Questão f79d6b60-a6
Prova:UEMG 2018
Disciplina:História
Assunto:História do Brasil, Brasil Monárquico – Segundo Reinado 1831- 1889

“As denúncias de que o exército brasileiro ao lutar na guerra (1864-1870) era formado por escravos não são novas. Ao contrário, têm pelo menos cento e vinte anos. Seus primeiros autores foram os redatores dos jornais paraguaios da época que tratavam de menosprezar o exército brasileiro com base no duvidoso argumento de que, por ser formado por negros, deveria ser de qualidade inferior”.

TORAL, André Amaral de. A participação dos negros escravos na guerra do Paraguai. Estudos Avançados. v. 9, nº 24, São Paulo, May/ Aug. 1995 (Adaptado).


Sobre os negros como partícipes da Guerra do Paraguai, analise as assertivas e assinale a alternativa que aponta as corretas.


I. Os exércitos paraguaio, brasileiro e uruguaio tinham alguns batalhões formados exclusivamente por negros. Como exemplos, tem-se o Corpo dos Zuavos da Bahia e o batalhão uruguaio Florida.

II. Na época da Guerra do Paraguai, não existiam negros escravos ou ex-escravos no exército paraguaio. A escravidão havia sido abolida no Paraguai em 1842, por Carlos Lopes, pai de Francisco Solano López.

III. Na época da guerra (1864-1870), no Paraguai, o negro brasileiro era representado como inimigo. O exército brasileiro era o exército macacuno e seus líderes, segundo a propaganda lopizta, eram macacos que pretendiam escravizar o povo paraguaio, conduzindo-os da liberdade à escravidão.

IV. Havia negros no exército brasileiro na Guerra do Paraguai, mas eles já tinham sido libertos.

A
Apenas I e III.
B
Apenas II e IV.
C
Apenas I e IV.
D
Apenas I, II e III.

Gabarito comentado

V
Vanessa CamposMonitor do Qconcursos

Gabarito correto: Alternativa A (Apenas I e III).

Tema central: participação de negros (escravizados e livres) na Guerra do Paraguai e a propaganda política/ racial do conflito. É preciso distinguir entre presença real de combatentes negros nas forças sul‑americanas e as narrativas desmoralizadoras produzidas por jornais e governos.

Resumo teórico: pesquisas históricas (ex.: Toral, 1995; estudos de Whigham e Kraay sobre o Conflito) mostram que as forças brasileiras, paraguaias e uruguaias contaram com destacamentos compostos majoritariamente por negros; ao mesmo tempo, a propaganda lopizta explorou imagens racistas para desqualificar o inimigo — caracterizando o exército brasileiro como "macacuno". No Brasil, muitos negros combateram tanto como alistados livres quanto como escravizados, nem sempre com libertação prévia garantida.

Por que I e III são corretas: I — há memória e documentos de formações como o Corpo dos Zuavos da Bahia (unidade com expressiva presença negra) e unidades uruguaias como o batalhão Florida, indicativas de formações majoritariamente negras. III — a propaganda paraguaia descreveu o exército brasileiro em termos racistas (uso de termos como "macacuno"), visando deslegitimar e ameaçar; apresentavam também líderes brasileiros como bárbaros/brutais e associavam a presença negra a inferioridade.

Por que II está errada: a assertiva afirma categoricamente que "não existiam negros escravos ou ex‑escravos no exército paraguaio" por suposta abolição em 1842 — isso simplifica e distorce a realidade. Não se pode afirmar a inexistência de negros nas forças paraguaias; além disso, as políticas de trabalho e servidão no Paraguai foram complexas, não bastando citar uma data isolada como prova de ausência de soldados negros.

Por que IV está errada: dizer que "havia negros no exército brasileiro, mas eles já tinham sido libertos" generaliza de forma equivocada. Muitos negros serviram ainda em condição de escravizados ou foram alistados sem que a liberdade lhes fosse universalmente assegurada. A presença de livres e escravizados coexistiu; afirmar que já eram todos libertos é falso.

Dica de interpretação: desconfie de afirmações absolutas ("não existiam", "mas eles já tinham sido libertos"); procure evidências documentais (ordenanças, jornais, relatórios militares) e lembre que propaganda de guerra distorce identidades e números.

Fontes sugeridas: André Amaral de Toral (1995), Thomas L. Whigham e estudos de Hendrik Kraay sobre afrodescendentes nas forças militares da região.

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