O jovem que nasceu e cresceu sob a ditadura perdeu muitos contatos com a realidade e com a história como processo vivo. Mas conheceu em sua carne o que é a opressão e como a repressão institucional (às vezes inconsciente e definitiva, dentro da família, da escola etc.) é odiosa. Essa é uma riqueza ímpar. O potencial radical de um jovem — pobre, de pequena burguesia ou “rico” — que sofre prolongadamente uma experiência dessas, constitui um agente político valioso. Ele está “embalado” para rejeitar e combater a opressão sistemática e a repressão dissimulada, o que o converte em um ser político inconformista promissor.

FERNANDES, F. O dilema político dos jovens. In: Florestan Fernandes na constituinte: leituras para reforma política. São Paulo: Expressão Popular, 2014.

No contexto mencionado, Florestan Fernandes tematiza um efeito inesperado do exercício do poder político decorrente da

evolução histórica do conflito de gerações.

fragilidade moral das instituições públicas.

impossibilidade de realização do controle total.

legitimação ideológica do nacionalismo estatal.

restrição da oferta de oportunidades de educação.

Gabarito comentado

Eulália FerreiraEx-Coordenadora de História do Colégio Pedro II (RJ), Mestra em Relações Internacionais (PUC-Rio) e Profª com o título "Notório Saber" pelo Colégio Pedro II (RJ)

A questão apresentada não é fácil. A orientação do texto é bastante indireta e as opções apresentadas exigem uma interpretação cuidadosa não só do trecho como da pergunta que é proposta. Não há maior necessidade de conhecimento detalhado do período ao qual se refere o autor. É uma questão de interpretação de texto, que não está nem clara nem fácil.

É preciso também evitar juízo de valor ao ter o texto. O trecho, retirado de obra de Florestan Fernandes, sociólogo e político brasileiro, refere-se ao período do regime militar, entre 1964 e 1985, que pode ser entendido como ditatorial, principalmente após a decretação do Ato Institucional número 5, que retira direitos dos cidadãos e concentra poderes na chefia do poder executivo central.

A reflexão de Florestan tem como tema o efeito destes tempos na atitude política de jovens, que viveram e sentiram a época citada. Ou seja: qual o efeito de qualquer tipo de autoritarismo e censura na visão de política de jovens. Jovens que, segundo a visão do autor, podem não ter tido a chance de ação política mas que conheceram bastante bem o significado de “ opressão"

Pede-se que seja assinalada a alternativa que mostra o que Florestan indica como a origem do “efeito inesperado do exercício do poder político" de cunho autoritário. Ou seja, qual ação gera um efeito inesperado. É um raciocínio indireto.

A) INCORRETA- O período de 1964 a 1985 não torna mais ou menos agudo o conflito de gerações.

B) INCORRETA- A questão em pauta não é a moralidade ou fragilidade das instituições públicas.

C) CORRETA- esta é a opção correta. Mesmo uma ditadura não consegue o total controle dos cidadãos.

D) INCORRETA- Florestan Fernandes não discute o nacionalismo da ideologia da época mas a questão da opressão.

E) INCORRETA- Ao ler o trecho percebe-se claramente que a temática não se refere à Educação.

Gabarito do Professor: Letra C.