Questão ff28fcf4-1b
Prova:UNESPAR 2018
Disciplina:Filosofia
Assunto:Conceitos Filosóficos

À hegemonia do sujeito corresponde o que se convencionou denominar em Descartes de primado da representação. Podemos dizer, em princípio, que representação é todo e qualquer conteúdo presente na mente. Para uma teoria realista do conhecimento, como era por exemplo aquela que predominava na época de Descartes, a representação é apenas o reflexo de objetos particulares ou então a transfiguração abstrata da ordenação do mundo material. Nessa perspectiva, tudo aquilo que o espírito representa já foi alguma vez objeto da percepção, pois nada poderia estar presente na mente sem que tivesse estado antes nos sentidos. Assim, a questão do conhecimento consistiria em explicar o trajeto das coisas à mente por intermédio da sensibilidade e a transformação do particular e divisível em essência universal e indivisível, presente no intelecto.

SILVA, F.L e. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Ed. Moderna, 1993.


René Descartes (1596-1650) é considerado o filósofo que inaugura o pensamento moderno. O que caracteriza a noção cartesiana de conhecimento é a:

A
Correção do intelecto por meio da sensibilidade;
B
Ordenação dos objetos particulares na mente;
C
Transformação do sujeito em representação;
D
Concepção de verdade como totalidade de particulares;
E
Noção de verdade universal concebida no intelecto.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Alternativa correta: E

Tema central: trata-se da epistemologia cartesiana: como o conhecimento e a verdade aparecem ao sujeito que pensa. É preciso distinguir a função da sensibilidade (representações, imagens) e a função do intelecto (ideias claras e distintas, universalidade).

Resumo teórico: Descartes inaugura o moderno ao privilegiar o sujeito cognoscente. Para ele, sentidos fornecem representações contingentes; o intelecto alcança a certeza por meio de ideias claras e distintas — não meros reflexos dos particulares, mas apreensões de verdades universais (ver Discurso do Método; Meditações Metafísicas). A verdade é verificada pelo entendimento, não pela multiplicidade sensorial.

Justificativa da alternativa E: Noção de verdade universal concebida no intelecto sintetiza a posição cartesiana: o conhecimento verdadeiro tem caráter universal e é apreendido pelo intelecto (ideias claras e distintas). O texto de apoio fala da transformação do particular em essência universal no intelecto — exatamente a ideia de verdade universal.

Análise das alternativas incorretas:

A — «Correção do intelecto por meio da sensibilidade»: invertida. Para Descartes, é o intelecto que corrige juízos incertos; a sensibilidade fornece imagens falíveis. Logo, não é a ideia central.

B — «Ordenação dos objetos particulares na mente»: descreve a presença de representações, mas reduz o conhecimento cartesiano a mera ordenação dos particulares; falta o papel do intelecto como fonte da universalidade e da verdade.

C — «Transformação do sujeito em representação»: confunde sujeito com conteúdo. Cartesiano enfatiza o sujeito pensante (res cogitans) que representa, não a transformação do sujeito em representação.

D — «Concepção de verdade como totalidade de particulares»: típico de um empirismo agregado; Descartes não define verdade como soma de particulares sensíveis, mas como clareza/distinção intelectual e universalidade.

Dica de prova: busque palavras-chave no enunciado — «universal», «intelecto», «representação», «sensibilidade» — e verifique a direção causal pretendida (os sentidos → representações falíveis; o intelecto → verdades universais). Aposte na alternativa que enfatiza o papel do intelecto.

Fontes úteis: René Descartes — Meditações Metafísicas; Discurso do Método; SILVA, F.L.E., Descartes: a metafísica da modernidade (1993).

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