O historiador Jorge Ferreira costuma lembrar a perplexidade da oposição a Getúlio diante
das manifestações de afeto popular após o período ditatorial. O atendimento pontual de
necessidades populares, aliado ao discurso dos “ricos contra os pobres”, dos “grandes contra
os pequenos” - que vitimiza e heroiciza ao mesmo tempo -, poderia se colar a uma estrutura
política, econômica e social bastante impopular e até autoritária. A política, nesse caso, se
vincularia mais ao discurso do que à prática, mas dependeria inevitavelmente da capacidade
de decodificação das demandas populares em cada momento.
Fonte: DAHÁS, Nashla. A força das circunstâncias. Revista de História. Adaptado http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/a-forca-das-circunstancias | Publicado: 23/10/2010 | Acesso: 28/09/2016
O texto descreve a imagem de Getúlio Vargas ao final do Estado Novo. A caracterização política
contida no texto é identificada como:
Gabarito comentado
Resposta correta: E — Populismo
Tema central: a questão avalia a capacidade de reconhecer a caracterização política do período final do Estado Novo através de sinais discursivos e práticos — vínculo direto entre líder e massas, uso do antagonismo “ricos x pobres” e atendimento pontual de demandas populares. Esse conjunto aponta para populismo.
Resumo teórico básico: Populismo descreve estratégias político-eleitorais e estilos de governo em que um líder ou movimento constrói um laço direto com “o povo”, frequentemente contrapondo-o a “as elites”, combinando retórica de identificação com políticas clientelistas ou redistributivas pontuais. Pode coexistir com práticas autoritárias; o essencial é o discurso que mobiliza apoio popular e a personificação do poder. (Ver: Ernesto Laclau, On Populist Reason; discussões sobre populismo em historiografia brasileira como as de Jorge Ferreira.)
Por que a alternativa E é correta: o enunciado destaca o apelo afetivo às massas, o uso do antagonismo entre ricos e pobres e a capacidade de “colar” esse discurso a uma estrutura impopular/autoritária. Esses traços são clássicos do populismo: liderança que se legitima por meio do carisma e da mobilização direta, valorizando o discurso sobre a coerência institucional.
Análise das alternativas incorretas:
A — Trabalhismo: refere‑se à ênfase nas políticas para trabalhadores e à inserção do Estado nas relações laborais. Embora o Estado varguista tenha características trabalhistas (legislação social), o texto focaliza o estilo político e o vínculo discursivo com as massas, não apenas reformas laborais.
B — Autoritarismo: descreve a forma de exercício do poder (concentração e limitação de liberdades). O autoritarismo está presente no Estado Novo, mas o enunciado fala da imagem construída e do apelo popular — isto é, o aspecto populista do regime, não apenas sua natureza autoritária.
C — Queremismo: trata do movimento de apoio a João Goulart nos anos 1950/60 (“Queremos Getúlio” foi outro fenômeno histórico), mas é termo relacionado a um movimento específico e posterior; o texto fala de estratégia política mais ampla, não desse movimento pontual.
D — Sindicalismo: remete à organização e ação dos sindicatos. Embora sindicatos e lideranças trabalhistas tenham papel no período, o foco do enunciado é o apelo popular e o discurso anti‑elite, não a atuação sindical em si.
Dica de interpretação: procure palavras-chave — “discurso dos ricos contra os pobres”, “afetos populares”, “discurso mais do que prática” — que remetem a mecanismo de construção de legitimidade (populismo), não apenas a uma política setorial ou ao tipo de regime.
Fontes indicadas: artigo de Nashla Dahás (Revista de História, 2010) citado no enunciado; teorias sobre populismo: Ernesto Laclau, On Populist Reason. Para aprofundar em Vargas, consulte obras de historiadores como Jorge Ferreira.
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