para a queima da pólvora:
A figura abaixo corresponde à planificação de um determinado poliedro:
O número de vértices desse poliedro é
A figura abaixo corresponde à planificação de um determinado poliedro:
O número de vértices desse poliedro é
Um terreno plano, em forma do quadrilátero , possui um de seus lados medindo 90 m, os lados paralelos e dois ângulos opostos medindo 30° e 60°. Além disso, a diagonal desse terreno forma 45° com o lado
A medida do menor lado desse terreno, em metros, é
Um terreno plano, em forma do quadrilátero , possui um de seus lados medindo 90 m, os lados paralelos e dois ângulos opostos medindo 30° e 60°. Além disso, a diagonal desse terreno forma 45° com o lado
A medida do menor lado desse terreno, em metros, é
No plano cartesiano abaixo, estão representados os gráficos das funções , definida por , definida por
Os elementos do domínio dessas funções para os quais se tem são
No plano cartesiano abaixo, estão representados os gráficos das funções , definida por , definida por
Os elementos do domínio dessas funções para os quais se tem são
Leia o texto abaixo e marque a opção CORRETA:
Em análise sobre os anos 1980, BRUNO (2002) mencionava o filme O ovo da serpente (1977), de Ingmar Bergman,
obra que associava o momento político da Alemanha nos anos 1920 ao amadurecimento do nazismo. A autora
identificava o aumento da violência no campo e a multiplicação dos grupos de defesa da propriedade como sinais de
que “algo estava no ar”. [...] Três décadas após a redemocratização no Brasil, a serpente já se arrasta e o ar da
democracia torna-se mais rarefeito. Paradoxalmente, aqueles grupos que se mobilizavam em torno da União
Democrática Ruralista (UDR) ganharam força simbólica no Congresso, se institucionalizaram – principalmente na
Frente Parlamentar da Agropecuária (vulgo “bancada ruralista”) – e conseguem, nesses espaços institucionais,
terreno fértil para a redução de direitos sociais.
Essa frente parlamentar foi decisiva na derrubada da presidente Dilma Rousseff, em 2016, e na manutenção, nesse
mesmo ano, do presidente Michel Temer no poder. Mais do que isso: diante dos serviços prestados, esses deputados
e senadores vêm protagonizando uma pedalada autoritária contra os povos originários e tradicionais do Brasil, por
meio da criminalização – como nas CPIs da Funai e do Incra – e da tentativa de eliminação, de apagamento das
expressões no campo que não sejam aquelas do agronegócio. A campanha “O Agro é Pop”, da Rede Globo, elimina a
palavra “negócio” e celebra um modelo que os políticos buscam tornar cada vez mais hegemônico no Congresso. Os
modelos camponês e indígena são invisibilizados.
(Texto adaptado. CASTILHO, Alceu. A serpente fora do ovo: a frente do agronegócio e o supremacismo ruralista. Revista OKARA, v. 12, n. 2,
UFPB, 2018. Disponível em: <http://www.periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/okara/article/view/41337/20731> . Acesso em: 19 ago. 2018.)
Leia o texto abaixo e marque a opção CORRETA:
Em análise sobre os anos 1980, BRUNO (2002) mencionava o filme O ovo da serpente (1977), de Ingmar Bergman, obra que associava o momento político da Alemanha nos anos 1920 ao amadurecimento do nazismo. A autora identificava o aumento da violência no campo e a multiplicação dos grupos de defesa da propriedade como sinais de que “algo estava no ar”. [...] Três décadas após a redemocratização no Brasil, a serpente já se arrasta e o ar da democracia torna-se mais rarefeito. Paradoxalmente, aqueles grupos que se mobilizavam em torno da União Democrática Ruralista (UDR) ganharam força simbólica no Congresso, se institucionalizaram – principalmente na Frente Parlamentar da Agropecuária (vulgo “bancada ruralista”) – e conseguem, nesses espaços institucionais, terreno fértil para a redução de direitos sociais.
Essa frente parlamentar foi decisiva na derrubada da presidente Dilma Rousseff, em 2016, e na manutenção, nesse mesmo ano, do presidente Michel Temer no poder. Mais do que isso: diante dos serviços prestados, esses deputados e senadores vêm protagonizando uma pedalada autoritária contra os povos originários e tradicionais do Brasil, por meio da criminalização – como nas CPIs da Funai e do Incra – e da tentativa de eliminação, de apagamento das expressões no campo que não sejam aquelas do agronegócio. A campanha “O Agro é Pop”, da Rede Globo, elimina a palavra “negócio” e celebra um modelo que os políticos buscam tornar cada vez mais hegemônico no Congresso. Os modelos camponês e indígena são invisibilizados.
(Texto adaptado. CASTILHO, Alceu. A serpente fora do ovo: a frente do agronegócio e o supremacismo ruralista. Revista OKARA, v. 12, n. 2,
UFPB, 2018. Disponível em: <http://www.periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/okara/article/view/41337/20731>
As notas de 10 candidatos em um concurso público estão listadas no quadro abaixo:
Serão considerados aprovados somente os candidatos cuja nota for superior à média e maior ou igual à mediana da
distribuição das notas de todos os candidatos.
O número de candidatos aprovados nesse concurso é
As notas de 10 candidatos em um concurso público estão listadas no quadro abaixo:
Serão considerados aprovados somente os candidatos cuja nota for superior à média e maior ou igual à mediana da distribuição das notas de todos os candidatos.
O número de candidatos aprovados nesse concurso é
1
“Troco um carro novo com tanque vazio por um usado com tanque cheio! E um amigo troca um rim
por 1 litro de gasolina. E outro troca a sogra por 1 litro de gasolina. E pode ficar com a gasolina! Rarará!
O Meirelles aumenta a gasolina porque que a gente não tem posto, só levado! Rarará!
E o chargista Brum: ‘Saudades de entrar num posto e gritar COMPLETA!’. Vamos na banguela! Rarará!”
(SIMÃO, José. E a gasolina! Nóis vai na banguela! Folha de São Paulo, São Paulo, 22 mai. 2018. Ilustrada, p.C5. Disponível em:<https://www1.folha.uol.com.br/colunas/josesimao/2018/05/e-a-gasolina-nois-vai-na-banguela.shtml>
. Acesso em: 20 ago. 2018.)
Em 19 de maio de 2018 entrou em vigor o quinto reajuste diário consecutivo do diesel: a Petrobras elevou os preços
desse combustível em 0,80% e os da gasolina em 1,34% nas refinarias. Como consequência, dois dias depois, os
caminhoneiros e as transportadoras paralisaram a circulação de cargas no país, movimento que durou 10 dias, sendo
classificado por alguns como greve e, por outros, como locaute. Os impactos foram atrozes para a economia do país,
bem como para toda população que vivenciou o desabastecimento de combustíveis e alimentos, a paralisação de
aeroportos, dentre outros problemas.
(Texto adaptado. Disponível em<https://g1.globo.com/economia/noticia/cronologia-greve-dos-caminhoneiros.ghtml>: . Acesso em: 20 ago.
2018.)
Sobre a greve dos caminhoneiros de 2018 no Brasil, pode-se afirmar que:
“Troco um carro novo com tanque vazio por um usado com tanque cheio! E um amigo troca um rim por 1 litro de gasolina. E outro troca a sogra por 1 litro de gasolina. E pode ficar com a gasolina! Rarará!
O Meirelles aumenta a gasolina porque que a gente não tem posto, só levado! Rarará!
E o chargista Brum: ‘Saudades de entrar num posto e gritar COMPLETA!’. Vamos na banguela! Rarará!”
(SIMÃO, José. E a gasolina! Nóis vai na banguela! Folha de São Paulo, São Paulo, 22 mai. 2018. Ilustrada, p.C5. Disponível em:<https://www1.folha.uol.com.br/colunas/josesimao/2018/05/e-a-gasolina-nois-vai-na-banguela.shtml>
Leia o texto e responda:
Segundo pesquisa do IBGE, a proporção de famílias formadas por casais sem filhos cresceu 33% no Brasil entre 2004 e
2013. Ao longo desse período, houve queda de 13,7% na proporção dos casais com filhos (de 50,9% para 43,9%). Já o número de casais sem herdeiros cresceu de 14,6% para 19,4%. Em 2013, um em cada cinco casais brasileiros não tinha filhos, de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais 2014.
A tendência de queda no número da taxa de natalidade não é nova. O número de filhos por mulher vem se reduzindo
desde a década de 1960, a exemplo do que ocorreu também em vários outros países. Se em 1970 as brasileiras tinham, em média, 5,8 filhos, hoje esse número não chega a 2. O número de nascimentos caiu 13,3% entre 2000 e 2012, quando o número de filhos por mulher foi de 1,77 - contra 2,29 em relação ao período anterior.
(Texto adaptado. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/17/politica/1424196059_041074.html>. Acesso em: 05 ago. 2018.)
As mudanças verificadas no Brasil, apresentadas na reportagem, ocasionam qual comportamento demográfico?
Leia o texto e responda:
Segundo pesquisa do IBGE, a proporção de famílias formadas por casais sem filhos cresceu 33% no Brasil entre 2004 e 2013. Ao longo desse período, houve queda de 13,7% na proporção dos casais com filhos (de 50,9% para 43,9%). Já o número de casais sem herdeiros cresceu de 14,6% para 19,4%. Em 2013, um em cada cinco casais brasileiros não tinha filhos, de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais 2014.
A tendência de queda no número da taxa de natalidade não é nova. O número de filhos por mulher vem se reduzindo desde a década de 1960, a exemplo do que ocorreu também em vários outros países. Se em 1970 as brasileiras tinham, em média, 5,8 filhos, hoje esse número não chega a 2. O número de nascimentos caiu 13,3% entre 2000 e 2012, quando o número de filhos por mulher foi de 1,77 - contra 2,29 em relação ao período anterior.
(Texto adaptado. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/17/politica/1424196059_041074.html>. Acesso em: 05 ago. 2018.)
As mudanças verificadas no Brasil, apresentadas na reportagem, ocasionam qual comportamento demográfico?
Observe o gráfico abaixo sobre produção agrícola no Brasil e escolha a opção que o descreve:
Observe o gráfico abaixo sobre produção agrícola no Brasil e escolha a opção que o descreve:
Pesquisa diz que SP não é apenas metrópole de serviços
17 de fevereiro de 2008
Uma pesquisa da Fundação SEADE apontou que a anunciada fuga da indústria da Região Metropolitana de São Paulo
para o interior é um movimento limitado a um raio de cem quilômetros. O “interior”, no caso, é uma mancha
geográfica extremada pelas regiões de Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Baixada Santista. Houve um
rearranjo interno, em que municípios como Campinas, Guarulhos, Osasco, Barueri e São José dos Campos ganharam
peso, enquanto São Paulo perdeu. Mas a metrópole paulista é, ainda, uma região que tem seu dinamismo econômico
conferido pela indústria: por conta da concorrência trazida pela abertura ao comércio exterior, que obrigou o
enxugamento de custos, as indústrias passaram a priorizar seu produto principal, terceirizando inúmeras atividades
de apoio. O desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação viabilizou o surgimento de prestadoras de
serviços organizadas de forma similar à indústria e que se tornaram elos de cadeias produtivas.
(Texto adaptado. Disponível em: <http://saopaulo.sp.gov.br>. Acesso em: 20 ago. 2018.)
Com relação ao fato apresentado no fragmento acima, é CORRETO afirmar que:
Pesquisa diz que SP não é apenas metrópole de serviços
17 de fevereiro de 2008
Uma pesquisa da Fundação SEADE apontou que a anunciada fuga da indústria da Região Metropolitana de São Paulo para o interior é um movimento limitado a um raio de cem quilômetros. O “interior”, no caso, é uma mancha geográfica extremada pelas regiões de Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Baixada Santista. Houve um rearranjo interno, em que municípios como Campinas, Guarulhos, Osasco, Barueri e São José dos Campos ganharam peso, enquanto São Paulo perdeu. Mas a metrópole paulista é, ainda, uma região que tem seu dinamismo econômico conferido pela indústria: por conta da concorrência trazida pela abertura ao comércio exterior, que obrigou o enxugamento de custos, as indústrias passaram a priorizar seu produto principal, terceirizando inúmeras atividades de apoio. O desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação viabilizou o surgimento de prestadoras de serviços organizadas de forma similar à indústria e que se tornaram elos de cadeias produtivas.
(Texto adaptado. Disponível em: <http://saopaulo.sp.gov.br>. Acesso em: 20 ago. 2018.)
Sobre o silêncio, a literatura e a infância, a entrevistada acredita que os três
TEXTO 1
Os não-ditos das leituras silenciosas
Está no papo
25 de junho de 2018 às 09h52
Guimarães Rosa já anunciava em Grande Sertão: Veredas: "O silêncio é a gente mesmo demais". Foi ele mesmo um menino quieto e sensível durante a infância. Do silêncio fizeram-se as palavras. "O silêncio está na constituição da poesia porque é parte integrante de alguns de seus principais elementos: ritmo e imagem. Não há ritmo sem pausas, não há som, sem silêncio. Do mesmo modo, não há imagem sem vazio", explica Cristiane Tavares, especialista em literatura infantil e coordenadora do curso de pós-graduação Livros, crianças e jovens: teoria, mediação e crítica, do Instituto Vera Cruz.
Ela lembra que Guimarães Rosa é um grande representante da tríade literatura, infância e silêncio, tema importante para se discutir as infâncias contemporâneas. "Penso que o silêncio é necessário para as crianças, tanto quanto para a literatura, pois é condição para a criação, é janela para a contemplação. Em tempos de tanta velocidade, de excesso de ruído, profusão de imagens, o silêncio é raridade, deve ser preservado."
Ao mesmo tempo, a especialista reconhece que nem todos os silêncios são poéticos. Cita alguns presentes na infância, advindos de experiências de violência, ausência, solidão e preconceito. "Em todos esses casos, em maior ou menor grau, sempre haverá (quero crer!) pontos de fuga para silêncios poéticos que devolvam a dignidade e a beleza às infâncias. Mas é preciso muito trabalho para desenhar esses pontos de fuga na realidade." São pontos de fuga que, segundo a pesquisadora, alimentam "de dentro para fora a complexidade de existir".
Na literatura, esses silêncios reverberam naqueles textos que não dizem tudo de um modo óbvio, mas abrem espaço para o diálogo com o leitor. Habitam, por exemplo, os livros-álbum, nos quais o texto e a imagem têm uma relação intrínseca. Nessas obras, o silêncio é pré-requisito. São desafiadores porque pedem uma mediação mais silenciosa, sem tanta fala do adulto. "Nem todo leitor gosta de se deparar com esses espaços em branco porque podem ser angustiantes mesmo. Mas a angústia faz parte da experiência leitora e pode levar a lugares pouco visitados por nós."
Daí vem a necessidade de nos silenciarmos após a leitura, sem precisar prestar contas, convencer o outro a ler também ou elaborar rapidamente alguma interpretação do que se leu. Assim também nos conta Teresa Colomer, em Andar entre livros – a leitura literária na escola (Global, 2007): "A leitura autônoma, continuada, silenciosa, de gratificação imediata e livre escolha é imprescindível para que o próprio texto ensine a ler”.
Leia agora abaixo parte da conversa com Cristiane Tavares sobre silêncio, infância e literatura.
Em artigo publicado na revista Emília, Cecilia Bajour cita Breton: “O silêncio não é nunca o vazio, mas a respiração entre as palavras, a dobra momentânea que permite a fluência dos significados, o intercâmbio de observações e emoções, o equilíbrio das frases que se amontoam nos lábios e o eco de sua recepção, é o tato que cedo ao uso da palavra mediante uma rápida inflexão da voz, explorada de imediato pelo que se espera do momento favorável”. Qual a relação entre silêncio, literatura e infância?
Cristiane Tavares – Quando penso nessa relação entre “silêncio, literatura e infância”, logo me vem uma frase do Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas: “O senhor sabe o que o silêncio é? O silêncio é a gente mesmo demais.” Gosto muito desse modo mineiro e roseano de entender o silêncio. E cito esse autor porque penso que ele traduz muito bem essa tríade – silêncio, literatura e infância – em sua obra. Miguilim é um exemplo: menino quieto, sensível, que armava arapuca e pensava no que deviam sentir os pássaros quando estavam presos, separados dos seus companheiros, e observava como saíam felizes soltos das arapucas. Ele mesmo, o Rosa, foi menino quieto, prezava o silêncio. Esse menino quieto, quando adulto, falava mais de cinco línguas... O silêncio é também condição para a aprendizagem. Da cabeça e do coração desse menino quieto saíram obras-primas como Grande Sertão e Manuelzão e Miguilim. Penso que o silêncio é necessário para as crianças, tanto quanto para a literatura, pois é condição para a criação, é janela para a contemplação. Em tempos de tanta velocidade, de excesso de ruído, profusão de imagens, o silêncio é raridade, deve ser preservado.
[...]
Como o silêncio pode dialogar com a autonomia do jovem leitor?
Cristiane Tavares – Silêncio e autonomia leitora andam lado a lado. Do mesmo modo que é importante compartilhar as leituras e conversar sobre os livros, é fundamental respeitar e proporcionar momentos de silêncio depois da leitura. Ler sem precisar prestar contas, ler sem precisar convencer o outro a ler também, ler sem precisar elaborar rapidamente o que se leu. Uma situação alimenta a outra, a autonomia se constrói firmada na partilha e, em especial na escola, as duas situações precisam ser garantidas: ler com os outros e ler sozinho. Teresa Colomer reflete muito sobre isso em Andar entre livros – a leitura literária na escola (Global, 2007) e destaca a importância de garantir momentos de leitura silenciosa na sala de aula: “A criação de um espaço de leitura individual na escola pretende dar a oportunidade de ler a todos os alunos; aos que têm livros em casa e aos que não os têm, aos que dedicam tempo de lazer à leitura e aos que só leriam nos minutos dedicados a realizar as tarefas escolares na aula. A leitura autônoma, continuada, silenciosa, de gratificação imediata e livre escolha é imprescindível para que o próprio texto ensine a ler.”
(Texto adaptado. Disponível em:http://www.blogdaletrinhas.com.br/conteudos/visualizar/Os-nao-ditos-das-leituras-silenciosas
TEXTO 2
Campo Geral
Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Veredado-Frango-d'Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos Campos Gerais, mas num covão em trecho de matas, terra preta, pé de serra. Miguilim tinha oito anos. Quando completara sete, havia saído dali, pela primeira vez: o tio Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela, para ser crismado no Sucuriju, por onde o bispo passava. Da viagem, que durou dias, ele guardara aturdidas lembranças, embaraçadas em sua cabecinha. De uma, nunca pôde se esquecer: alguém, que já estivera no Mutúm, tinha dito: ― "É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre..."
Mas sua mãe, que era linda e com cabelos pretos e compridos, se doía de tristeza de ter de viver ali. Queixava-se, principalmente nos demorados meses chuvosos, quando carregava o tempo, tudo tão sozinho, tão escuro, o ar ali era mais escuro; ou, mesmo na estiagem, qualquer dia, de tardinha, na hora do sol entrar. — "Oê, ah, o triste recanto..." — ela exclamava. Mesmo assim, enquanto esteve fora, só com o tio Terêz, Miguilim padeceu tanta saudade, de todos e de tudo, que às vezes nem conseguia chorar, e ficava sufocado. E foi descobriu, por si, que, umedecendo as ventas com um tico de cuspe, aquela aflição um pouco aliviava. Daí, pedia ao tio Terêz que molhasse para ele o lenço; e tio Terêz, quando davam com um riacho, um minadouro ou um poço de grota, sem se apear do cavalo abaixava o copo de chifre, na ponta de uma correntinha, e subia um punhado d'água. Mas quase sempre eram secos os caminhos, nas chapadas, então tio Terêz tinha uma cabacinha que vinha cheia, essa dava para quatro sedes; uma cabacinha entrelaçada com cipós, que era tão formosa. — "É para beber, Miguilim..." — tio Terêz dizia, caçoando. Mas Miguilim ria também e preferia não beber a sua parte, deixava-a para empapar o lenço e refrescar o nariz, na hora do arrocho. Gostava do tio Terêz, irmão de seu pai.
Quando voltou para casa, seu maior pensamento era que tinha a boa notícia para dar à mãe: o que o homem tinha falado — que o Mutúm era lugar bonito... A mãe, quando ouvisse essa certeza, havia de se alegrar, ficava consolada. Era um presente; e a ideia de poder trazê-lo desse jeito de cor, como uma salvação, deixava-o febril até nas pernas. Tão grave, grande, que nem o quis dizer à mãe na presença dos outros, mas insofria por ter de esperar; e, assim que pôde estar com ela só, abraçou-se a seu pescoço e contou-lhe, estremecido, aquela revelação. A mãe não lhe deu valor nenhum, mas mirou triste e apontou o morro; dizia: — "Estou sempre pensando que lá por detrás dele acontecem outras coisas, que o morro está tapando de mim, e que eu nunca hei de poder ver..." Era a primeira vez que a mãe falava com ele um assunto todo sério. No fundo de seu coração, ele não podia, porém, concordar, por mais que gostasse dela: e achava que o moço que tinha falado aquilo era que estava com a razão. Não porque ele mesmo Miguilim visse beleza no Mutúm — nem ele sabia distinguir o que era um lugar bonito e um lugar feio. Mas só pela maneira como o moço tinha falado: de longe, de leve, sem interesse nenhum; e pelo modo contrário de sua mãe — agravada de calundú e espalhando suspiros, lastimosa. No começo de tudo, tinha um erro — Miguilim conhecia, pouco entendendo. Entretanto, a mata, ali perto, quase preta, verde-escura, punha-lhe medo.
(ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 11.ed. São Paulo: Nova Fronteira, 2001.)
A parte introdutória à entrevista com Cristiane Tavares tem como principal finalidade enunciativa:
TEXTO 1
Os não-ditos das leituras silenciosas
Está no papo
25 de junho de 2018 às 09h52
Guimarães Rosa já anunciava em Grande Sertão: Veredas: "O silêncio é a gente mesmo demais". Foi ele mesmo um menino quieto e sensível durante a infância. Do silêncio fizeram-se as palavras. "O silêncio está na constituição da poesia porque é parte integrante de alguns de seus principais elementos: ritmo e imagem. Não há ritmo sem pausas, não há som, sem silêncio. Do mesmo modo, não há imagem sem vazio", explica Cristiane Tavares, especialista em literatura infantil e coordenadora do curso de pós-graduação Livros, crianças e jovens: teoria, mediação e crítica, do Instituto Vera Cruz.
Ela lembra que Guimarães Rosa é um grande representante da tríade literatura, infância e silêncio, tema importante para se discutir as infâncias contemporâneas. "Penso que o silêncio é necessário para as crianças, tanto quanto para a literatura, pois é condição para a criação, é janela para a contemplação. Em tempos de tanta velocidade, de excesso de ruído, profusão de imagens, o silêncio é raridade, deve ser preservado."
Ao mesmo tempo, a especialista reconhece que nem todos os silêncios são poéticos. Cita alguns presentes na infância, advindos de experiências de violência, ausência, solidão e preconceito. "Em todos esses casos, em maior ou menor grau, sempre haverá (quero crer!) pontos de fuga para silêncios poéticos que devolvam a dignidade e a beleza às infâncias. Mas é preciso muito trabalho para desenhar esses pontos de fuga na realidade." São pontos de fuga que, segundo a pesquisadora, alimentam "de dentro para fora a complexidade de existir".
Na literatura, esses silêncios reverberam naqueles textos que não dizem tudo de um modo óbvio, mas abrem espaço para o diálogo com o leitor. Habitam, por exemplo, os livros-álbum, nos quais o texto e a imagem têm uma relação intrínseca. Nessas obras, o silêncio é pré-requisito. São desafiadores porque pedem uma mediação mais silenciosa, sem tanta fala do adulto. "Nem todo leitor gosta de se deparar com esses espaços em branco porque podem ser angustiantes mesmo. Mas a angústia faz parte da experiência leitora e pode levar a lugares pouco visitados por nós."
Daí vem a necessidade de nos silenciarmos após a leitura, sem precisar prestar contas, convencer o outro a ler também ou elaborar rapidamente alguma interpretação do que se leu. Assim também nos conta Teresa Colomer, em Andar entre livros – a leitura literária na escola (Global, 2007): "A leitura autônoma, continuada, silenciosa, de gratificação imediata e livre escolha é imprescindível para que o próprio texto ensine a ler”.
Leia agora abaixo parte da conversa com Cristiane Tavares sobre silêncio, infância e literatura.
Em artigo publicado na revista Emília, Cecilia Bajour cita Breton: “O silêncio não é nunca o vazio, mas a respiração entre as palavras, a dobra momentânea que permite a fluência dos significados, o intercâmbio de observações e emoções, o equilíbrio das frases que se amontoam nos lábios e o eco de sua recepção, é o tato que cedo ao uso da palavra mediante uma rápida inflexão da voz, explorada de imediato pelo que se espera do momento favorável”. Qual a relação entre silêncio, literatura e infância?
Cristiane Tavares – Quando penso nessa relação entre “silêncio, literatura e infância”, logo me vem uma frase do Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas: “O senhor sabe o que o silêncio é? O silêncio é a gente mesmo demais.” Gosto muito desse modo mineiro e roseano de entender o silêncio. E cito esse autor porque penso que ele traduz muito bem essa tríade – silêncio, literatura e infância – em sua obra. Miguilim é um exemplo: menino quieto, sensível, que armava arapuca e pensava no que deviam sentir os pássaros quando estavam presos, separados dos seus companheiros, e observava como saíam felizes soltos das arapucas. Ele mesmo, o Rosa, foi menino quieto, prezava o silêncio. Esse menino quieto, quando adulto, falava mais de cinco línguas... O silêncio é também condição para a aprendizagem. Da cabeça e do coração desse menino quieto saíram obras-primas como Grande Sertão e Manuelzão e Miguilim. Penso que o silêncio é necessário para as crianças, tanto quanto para a literatura, pois é condição para a criação, é janela para a contemplação. Em tempos de tanta velocidade, de excesso de ruído, profusão de imagens, o silêncio é raridade, deve ser preservado.
[...]
Como o silêncio pode dialogar com a autonomia do jovem leitor?
Cristiane Tavares – Silêncio e autonomia leitora andam lado a lado. Do mesmo modo que é importante compartilhar as leituras e conversar sobre os livros, é fundamental respeitar e proporcionar momentos de silêncio depois da leitura. Ler sem precisar prestar contas, ler sem precisar convencer o outro a ler também, ler sem precisar elaborar rapidamente o que se leu. Uma situação alimenta a outra, a autonomia se constrói firmada na partilha e, em especial na escola, as duas situações precisam ser garantidas: ler com os outros e ler sozinho. Teresa Colomer reflete muito sobre isso em Andar entre livros – a leitura literária na escola (Global, 2007) e destaca a importância de garantir momentos de leitura silenciosa na sala de aula: “A criação de um espaço de leitura individual na escola pretende dar a oportunidade de ler a todos os alunos; aos que têm livros em casa e aos que não os têm, aos que dedicam tempo de lazer à leitura e aos que só leriam nos minutos dedicados a realizar as tarefas escolares na aula. A leitura autônoma, continuada, silenciosa, de gratificação imediata e livre escolha é imprescindível para que o próprio texto ensine a ler.”
(Texto adaptado. Disponível em:http://www.blogdaletrinhas.com.br/conteudos/visualizar/Os-nao-ditos-das-leituras-silenciosas
TEXTO 2
Campo Geral
Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Veredado-Frango-d'Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos Campos Gerais, mas num covão em trecho de matas, terra preta, pé de serra. Miguilim tinha oito anos. Quando completara sete, havia saído dali, pela primeira vez: o tio Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela, para ser crismado no Sucuriju, por onde o bispo passava. Da viagem, que durou dias, ele guardara aturdidas lembranças, embaraçadas em sua cabecinha. De uma, nunca pôde se esquecer: alguém, que já estivera no Mutúm, tinha dito: ― "É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre..."
Mas sua mãe, que era linda e com cabelos pretos e compridos, se doía de tristeza de ter de viver ali. Queixava-se, principalmente nos demorados meses chuvosos, quando carregava o tempo, tudo tão sozinho, tão escuro, o ar ali era mais escuro; ou, mesmo na estiagem, qualquer dia, de tardinha, na hora do sol entrar. — "Oê, ah, o triste recanto..." — ela exclamava. Mesmo assim, enquanto esteve fora, só com o tio Terêz, Miguilim padeceu tanta saudade, de todos e de tudo, que às vezes nem conseguia chorar, e ficava sufocado. E foi descobriu, por si, que, umedecendo as ventas com um tico de cuspe, aquela aflição um pouco aliviava. Daí, pedia ao tio Terêz que molhasse para ele o lenço; e tio Terêz, quando davam com um riacho, um minadouro ou um poço de grota, sem se apear do cavalo abaixava o copo de chifre, na ponta de uma correntinha, e subia um punhado d'água. Mas quase sempre eram secos os caminhos, nas chapadas, então tio Terêz tinha uma cabacinha que vinha cheia, essa dava para quatro sedes; uma cabacinha entrelaçada com cipós, que era tão formosa. — "É para beber, Miguilim..." — tio Terêz dizia, caçoando. Mas Miguilim ria também e preferia não beber a sua parte, deixava-a para empapar o lenço e refrescar o nariz, na hora do arrocho. Gostava do tio Terêz, irmão de seu pai.
Quando voltou para casa, seu maior pensamento era que tinha a boa notícia para dar à mãe: o que o homem tinha falado — que o Mutúm era lugar bonito... A mãe, quando ouvisse essa certeza, havia de se alegrar, ficava consolada. Era um presente; e a ideia de poder trazê-lo desse jeito de cor, como uma salvação, deixava-o febril até nas pernas. Tão grave, grande, que nem o quis dizer à mãe na presença dos outros, mas insofria por ter de esperar; e, assim que pôde estar com ela só, abraçou-se a seu pescoço e contou-lhe, estremecido, aquela revelação. A mãe não lhe deu valor nenhum, mas mirou triste e apontou o morro; dizia: — "Estou sempre pensando que lá por detrás dele acontecem outras coisas, que o morro está tapando de mim, e que eu nunca hei de poder ver..." Era a primeira vez que a mãe falava com ele um assunto todo sério. No fundo de seu coração, ele não podia, porém, concordar, por mais que gostasse dela: e achava que o moço que tinha falado aquilo era que estava com a razão. Não porque ele mesmo Miguilim visse beleza no Mutúm — nem ele sabia distinguir o que era um lugar bonito e um lugar feio. Mas só pela maneira como o moço tinha falado: de longe, de leve, sem interesse nenhum; e pelo modo contrário de sua mãe — agravada de calundú e espalhando suspiros, lastimosa. No começo de tudo, tinha um erro — Miguilim conhecia, pouco entendendo. Entretanto, a mata, ali perto, quase preta, verde-escura, punha-lhe medo.
(ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 11.ed. São Paulo: Nova Fronteira, 2001.)
No Texto 2, “Campo Geral”, as descrições coincidentes do Mutúm feitas por dois dos personagens são:
TEXTO 1
Os não-ditos das leituras silenciosas
Está no papo
25 de junho de 2018 às 09h52
Guimarães Rosa já anunciava em Grande Sertão: Veredas: "O silêncio é a gente mesmo demais". Foi ele mesmo um menino quieto e sensível durante a infância. Do silêncio fizeram-se as palavras. "O silêncio está na constituição da poesia porque é parte integrante de alguns de seus principais elementos: ritmo e imagem. Não há ritmo sem pausas, não há som, sem silêncio. Do mesmo modo, não há imagem sem vazio", explica Cristiane Tavares, especialista em literatura infantil e coordenadora do curso de pós-graduação Livros, crianças e jovens: teoria, mediação e crítica, do Instituto Vera Cruz.
Ela lembra que Guimarães Rosa é um grande representante da tríade literatura, infância e silêncio, tema importante para se discutir as infâncias contemporâneas. "Penso que o silêncio é necessário para as crianças, tanto quanto para a literatura, pois é condição para a criação, é janela para a contemplação. Em tempos de tanta velocidade, de excesso de ruído, profusão de imagens, o silêncio é raridade, deve ser preservado."
Ao mesmo tempo, a especialista reconhece que nem todos os silêncios são poéticos. Cita alguns presentes na infância, advindos de experiências de violência, ausência, solidão e preconceito. "Em todos esses casos, em maior ou menor grau, sempre haverá (quero crer!) pontos de fuga para silêncios poéticos que devolvam a dignidade e a beleza às infâncias. Mas é preciso muito trabalho para desenhar esses pontos de fuga na realidade." São pontos de fuga que, segundo a pesquisadora, alimentam "de dentro para fora a complexidade de existir".
Na literatura, esses silêncios reverberam naqueles textos que não dizem tudo de um modo óbvio, mas abrem espaço para o diálogo com o leitor. Habitam, por exemplo, os livros-álbum, nos quais o texto e a imagem têm uma relação intrínseca. Nessas obras, o silêncio é pré-requisito. São desafiadores porque pedem uma mediação mais silenciosa, sem tanta fala do adulto. "Nem todo leitor gosta de se deparar com esses espaços em branco porque podem ser angustiantes mesmo. Mas a angústia faz parte da experiência leitora e pode levar a lugares pouco visitados por nós."
Daí vem a necessidade de nos silenciarmos após a leitura, sem precisar prestar contas, convencer o outro a ler também ou elaborar rapidamente alguma interpretação do que se leu. Assim também nos conta Teresa Colomer, em Andar entre livros – a leitura literária na escola (Global, 2007): "A leitura autônoma, continuada, silenciosa, de gratificação imediata e livre escolha é imprescindível para que o próprio texto ensine a ler”.
Leia agora abaixo parte da conversa com Cristiane Tavares sobre silêncio, infância e literatura.
Em artigo publicado na revista Emília, Cecilia Bajour cita Breton: “O silêncio não é nunca o vazio, mas a respiração entre as palavras, a dobra momentânea que permite a fluência dos significados, o intercâmbio de observações e emoções, o equilíbrio das frases que se amontoam nos lábios e o eco de sua recepção, é o tato que cedo ao uso da palavra mediante uma rápida inflexão da voz, explorada de imediato pelo que se espera do momento favorável”. Qual a relação entre silêncio, literatura e infância?
Cristiane Tavares – Quando penso nessa relação entre “silêncio, literatura e infância”, logo me vem uma frase do Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas: “O senhor sabe o que o silêncio é? O silêncio é a gente mesmo demais.” Gosto muito desse modo mineiro e roseano de entender o silêncio. E cito esse autor porque penso que ele traduz muito bem essa tríade – silêncio, literatura e infância – em sua obra. Miguilim é um exemplo: menino quieto, sensível, que armava arapuca e pensava no que deviam sentir os pássaros quando estavam presos, separados dos seus companheiros, e observava como saíam felizes soltos das arapucas. Ele mesmo, o Rosa, foi menino quieto, prezava o silêncio. Esse menino quieto, quando adulto, falava mais de cinco línguas... O silêncio é também condição para a aprendizagem. Da cabeça e do coração desse menino quieto saíram obras-primas como Grande Sertão e Manuelzão e Miguilim. Penso que o silêncio é necessário para as crianças, tanto quanto para a literatura, pois é condição para a criação, é janela para a contemplação. Em tempos de tanta velocidade, de excesso de ruído, profusão de imagens, o silêncio é raridade, deve ser preservado.
[...]
Como o silêncio pode dialogar com a autonomia do jovem leitor?
Cristiane Tavares – Silêncio e autonomia leitora andam lado a lado. Do mesmo modo que é importante compartilhar as leituras e conversar sobre os livros, é fundamental respeitar e proporcionar momentos de silêncio depois da leitura. Ler sem precisar prestar contas, ler sem precisar convencer o outro a ler também, ler sem precisar elaborar rapidamente o que se leu. Uma situação alimenta a outra, a autonomia se constrói firmada na partilha e, em especial na escola, as duas situações precisam ser garantidas: ler com os outros e ler sozinho. Teresa Colomer reflete muito sobre isso em Andar entre livros – a leitura literária na escola (Global, 2007) e destaca a importância de garantir momentos de leitura silenciosa na sala de aula: “A criação de um espaço de leitura individual na escola pretende dar a oportunidade de ler a todos os alunos; aos que têm livros em casa e aos que não os têm, aos que dedicam tempo de lazer à leitura e aos que só leriam nos minutos dedicados a realizar as tarefas escolares na aula. A leitura autônoma, continuada, silenciosa, de gratificação imediata e livre escolha é imprescindível para que o próprio texto ensine a ler.”
(Texto adaptado. Disponível em:http://www.blogdaletrinhas.com.br/conteudos/visualizar/Os-nao-ditos-das-leituras-silenciosas
TEXTO 2
Campo Geral
Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Veredado-Frango-d'Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos Campos Gerais, mas num covão em trecho de matas, terra preta, pé de serra. Miguilim tinha oito anos. Quando completara sete, havia saído dali, pela primeira vez: o tio Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela, para ser crismado no Sucuriju, por onde o bispo passava. Da viagem, que durou dias, ele guardara aturdidas lembranças, embaraçadas em sua cabecinha. De uma, nunca pôde se esquecer: alguém, que já estivera no Mutúm, tinha dito: ― "É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre..."
Mas sua mãe, que era linda e com cabelos pretos e compridos, se doía de tristeza de ter de viver ali. Queixava-se, principalmente nos demorados meses chuvosos, quando carregava o tempo, tudo tão sozinho, tão escuro, o ar ali era mais escuro; ou, mesmo na estiagem, qualquer dia, de tardinha, na hora do sol entrar. — "Oê, ah, o triste recanto..." — ela exclamava. Mesmo assim, enquanto esteve fora, só com o tio Terêz, Miguilim padeceu tanta saudade, de todos e de tudo, que às vezes nem conseguia chorar, e ficava sufocado. E foi descobriu, por si, que, umedecendo as ventas com um tico de cuspe, aquela aflição um pouco aliviava. Daí, pedia ao tio Terêz que molhasse para ele o lenço; e tio Terêz, quando davam com um riacho, um minadouro ou um poço de grota, sem se apear do cavalo abaixava o copo de chifre, na ponta de uma correntinha, e subia um punhado d'água. Mas quase sempre eram secos os caminhos, nas chapadas, então tio Terêz tinha uma cabacinha que vinha cheia, essa dava para quatro sedes; uma cabacinha entrelaçada com cipós, que era tão formosa. — "É para beber, Miguilim..." — tio Terêz dizia, caçoando. Mas Miguilim ria também e preferia não beber a sua parte, deixava-a para empapar o lenço e refrescar o nariz, na hora do arrocho. Gostava do tio Terêz, irmão de seu pai.
Quando voltou para casa, seu maior pensamento era que tinha a boa notícia para dar à mãe: o que o homem tinha falado — que o Mutúm era lugar bonito... A mãe, quando ouvisse essa certeza, havia de se alegrar, ficava consolada. Era um presente; e a ideia de poder trazê-lo desse jeito de cor, como uma salvação, deixava-o febril até nas pernas. Tão grave, grande, que nem o quis dizer à mãe na presença dos outros, mas insofria por ter de esperar; e, assim que pôde estar com ela só, abraçou-se a seu pescoço e contou-lhe, estremecido, aquela revelação. A mãe não lhe deu valor nenhum, mas mirou triste e apontou o morro; dizia: — "Estou sempre pensando que lá por detrás dele acontecem outras coisas, que o morro está tapando de mim, e que eu nunca hei de poder ver..." Era a primeira vez que a mãe falava com ele um assunto todo sério. No fundo de seu coração, ele não podia, porém, concordar, por mais que gostasse dela: e achava que o moço que tinha falado aquilo era que estava com a razão. Não porque ele mesmo Miguilim visse beleza no Mutúm — nem ele sabia distinguir o que era um lugar bonito e um lugar feio. Mas só pela maneira como o moço tinha falado: de longe, de leve, sem interesse nenhum; e pelo modo contrário de sua mãe — agravada de calundú e espalhando suspiros, lastimosa. No começo de tudo, tinha um erro — Miguilim conhecia, pouco entendendo. Entretanto, a mata, ali perto, quase preta, verde-escura, punha-lhe medo.
(ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 11.ed. São Paulo: Nova Fronteira, 2001.)
Sobre o uso das formas verbais completara, guardara e estivera, no primeiro parágrafo do texto
“Campo Geral”, pode-se afirmar que:
TEXTO 1
Os não-ditos das leituras silenciosas
Está no papo
25 de junho de 2018 às 09h52
Guimarães Rosa já anunciava em Grande Sertão: Veredas: "O silêncio é a gente mesmo demais". Foi ele mesmo um menino quieto e sensível durante a infância. Do silêncio fizeram-se as palavras. "O silêncio está na constituição da poesia porque é parte integrante de alguns de seus principais elementos: ritmo e imagem. Não há ritmo sem pausas, não há som, sem silêncio. Do mesmo modo, não há imagem sem vazio", explica Cristiane Tavares, especialista em literatura infantil e coordenadora do curso de pós-graduação Livros, crianças e jovens: teoria, mediação e crítica, do Instituto Vera Cruz.
Ela lembra que Guimarães Rosa é um grande representante da tríade literatura, infância e silêncio, tema importante para se discutir as infâncias contemporâneas. "Penso que o silêncio é necessário para as crianças, tanto quanto para a literatura, pois é condição para a criação, é janela para a contemplação. Em tempos de tanta velocidade, de excesso de ruído, profusão de imagens, o silêncio é raridade, deve ser preservado."
Ao mesmo tempo, a especialista reconhece que nem todos os silêncios são poéticos. Cita alguns presentes na infância, advindos de experiências de violência, ausência, solidão e preconceito. "Em todos esses casos, em maior ou menor grau, sempre haverá (quero crer!) pontos de fuga para silêncios poéticos que devolvam a dignidade e a beleza às infâncias. Mas é preciso muito trabalho para desenhar esses pontos de fuga na realidade." São pontos de fuga que, segundo a pesquisadora, alimentam "de dentro para fora a complexidade de existir".
Na literatura, esses silêncios reverberam naqueles textos que não dizem tudo de um modo óbvio, mas abrem espaço para o diálogo com o leitor. Habitam, por exemplo, os livros-álbum, nos quais o texto e a imagem têm uma relação intrínseca. Nessas obras, o silêncio é pré-requisito. São desafiadores porque pedem uma mediação mais silenciosa, sem tanta fala do adulto. "Nem todo leitor gosta de se deparar com esses espaços em branco porque podem ser angustiantes mesmo. Mas a angústia faz parte da experiência leitora e pode levar a lugares pouco visitados por nós."
Daí vem a necessidade de nos silenciarmos após a leitura, sem precisar prestar contas, convencer o outro a ler também ou elaborar rapidamente alguma interpretação do que se leu. Assim também nos conta Teresa Colomer, em Andar entre livros – a leitura literária na escola (Global, 2007): "A leitura autônoma, continuada, silenciosa, de gratificação imediata e livre escolha é imprescindível para que o próprio texto ensine a ler”.
Leia agora abaixo parte da conversa com Cristiane Tavares sobre silêncio, infância e literatura.
Em artigo publicado na revista Emília, Cecilia Bajour cita Breton: “O silêncio não é nunca o vazio, mas a respiração entre as palavras, a dobra momentânea que permite a fluência dos significados, o intercâmbio de observações e emoções, o equilíbrio das frases que se amontoam nos lábios e o eco de sua recepção, é o tato que cedo ao uso da palavra mediante uma rápida inflexão da voz, explorada de imediato pelo que se espera do momento favorável”. Qual a relação entre silêncio, literatura e infância?
Cristiane Tavares – Quando penso nessa relação entre “silêncio, literatura e infância”, logo me vem uma frase do Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas: “O senhor sabe o que o silêncio é? O silêncio é a gente mesmo demais.” Gosto muito desse modo mineiro e roseano de entender o silêncio. E cito esse autor porque penso que ele traduz muito bem essa tríade – silêncio, literatura e infância – em sua obra. Miguilim é um exemplo: menino quieto, sensível, que armava arapuca e pensava no que deviam sentir os pássaros quando estavam presos, separados dos seus companheiros, e observava como saíam felizes soltos das arapucas. Ele mesmo, o Rosa, foi menino quieto, prezava o silêncio. Esse menino quieto, quando adulto, falava mais de cinco línguas... O silêncio é também condição para a aprendizagem. Da cabeça e do coração desse menino quieto saíram obras-primas como Grande Sertão e Manuelzão e Miguilim. Penso que o silêncio é necessário para as crianças, tanto quanto para a literatura, pois é condição para a criação, é janela para a contemplação. Em tempos de tanta velocidade, de excesso de ruído, profusão de imagens, o silêncio é raridade, deve ser preservado.
[...]
Como o silêncio pode dialogar com a autonomia do jovem leitor?
Cristiane Tavares – Silêncio e autonomia leitora andam lado a lado. Do mesmo modo que é importante compartilhar as leituras e conversar sobre os livros, é fundamental respeitar e proporcionar momentos de silêncio depois da leitura. Ler sem precisar prestar contas, ler sem precisar convencer o outro a ler também, ler sem precisar elaborar rapidamente o que se leu. Uma situação alimenta a outra, a autonomia se constrói firmada na partilha e, em especial na escola, as duas situações precisam ser garantidas: ler com os outros e ler sozinho. Teresa Colomer reflete muito sobre isso em Andar entre livros – a leitura literária na escola (Global, 2007) e destaca a importância de garantir momentos de leitura silenciosa na sala de aula: “A criação de um espaço de leitura individual na escola pretende dar a oportunidade de ler a todos os alunos; aos que têm livros em casa e aos que não os têm, aos que dedicam tempo de lazer à leitura e aos que só leriam nos minutos dedicados a realizar as tarefas escolares na aula. A leitura autônoma, continuada, silenciosa, de gratificação imediata e livre escolha é imprescindível para que o próprio texto ensine a ler.”
(Texto adaptado. Disponível em:http://www.blogdaletrinhas.com.br/conteudos/visualizar/Os-nao-ditos-das-leituras-silenciosas
TEXTO 2
Campo Geral
Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Veredado-Frango-d'Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos Campos Gerais, mas num covão em trecho de matas, terra preta, pé de serra. Miguilim tinha oito anos. Quando completara sete, havia saído dali, pela primeira vez: o tio Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela, para ser crismado no Sucuriju, por onde o bispo passava. Da viagem, que durou dias, ele guardara aturdidas lembranças, embaraçadas em sua cabecinha. De uma, nunca pôde se esquecer: alguém, que já estivera no Mutúm, tinha dito: ― "É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre..."
Mas sua mãe, que era linda e com cabelos pretos e compridos, se doía de tristeza de ter de viver ali. Queixava-se, principalmente nos demorados meses chuvosos, quando carregava o tempo, tudo tão sozinho, tão escuro, o ar ali era mais escuro; ou, mesmo na estiagem, qualquer dia, de tardinha, na hora do sol entrar. — "Oê, ah, o triste recanto..." — ela exclamava. Mesmo assim, enquanto esteve fora, só com o tio Terêz, Miguilim padeceu tanta saudade, de todos e de tudo, que às vezes nem conseguia chorar, e ficava sufocado. E foi descobriu, por si, que, umedecendo as ventas com um tico de cuspe, aquela aflição um pouco aliviava. Daí, pedia ao tio Terêz que molhasse para ele o lenço; e tio Terêz, quando davam com um riacho, um minadouro ou um poço de grota, sem se apear do cavalo abaixava o copo de chifre, na ponta de uma correntinha, e subia um punhado d'água. Mas quase sempre eram secos os caminhos, nas chapadas, então tio Terêz tinha uma cabacinha que vinha cheia, essa dava para quatro sedes; uma cabacinha entrelaçada com cipós, que era tão formosa. — "É para beber, Miguilim..." — tio Terêz dizia, caçoando. Mas Miguilim ria também e preferia não beber a sua parte, deixava-a para empapar o lenço e refrescar o nariz, na hora do arrocho. Gostava do tio Terêz, irmão de seu pai.
Quando voltou para casa, seu maior pensamento era que tinha a boa notícia para dar à mãe: o que o homem tinha falado — que o Mutúm era lugar bonito... A mãe, quando ouvisse essa certeza, havia de se alegrar, ficava consolada. Era um presente; e a ideia de poder trazê-lo desse jeito de cor, como uma salvação, deixava-o febril até nas pernas. Tão grave, grande, que nem o quis dizer à mãe na presença dos outros, mas insofria por ter de esperar; e, assim que pôde estar com ela só, abraçou-se a seu pescoço e contou-lhe, estremecido, aquela revelação. A mãe não lhe deu valor nenhum, mas mirou triste e apontou o morro; dizia: — "Estou sempre pensando que lá por detrás dele acontecem outras coisas, que o morro está tapando de mim, e que eu nunca hei de poder ver..." Era a primeira vez que a mãe falava com ele um assunto todo sério. No fundo de seu coração, ele não podia, porém, concordar, por mais que gostasse dela: e achava que o moço que tinha falado aquilo era que estava com a razão. Não porque ele mesmo Miguilim visse beleza no Mutúm — nem ele sabia distinguir o que era um lugar bonito e um lugar feio. Mas só pela maneira como o moço tinha falado: de longe, de leve, sem interesse nenhum; e pelo modo contrário de sua mãe — agravada de calundú e espalhando suspiros, lastimosa. No começo de tudo, tinha um erro — Miguilim conhecia, pouco entendendo. Entretanto, a mata, ali perto, quase preta, verde-escura, punha-lhe medo.
(ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 11.ed. São Paulo: Nova Fronteira, 2001.)
Dos trechos a seguir, qual deles apresenta características predominantemente descritivas?
TEXTO 1
Os não-ditos das leituras silenciosas
Está no papo
25 de junho de 2018 às 09h52
Guimarães Rosa já anunciava em Grande Sertão: Veredas: "O silêncio é a gente mesmo demais". Foi ele mesmo um menino quieto e sensível durante a infância. Do silêncio fizeram-se as palavras. "O silêncio está na constituição da poesia porque é parte integrante de alguns de seus principais elementos: ritmo e imagem. Não há ritmo sem pausas, não há som, sem silêncio. Do mesmo modo, não há imagem sem vazio", explica Cristiane Tavares, especialista em literatura infantil e coordenadora do curso de pós-graduação Livros, crianças e jovens: teoria, mediação e crítica, do Instituto Vera Cruz.
Ela lembra que Guimarães Rosa é um grande representante da tríade literatura, infância e silêncio, tema importante para se discutir as infâncias contemporâneas. "Penso que o silêncio é necessário para as crianças, tanto quanto para a literatura, pois é condição para a criação, é janela para a contemplação. Em tempos de tanta velocidade, de excesso de ruído, profusão de imagens, o silêncio é raridade, deve ser preservado."
Ao mesmo tempo, a especialista reconhece que nem todos os silêncios são poéticos. Cita alguns presentes na infância, advindos de experiências de violência, ausência, solidão e preconceito. "Em todos esses casos, em maior ou menor grau, sempre haverá (quero crer!) pontos de fuga para silêncios poéticos que devolvam a dignidade e a beleza às infâncias. Mas é preciso muito trabalho para desenhar esses pontos de fuga na realidade." São pontos de fuga que, segundo a pesquisadora, alimentam "de dentro para fora a complexidade de existir".
Na literatura, esses silêncios reverberam naqueles textos que não dizem tudo de um modo óbvio, mas abrem espaço para o diálogo com o leitor. Habitam, por exemplo, os livros-álbum, nos quais o texto e a imagem têm uma relação intrínseca. Nessas obras, o silêncio é pré-requisito. São desafiadores porque pedem uma mediação mais silenciosa, sem tanta fala do adulto. "Nem todo leitor gosta de se deparar com esses espaços em branco porque podem ser angustiantes mesmo. Mas a angústia faz parte da experiência leitora e pode levar a lugares pouco visitados por nós."
Daí vem a necessidade de nos silenciarmos após a leitura, sem precisar prestar contas, convencer o outro a ler também ou elaborar rapidamente alguma interpretação do que se leu. Assim também nos conta Teresa Colomer, em Andar entre livros – a leitura literária na escola (Global, 2007): "A leitura autônoma, continuada, silenciosa, de gratificação imediata e livre escolha é imprescindível para que o próprio texto ensine a ler”.
Leia agora abaixo parte da conversa com Cristiane Tavares sobre silêncio, infância e literatura.
Em artigo publicado na revista Emília, Cecilia Bajour cita Breton: “O silêncio não é nunca o vazio, mas a respiração entre as palavras, a dobra momentânea que permite a fluência dos significados, o intercâmbio de observações e emoções, o equilíbrio das frases que se amontoam nos lábios e o eco de sua recepção, é o tato que cedo ao uso da palavra mediante uma rápida inflexão da voz, explorada de imediato pelo que se espera do momento favorável”. Qual a relação entre silêncio, literatura e infância?
Cristiane Tavares – Quando penso nessa relação entre “silêncio, literatura e infância”, logo me vem uma frase do Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas: “O senhor sabe o que o silêncio é? O silêncio é a gente mesmo demais.” Gosto muito desse modo mineiro e roseano de entender o silêncio. E cito esse autor porque penso que ele traduz muito bem essa tríade – silêncio, literatura e infância – em sua obra. Miguilim é um exemplo: menino quieto, sensível, que armava arapuca e pensava no que deviam sentir os pássaros quando estavam presos, separados dos seus companheiros, e observava como saíam felizes soltos das arapucas. Ele mesmo, o Rosa, foi menino quieto, prezava o silêncio. Esse menino quieto, quando adulto, falava mais de cinco línguas... O silêncio é também condição para a aprendizagem. Da cabeça e do coração desse menino quieto saíram obras-primas como Grande Sertão e Manuelzão e Miguilim. Penso que o silêncio é necessário para as crianças, tanto quanto para a literatura, pois é condição para a criação, é janela para a contemplação. Em tempos de tanta velocidade, de excesso de ruído, profusão de imagens, o silêncio é raridade, deve ser preservado.
[...]
Como o silêncio pode dialogar com a autonomia do jovem leitor?
Cristiane Tavares – Silêncio e autonomia leitora andam lado a lado. Do mesmo modo que é importante compartilhar as leituras e conversar sobre os livros, é fundamental respeitar e proporcionar momentos de silêncio depois da leitura. Ler sem precisar prestar contas, ler sem precisar convencer o outro a ler também, ler sem precisar elaborar rapidamente o que se leu. Uma situação alimenta a outra, a autonomia se constrói firmada na partilha e, em especial na escola, as duas situações precisam ser garantidas: ler com os outros e ler sozinho. Teresa Colomer reflete muito sobre isso em Andar entre livros – a leitura literária na escola (Global, 2007) e destaca a importância de garantir momentos de leitura silenciosa na sala de aula: “A criação de um espaço de leitura individual na escola pretende dar a oportunidade de ler a todos os alunos; aos que têm livros em casa e aos que não os têm, aos que dedicam tempo de lazer à leitura e aos que só leriam nos minutos dedicados a realizar as tarefas escolares na aula. A leitura autônoma, continuada, silenciosa, de gratificação imediata e livre escolha é imprescindível para que o próprio texto ensine a ler.”
(Texto adaptado. Disponível em:http://www.blogdaletrinhas.com.br/conteudos/visualizar/Os-nao-ditos-das-leituras-silenciosas
TEXTO 2
Campo Geral
Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Veredado-Frango-d'Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos Campos Gerais, mas num covão em trecho de matas, terra preta, pé de serra. Miguilim tinha oito anos. Quando completara sete, havia saído dali, pela primeira vez: o tio Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela, para ser crismado no Sucuriju, por onde o bispo passava. Da viagem, que durou dias, ele guardara aturdidas lembranças, embaraçadas em sua cabecinha. De uma, nunca pôde se esquecer: alguém, que já estivera no Mutúm, tinha dito: ― "É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre..."
Mas sua mãe, que era linda e com cabelos pretos e compridos, se doía de tristeza de ter de viver ali. Queixava-se, principalmente nos demorados meses chuvosos, quando carregava o tempo, tudo tão sozinho, tão escuro, o ar ali era mais escuro; ou, mesmo na estiagem, qualquer dia, de tardinha, na hora do sol entrar. — "Oê, ah, o triste recanto..." — ela exclamava. Mesmo assim, enquanto esteve fora, só com o tio Terêz, Miguilim padeceu tanta saudade, de todos e de tudo, que às vezes nem conseguia chorar, e ficava sufocado. E foi descobriu, por si, que, umedecendo as ventas com um tico de cuspe, aquela aflição um pouco aliviava. Daí, pedia ao tio Terêz que molhasse para ele o lenço; e tio Terêz, quando davam com um riacho, um minadouro ou um poço de grota, sem se apear do cavalo abaixava o copo de chifre, na ponta de uma correntinha, e subia um punhado d'água. Mas quase sempre eram secos os caminhos, nas chapadas, então tio Terêz tinha uma cabacinha que vinha cheia, essa dava para quatro sedes; uma cabacinha entrelaçada com cipós, que era tão formosa. — "É para beber, Miguilim..." — tio Terêz dizia, caçoando. Mas Miguilim ria também e preferia não beber a sua parte, deixava-a para empapar o lenço e refrescar o nariz, na hora do arrocho. Gostava do tio Terêz, irmão de seu pai.
Quando voltou para casa, seu maior pensamento era que tinha a boa notícia para dar à mãe: o que o homem tinha falado — que o Mutúm era lugar bonito... A mãe, quando ouvisse essa certeza, havia de se alegrar, ficava consolada. Era um presente; e a ideia de poder trazê-lo desse jeito de cor, como uma salvação, deixava-o febril até nas pernas. Tão grave, grande, que nem o quis dizer à mãe na presença dos outros, mas insofria por ter de esperar; e, assim que pôde estar com ela só, abraçou-se a seu pescoço e contou-lhe, estremecido, aquela revelação. A mãe não lhe deu valor nenhum, mas mirou triste e apontou o morro; dizia: — "Estou sempre pensando que lá por detrás dele acontecem outras coisas, que o morro está tapando de mim, e que eu nunca hei de poder ver..." Era a primeira vez que a mãe falava com ele um assunto todo sério. No fundo de seu coração, ele não podia, porém, concordar, por mais que gostasse dela: e achava que o moço que tinha falado aquilo era que estava com a razão. Não porque ele mesmo Miguilim visse beleza no Mutúm — nem ele sabia distinguir o que era um lugar bonito e um lugar feio. Mas só pela maneira como o moço tinha falado: de longe, de leve, sem interesse nenhum; e pelo modo contrário de sua mãe — agravada de calundú e espalhando suspiros, lastimosa. No começo de tudo, tinha um erro — Miguilim conhecia, pouco entendendo. Entretanto, a mata, ali perto, quase preta, verde-escura, punha-lhe medo.
(ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 11.ed. São Paulo: Nova Fronteira, 2001.)
Os textos abaixo tratam da relação entre índios e brancos em momentos distintos. O Documento 1
traz a memória contemporânea de um dos netos de mulheres indígenas que foram "pegas no laço", prática
recorrente desde o período colonial até o início do século XX. O Documento 2 enfoca o conflito entre índios e
colonizadores no sertão mineiro, no século XVIII. Leia atentamente:
Documento 1: "Meu pai disse que meu avô contou que minha avó era muito linda e que olhou bem nos seus olhos
antes de correr. Meu avô ficou enfeitiçado por ela. Imediatamente ele tirou o laço do lombo do cavalo em que
estava montado e a laçou. Ela, no começo, esperneou, gritou, chamou pelos outros ‘índios’, mas ninguém voltou, e
meu avô a levou para casa e com ela teve nove filhos. Meu avô contou para meu pai que vovó era baixinha, tinha
cabelos longos bem pretinhos e olhos puxadinhos. Ela ficava horas sentada na frente de casa penteando os cabelos e
com os olhos perdidos no horizonte. Meu avô dizia que ela ficou a vida inteira aguardando que sua ‘tribo’ viesse
resgatá-la. Nunca ninguém apareceu."
(Texto adaptado. Disponível em:<https://bit.ly/2OQmemL> . Acesso em: 31 jul. 2018.)
Documento 2: "O ápice da violência que colocou soldados e posseiros contra os índios no sertão mineiro aconteceu
não no início da corrida do ouro, como se poderia imaginar, mas durante a segunda metade do século XVIII, na
região oriental da capitania. Durante os séculos XVI e XVII, diversos grupos indígenas haviam se retirado para o
interior, fugindo da colonização da costa. No século XVIII, a explosão da mineração provocou uma linha consolidada
de construção de vilas e lugarejos coloniais a oeste desses grupos [...]. O resultado foi a criação de uma zona de
refúgio nas florestas a leste da capitania. [...] A apropriação brusca da terra dos nativos do sertão do leste relativiza a
alegação dos posseiros e dos oficiais da colônia de que os portugueses entraram na floresta virgem como
mensageiros da civilização, forçados a usar a violência em autodefesa quando atacados pelos incorrigíveis
‘selvagens’."
(RESENDE, Maria Leônia Chaves de; LANGFUR, Hal. Minas Gerais indígena: a resistência dos índios nos sertões e nas vilas de El-Rei. Tempo,
Niterói, v. 12, n. 23, p. 5-22, 2007, p. 8.)
Sobre este assunto, assinale a alternativa CORRETA:
Os textos abaixo tratam da relação entre índios e brancos em momentos distintos. O Documento 1 traz a memória contemporânea de um dos netos de mulheres indígenas que foram "pegas no laço", prática recorrente desde o período colonial até o início do século XX. O Documento 2 enfoca o conflito entre índios e colonizadores no sertão mineiro, no século XVIII. Leia atentamente:
Documento 1: "Meu pai disse que meu avô contou que minha avó era muito linda e que olhou bem nos seus olhos antes de correr. Meu avô ficou enfeitiçado por ela. Imediatamente ele tirou o laço do lombo do cavalo em que estava montado e a laçou. Ela, no começo, esperneou, gritou, chamou pelos outros ‘índios’, mas ninguém voltou, e meu avô a levou para casa e com ela teve nove filhos. Meu avô contou para meu pai que vovó era baixinha, tinha cabelos longos bem pretinhos e olhos puxadinhos. Ela ficava horas sentada na frente de casa penteando os cabelos e com os olhos perdidos no horizonte. Meu avô dizia que ela ficou a vida inteira aguardando que sua ‘tribo’ viesse resgatá-la. Nunca ninguém apareceu."
(Texto adaptado. Disponível em:<https://bit.ly/2OQmemL>