Leia os textos I e II e responda a QUESTÃO.
Texto I
Texto II
- Sem merenda: quando férias escolares significam fome no
Brasil
"Me corta o coração eles quererem um pão e eu não ter. Já
coloquei os meninos na escola pra isso mesmo, por causa da
merenda. Um pouquinho de arroz sempre alguém me dá, mas
nas férias complica", afirma Alessandra, que, desempregada,
coleta latinhas na favela de Paraisópolis, em São Paulo, onde
mora. [...]
O drama de Alessandra não é incomum. As férias
escolares, quando muitas crianças deixam de ter o acesso
diário à merenda, intensificam a vulnerabilidade social de
muitas famílias em todo o país. Embora variem em conteúdo e
qualidade (às vezes, são apenas bolacha ou pão, em outras,
são refeições completas de arroz, feijão, legumes e carne), as
merendas ocupam função importante no dia a dia de certos
alunos. Para essas crianças, nos períodos sem aulas é que a
fome, uma ameaça ao longo de todo ano, torna-se uma
realidade a ser enfrentada. [...]
Embora não haja estudos nacionais que indiquem o
tamanho da insegurança alimentar durante o período de férias
escolares, uma série de indicadores comprova a evolução da
pobreza no país e o modo como ela incide sobre as crianças.
De acordo com a Fundação Abrinq, que fez cálculos, a
partir de dados do IBGE, 9 milhões de brasileiros entre zero e
14 anos do Brasil vivem em situação de extrema pobreza. O
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da
Saúde (Sisvan) identificou, no ano retrasado, 207 mil crianças
menores de cinco anos com desnutrição grave no Brasil.
A mais recente pesquisa de Segurança Alimentar do IBGE,
de 2013, apontava que uma a cada cinco famílias brasileiras
tinha restrições alimentares ou preocupação com a
possibilidade de não ter dinheiro para pagar comida.
Se a pesquisa fosse feita hoje, a família da faxineira
Marinalva Maria de Paula, de 57 anos, se enquadraria nessa
condição. Com uma renda de R$ 360,00 mensais para três
adultos e uma criança, ela se vê cotidianamente frente a
decisões dramáticas: "Se eu pagar a prestação do apartamento
ou a conta de água, não temos o que comer‖. [...]
O fenômeno que acontece na casa da faxineira já havia
sido identificado pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas (Ibase) em 2008, quando um terço dos titulares do
Bolsa Família declaravam em pesquisa que a alimentação da
família piorava durante as férias escolares. [...]
Marinalva não consegue emprego formal há quatro anos.
Ela está muito longe de atingir a renda mínima familiar,
estimada pelo Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (Dieese) em R$ 4.214,62, para
suprir sem carências as necessidades com alimentação,
moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer
e previdência dos quatro integrantes da casa. O valor,
calculado em julho, equivale a aproximadamente quatro vezes
o salário mínimo atual, de R$ 998,00.
Fonte: IDOETA, Paula Adamo; SANCHES, Mariana. In: BBC News Brasil. 15 jul. 2019.
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48953335.
Acesso em: 09 agost. 2019. (texto adaptado).