Leia o texto a seguir.
Com efeito, relativamente à natureza, a experiência dá-nos a regra e é a fonte da verdade; no que toca
a leis morais, a experiência é (infelizmente!) a madre da aparência e é altamente reprovável extrair as
leis acerca do que devo fazer daquilo que se faz ou querer reduzi-las ao que é feito.
(Adaptado de: KANT, I. Crítica da Razão Pura. Trad. de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. 3.ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1994. p.312.)
Com base na leitura do texto e nos conhecimentos sobre o comparativo entre conhecimento e ação em
Kant, atribua V (verdadeiro) ou F (falso) às afirmativas a seguir.
( ) A verdade e a moral se confundem, visto que ambas buscam a realização da justiça natural.
( ) O contexto do dever-ser se realiza pautado pela disposição natural de como as coisas são.
( ) O conhecimento deve ser alcançado a partir da experiência, e a ação moral a ela não se limita.
( ) Demonstra haver uma dicotomia entre razão teórica (conhecimento) e razão prática (ação).
( ) A objetividade da moral se alcança em parâmetros racionais distante da necessidade natural.
Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo, a sequência correta.
Gabarito comentado
Alternativa correta: E — sequência (de cima para baixo): F, F, V, V, V.
Tema central: a questão explora a distinção kantiana entre conhecimento (razão teórica) e ação moral (razão prática), especialmente a tese de que não se deve derivar o dever‑ser (o que devemos fazer) do fato (como as coisas são). Para resolver é preciso saber que, em Kant, a experiência fornece regras para a natureza, mas a moralidade tem autonomia racional e não se funda em dados empíricos (ver: Crítica da Razão Pura; Fundamentação da Metafísica dos Costumes).
Resumo teórico sucinto: - Razão teórica: trata do conhecimento; conteúdos empíricos dependem da experiência, embora a mente imponha formas a priori. - Razão prática: trata do agir moral; normas vêm da autonomia da razão prática (imperativo categórico) e não da experiência; é a separação clássica entre “é” e “deve” em Kant.
Análise das afirmativas
1) “A verdade e a moral se confundem...” — Falso. Em Kant, verdade (teórica) e moralidade (prática) são esferas distintas; a moral não se reduz a verdade empírica nem busca realizar uma “justiça natural”.
2) “O contexto do dever-ser se realiza pautado pela disposição natural...” — Falso. Kant rejeita derivar o dever do dado natural (não se deve extrair o “dever” do “é”); o dever é produto da razão prática autônoma, não da inclinação natural.
3) “O conhecimento deve ser alcançado a partir da experiência, e a ação moral a ela não se limita.” — Verdadeiro. O trecho citado responde que, relativamente à natureza, a experiência é fonte da regra; já a moralidade não se reduz à experiência (é autonomia da razão prática).
4) “Demonstra haver uma dicotomia entre razão teórica (conhecimento) e razão prática (ação).” — Verdadeiro. Kant distingue claramente as funções e limites de cada razão: uma investiga o ser; a outra legisla normas do agir.
5) “A objetividade da moral se alcança em parâmetros racionais distante da necessidade natural.” — Verdadeiro. A objetividade moral, para Kant, é racional (imperativo categórico, autonomia) e não baseada em necessidades naturais ou inclinações (heteronomia).
Fontes recomendadas: Immanuel Kant — Crítica da Razão Pura; Fundamentação da Metafísica dos Costumes; Crítica da Razão Prática. Para estudo introdutório, consulte também comentários acadêmicos sobre o problema “is/ought” e o conceito de autonomia moral.
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