O autor do Texto 2, em muitas de suas passagens,
preferiu se expressar na primeira pessoa do plural
(“Não podemos esquecer...”; “Todos nós temos” etc.)
Essa opção deveu-se a uma estratégia do autor para:
TEXTO 2
Falar difícil é falar bem?
(1) A linguagem jurídica é tida, por muitas pessoas, como sinônimo de linguagem inacessível. Muitos de nós que lidamos com
o Direito adoramos falar difícil, amamos usar expressões que quase ninguém entende, sentimos prazer em exibir expressões
latinas de utilidade duvidosa.
(2) Naturalmente, toda ciência pressupõe uma terminologia própria, distinta do falar comum. Isso é compreensível e, em certa
medida, esperado. “Invenção”, “tradição”, “confusão”, por exemplo, no Código Civil, são termos cujos sentidos diferem
completamente do falar comum. Dizer que determinado juiz é “incompetente” não significa – ao contrário do que possa parecer
a alguém não habituado com a linguagem processual – que o magistrado em questão não possua virtudes técnicas, mas
apenas significa que ele não está habilitado, pelas regras processuais, a conhecer e julgar determinada causa.
(3) A linguagem técnica, portanto, é imprescindível no falar jurídico, como de resto em qualquer ciência. Não é disso, contudo,
que estamos falando. Queremos dizer que ficou no passado – no museu das ideias – a imagem que confunde erudição com
linguagem empolada.
(4) Vivemos dias ágeis, velozes. Todos nós reclamamos da falta de tempo. Não faz sentido – como era bastante comum no
século passado – petições “intermináveis”, com centenas de páginas.
(5) Todos nós temos, atualmente – estejamos ou não conscientes disso – um dever de concisão e clareza. Devemos, na
medida do possível, ser concisos. Devemos, de igual modo, na medida do possível, ser claros. Um filósofo certa vez apontou:
a clareza é a cortesia do escritor.
(6) Não podemos esquecer que os destinatários das decisões judiciais são pessoas comuns, pessoas que não têm – nem se
exige que tenham – formação jurídica. É de se esperar que eles entendam minimamente o que estamos dizendo.
(7) Não é belo nem sábio usar uma linguagem espalhafatosa diante de alguém que não consegue compreender o que está
sendo dito. É possível, quase sempre, substituir palavras pretensiosas por expressões mais simples, sem perder o sentido
técnico. Como resumiu, certa vez, um físico inglês: simplicidade é a coragem de abordar o essencial.
Felipe P. B. Netto. Disponível em: http://domtotal.com/artigo.php?artId=516. Acesso em 06/09/2017.
(2) Naturalmente, toda ciência pressupõe uma terminologia própria, distinta do falar comum. Isso é compreensível e, em certa medida, esperado. “Invenção”, “tradição”, “confusão”, por exemplo, no Código Civil, são termos cujos sentidos diferem completamente do falar comum. Dizer que determinado juiz é “incompetente” não significa – ao contrário do que possa parecer a alguém não habituado com a linguagem processual – que o magistrado em questão não possua virtudes técnicas, mas apenas significa que ele não está habilitado, pelas regras processuais, a conhecer e julgar determinada causa.
(3) A linguagem técnica, portanto, é imprescindível no falar jurídico, como de resto em qualquer ciência. Não é disso, contudo, que estamos falando. Queremos dizer que ficou no passado – no museu das ideias – a imagem que confunde erudição com linguagem empolada.
(4) Vivemos dias ágeis, velozes. Todos nós reclamamos da falta de tempo. Não faz sentido – como era bastante comum no século passado – petições “intermináveis”, com centenas de páginas.
(5) Todos nós temos, atualmente – estejamos ou não conscientes disso – um dever de concisão e clareza. Devemos, na medida do possível, ser concisos. Devemos, de igual modo, na medida do possível, ser claros. Um filósofo certa vez apontou: a clareza é a cortesia do escritor.
(6) Não podemos esquecer que os destinatários das decisões judiciais são pessoas comuns, pessoas que não têm – nem se exige que tenham – formação jurídica. É de se esperar que eles entendam minimamente o que estamos dizendo.
(7) Não é belo nem sábio usar uma linguagem espalhafatosa diante de alguém que não consegue compreender o que está sendo dito. É possível, quase sempre, substituir palavras pretensiosas por expressões mais simples, sem perder o sentido técnico. Como resumiu, certa vez, um físico inglês: simplicidade é a coragem de abordar o essencial.
Gabarito comentado
TEMA CENTRAL: Interpretação de texto — análise da intenção comunicativa do autor no uso da primeira pessoa do plural (“nós”).
A questão avalia sua capacidade de identificar como escolhas linguísticas — neste caso, o emprego do pronome “nós” — contribuem para criar proximidade e interação entre autor e leitor.
Pela norma-padrão, o uso da primeira pessoa do plural vai além do aspecto gramatical. Segundo gramáticos como Celso Cunha & Lindley Cintra, essa estratégia fortalece o “apelo coletivo”, compartilhando responsabilidades, dúvidas ou reflexões. Isso é frequente em textos argumentativos ou opinativos que desejam incluir o leitor no diálogo.
ALTERNATIVA CORRETA: C
O autor emprega “nós” para mostrar-se interativo, construindo um sentimento de pertencimento ao grupo dos leitores. Frases como “Todos nós temos...” ou “Não podemos esquecer...” convidam o leitor a compartilhar a reflexão, tornando a argumentação mais engajadora e eficaz.
Repare que, segundo Evanildo Bechara (Gramática), essa é uma estratégia discursiva que visa “aproximar autor e leitor, evitando o distanciamento do discurso”. Isso torna o texto mais persuasivo e próximo.
POR QUE AS OUTRAS ALTERNATIVAS ESTÃO ERRADAS?
- A) Respeitar a concordância verbal é obrigação gramatical. No entanto, a escolha do pronome visa interatividade, e não mero atendimento sintático.
- B) O uso do “nós” não expressa ruptura com o passado científico, mas sim aproximação afetiva e dialógica.
- D) Não há fuga da gramática; pelo contrário, o padrão é respeitado.
- E) A proposta do texto é justamente afastar-se do “juridiquês” rebuscado, buscando simplicidade e clareza, não assimilando o estilo tradicional do jurídico.
DICA DE LEITURA ESTRATÉGICA:
Quando perceber verbos ou pronomes na primeira pessoa do plural, pergunte-se: o autor quer me aproximar do debate? Isso costuma indicar construção coletiva de identidade com o leitor.
Resumo: Alternativa C é correta, pois evidencia a intenção do autor de ser interativo e incluir o leitor em sua argumentação. Saber identificar tal estratégia é fundamental para interpretação textual em concursos!
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