Questão f49ad4e7-d9
Prova:FAMERP 2019
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A frase “A violência, ele a usara apenas na medida necessária à proteção de seus negócios” expressa uma opinião

Leia o texto de Luiz Eduardo Soares para responder à questão.

    Logo depois que assumi a Secretaria Nacional de Segurança, em 2003, recebi, por vias transversas, uma mensagem de Luciano, da Rocinha. Ele desejava deixar a vida de traficante e viajar para longe. Tinha chegado à conclusão de que seu caminho era a perdição: morreria cedo, de modo cruel, em mãos inimigas. Queria começar de novo e pedia uma chance. Tratara com respeito a comunidade, que era, afinal de contas, sua família. A violência, ele a usara apenas na medida necessária à proteção de seus negócios. Esse era seu ponto de vista, sem dúvida demasiado edulcorado. Não obstante a possível autoidealização, o fato é que explicitá-la, naquele contexto, não deixava de ser significativo, indicando a valorização positiva do lado certo da vida. Era um negociante clandestino, dizia, não um criminoso selvagem: alguns traziam uísque do Paraguai; ele vendia outras drogas. Reivindicava uma diferença importante, no mundo do crime carioca.

(Cabeça de porco, 2005.)

A
do autor do texto, baseada no relato de Luciano.
B
do autor do texto, baseada em relatos da comunidade em que Luciano vivia.
C
da comunidade em que Luciano vivia.
D
de Luciano, sobre a qual o autor faz ponderações.
E
de Luciano, com a qual o autor do texto concorda.

Gabarito comentado

P
Patricia LimaMonitor do Qconcursos

TEMA CENTRAL: Interpretação de Texto, com foco na identificação do ponto de vista e domínio sobre os conceitos de discurso direto e indireto.

Na frase: “A violência, ele a usara apenas na medida necessária à proteção de seus negócios”, o narrador expõe o pensamento do personagem Luciano, mas sem usar suas palavras exatas. Trata-se de um exemplo claro de discurso indireto, um recurso bastante cobrado em vestibulares.

Segundo a norma-padrão (cf. Bechara), o discurso indireto ocorre quando o narrador reescreve o discurso da personagem, ajustando-o à narrativa, com alterações em pronomes e tempos verbais (“ele a usara”). Assim, embora a ideia parta de Luciano, ela aparece mediada pela visão do narrador, que inclusive faz ressalvas (“sem dúvida demasiado edulcorado... não obstante a possível autoidealização…”), demonstrando que não concorda necessariamente com o posicionamento do personagem.

Alternativa correta: D) de Luciano, sobre a qual o autor faz ponderações.

Justificativa: O trecho é a opinião de Luciano, apresentada pelo narrador em discurso indireto, sendo imediatamente seguida por avaliações críticas do autor. Reconhecer essas intervenções é fundamental para evitar erros de interpretação!

Análise das alternativas incorretas:

  • A) do autor, baseada no relato de Luciano: Errada. A opinião não é do autor. O autor apenas expõe e avalia o pensamento de Luciano.
  • B) do autor, baseada em relatos da comunidade: Errada. O trecho não faz referência ao olhar da comunidade, apenas apresenta Luciano e suas justificativas.
  • C) da comunidade em que Luciano vivia: Errada. O discurso é individual, não expressa o ponto de vista da comunidade.
  • E) de Luciano, com a qual o autor concorda: Errada. O autor não demonstra concordância; ao contrário, pondera e critica.

Estratégia para evitar erros: Atenção absoluta à mudança entre os pontos de vista! Expressões como “ele dizia”, pronomes terceiros e juízos do narrador (ponderações críticas) são pistas para não confundir a fala de um personagem com a posição do autor.

Referência: “Nova Gramática do Português Contemporâneo” (Cunha & Cintra), “Moderna Gramática Portuguesa” (Bechara).

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