Certos músicos agradavam tanto ao público da Corte por seu talento especial como virtuose ou como compositor, que sua fama se espraiava para além da Corte local onde estavam empregados, chegando aos mais altos níveis. Eram chamados para tocar nas Cortes dos poderosos, como aconteceu com Mozart; imperadores e reis exprimiam abertamente prazer com sua arte e admiração por suas realizações. Tinham permissão para jantar à mesma mesa — normalmente em troca de uma execução ao piano; muitas vezes se hospedavam em seus palácios quando viajavam e assim conheciam intimamente seu estilo de vida e seu gosto.

ELIAS, N. Mozart, sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995 (adaptado).

Com base no caso descrito, qual elemento histórico do Antigo Regime contrasta com o trânsito de intelectuais e artistas pelas Cortes?

Rigidez das estruturas sociais.

Fragmentação do poder estatal.

Autonomia de profissionais liberais.

Harmonia das relações interindividuais.

Racionalização da administração pública.

Gabarito comentado

Eulália FerreiraEx-Coordenadora de História do Colégio Pedro II (RJ), Mestra em Relações Internacionais (PUC-Rio) e Profª com o título "Notório Saber" pelo Colégio Pedro II (RJ)

O autor da obra citada “ Mozart: a sociologia de um gênio", o sociólogo Norbert Elias, destacou-se pela análise cuidadosa e acurada da chamada época moderna na Europa, dos séculos XVI, XVII e XVIII.

A idade moderna, no entanto, não era, por assim dizer, tão moderna assim. Há características da época feudal que permanecem, tais como a estrutura social rígida e hierarquizada. A posição social dos indivíduos dentro da comunidade era determinada por sua situação de nascimento. Desta forma a mobilidade social era bastante restrita e a união entre pessoas de grupos sociais diferentes vista como “mésalliance" ou seja, uma “má aliança", principalmente quando significava a perda do status de nobreza.

Uma das poucas oportunidades de trânsito entre as camadas sociais advinha do talento de um artista. É o que enfatiza Norbert Elias ao tratar da vida de Mozart, virtuose e compositor desde a infância.

Além da leitura atenta do trecho e da entrada da questão, é necessário conhecimento sobre os fundamentos e características do Antigo Regime na Europa dos Tempos Modernos. Não é necessário, embora aconselhável, o conhecimento do autor e sua obra.

A questão não foi elaborada com muita clareza, até mesmo porque a pergunta está feita de forma invertida. Ou seja: o que “contrasta" e não o que “combina" com a situação descrita no trecho transcrito.

A) CORRETA- A sociedade de corte – característica do Antigo Regime – foi marcada pela rigidez dada pela estratificação baseada no nascimento. Isso faz com que o trânsito entre grupos seja difícil e sempre uma “concessão" especial, como aquela dada a artistas particularmente talentosos, como Mozart.

B) INCORRETA- A fragmentação do poder foi característica da Europa feudal e não do Antigo Regime quando, de forma contrária, houve uma concentração do poder nas mãos de reis. E não se contrasta com o descrito no trecho transcrito.

C) INCORRETA- O conceito de “profissionais liberais" não é desta época. É posterior. Os artistas eram empregados dos ricos e poderosos. Portanto, não pode ser apresentado como contraste à cena descrita.

D) INCORRETA- As relações entre indivíduos não são harmônicas. Sempre há conflitos entre os indivíduos de um grupo humano.

E) INCORRETA- Não há relação entre a vida dos artistas e a administração pública à época do Antigo Regime.

Gabarito do Professor: Letra A.

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