Questão faf4c405-06
Prova:UNICENTRO 2015
Disciplina:Filosofia
Assunto:

Leia o texto a seguir.

Os argumentos expostos por Descartes no intuito de fundamentar sua filosofia têm como ponto basilar a noção do cogito, ergo sum: a partir de um ato de consciência (a dúvida), instaura-se um processo que vai culminar com a certeza não apenas do eu, como também da possibilidade de, a partir dele, deduzir o mundo.

(HANSEN, G. L. Modernidade, Utopia e Trabalho. Londrina: Edições CEFIL, 1999. p.52.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a construção do cogito, conforme elaborado na filosofia cartesiana, considere as afirmativas a seguir.

I. O cogito é uma autoevidência originária revelada pela própria razão.
II. O cogito é o ponto de partida da dúvida enquanto recurso metodológico.
III. O cogito assegura o fundamento para a certeza do mundo exterior independente de Deus.
IV. O cogito é a superação do ceticismo e da demonstração de certeza irrefutável.

Assinale a alternativa correta.

A
Somente as afirmativas I e II são corretas.
B
Somente as afirmativas I e IV são corretas.
C
Somente as afirmativas III e IV são corretas.
D
Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
E
Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Resposta correta: B

Tema central: A questão trata da construção do cogito, ergo sum em Descartes — sua posição como verdade primeira, a relação com a dúvida metódica e o papel na resolução do ceticismo.

Resumo teórico rápido: Em Meditações Metafísicas (1641) Descartes inicia por duvidar de tudo (dúvida metódica) para descobrir uma verdade absolutamente segura. Ao observar que mesmo duvidando ele pensa, conclui que existe enquanto pensa: o cogito é uma verdade imediata e autoevidente — clara e distinta — que serve como ponto de partida do conhecimento. A certeza sobre o mundo exterior só é buscada depois, por meio das provas da existência de Deus e da veracidade das ideias claras e distintas.

Justificativa da alternativa B (I e IV corretas):

I — CORRETA: O cogito é apresentado por Descartes como uma verdade autoevidente e imediata, apreendida pela razão (clareza e distinção), logo é correta a afirmação de que é uma autoevidência originária.

IV — CORRETA: O cogito funciona como resposta ao ceticismo radical: encontra-se uma certeza indubitável (a existência do sujeito pensante), portanto representa, de fato, uma superação inicial do ceticismo ao fornecer uma demonstração de certeza irrefutável para esse núcleo.

Análise das alternativas incorretas:

II — ERRADA: Afirma que o cogito é o ponto de partida da dúvida. Pelo método cartesiano, o ponto de partida é a dúvida; o cogito surge como conclusão indubitável desse procedimento. Logo, inverter a ordem é erro conceitual.

III — ERRADA: Diz que o cogito assegura a certeza do mundo exterior independente de Deus. Descartes não chega ao mundo externo apenas pelo cogito: precisa demonstrar a existência e a bondade de Deus para garantir que as claras e distintas percepções (e, assim, o mundo externo) não são enganadoras. Portanto a certeza do mundo exterior não é assegurada independentemente de Deus.

Dica de prova / interpretação: Atente para termos absolutos como "ponto de partida" e "independente de"; em questões sobre Descartes, sempre questione a sequência: dúvida → cogito → provas da existência de Deus → restituição da confiança nas ideias e no mundo exterior.

Fonte principal: René Descartes, Meditações Metafísicas (1641). Para leituras introdutórias: textos comentados por Cottingham e traduções críticas.

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