No terceiro parágrafo do texto 1, o autor alega
que a teoria malthusiana fazia sentido até o século
XVIII com base na ideia de
Desafio da nossa época é lidar com a abundânciaLeandro Narloch, Folha de S.Paulo - 25.abr.2018 às 9h06A abundância, quem diria, se tornou um problema. A
humanidade passou milênios tentando sobreviver à fome,
ao desabrigo e à escassez: hoje precisa aprender a lidar com
excesso.
Temos alimentos demais, bugigangas demais, roupas,
carros, embalagens, papéis, remédios, drogas, livros, filmes,
eletrônicos e diversões demais. Ainda estamos aprendendo a
viver no meio de tantas coisas.
É uma delícia de problema, é claro. Até o século 18, a teoria
malthusiana fazia sentido. O crescimento da população levava
à escassez de comida e assim à diminuição da poluição. Crises
de fome ceifavam multidões todos os séculos.
A Revolução Industrial nos fez escapar dessa armadilha.
Produzindo mais com menos esforço, operamos um milagre: a
população explodiu e a riqueza também. A fome, até então uma
condição natural da humanidade, se tornou uma anomalia.
Luxos que antes eram reservados a reis ou milionários (chás ou
janelas com vidros e cortinas, por exemplo) entraram na casa
de trabalhadores comuns.
É claro que boa parte do mundo ainda enfrenta a fome
e a escassez. Mas não é por falta de conhecimento que isso
acontece. Pelo contrário, o caminho da prosperidade já está
mais ou menos mapeado e pavimentado.
A abundância é um tipo de problema chique, que todo
mundo gostaria de ter. Como o da grã-fina que está cansada
de passar as férias em Paris. Mas ainda assim é um problema.
Muitas más notícias que os jornais publicam hoje são produtos
da abundância: o trânsito, a obesidade, a poluição, o lixo, o
tempo que crianças gastam em frente a telas. Não só crianças,
mas os adultos — que em média tocam 2600 vezes no celular
por dia.
As pessoas parecem meio perdidas entre tanto conforto e
atrações que desviam a atenção. Se perdem em realizações
imediatas de consumo, sem foco e força de vontade para
perseguir grandes desejos ou objetivos mais ousados.
Se o problema já é grave hoje, imagine no futuro. O
autocontrole será cada vez mais necessário. Nossos filhos e
netos terão que aprender desde cedo a se controlar diante do
excesso de comida, de drogas, de opções de vida e de diversão.
O mundo capitalista já resolveu o problema da escassez: precisa
agora de uma educação para a abundância.
Leandro Narloch - Jornalista, mestre em filosofia e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.
Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/leandro-narloch/2018/04/desafio-da-nossa-epoca-e-lidar-com-a-abundancia.shtm> Acesso em: 25 abr. 2018.
A abundância, quem diria, se tornou um problema. A humanidade passou milênios tentando sobreviver à fome, ao desabrigo e à escassez: hoje precisa aprender a lidar com excesso.
Temos alimentos demais, bugigangas demais, roupas, carros, embalagens, papéis, remédios, drogas, livros, filmes, eletrônicos e diversões demais. Ainda estamos aprendendo a viver no meio de tantas coisas. É uma delícia de problema, é claro. Até o século 18, a teoria malthusiana fazia sentido. O crescimento da população levava à escassez de comida e assim à diminuição da poluição. Crises de fome ceifavam multidões todos os séculos. A Revolução Industrial nos fez escapar dessa armadilha. Produzindo mais com menos esforço, operamos um milagre: a população explodiu e a riqueza também. A fome, até então uma condição natural da humanidade, se tornou uma anomalia.
Luxos que antes eram reservados a reis ou milionários (chás ou janelas com vidros e cortinas, por exemplo) entraram na casa de trabalhadores comuns.
É claro que boa parte do mundo ainda enfrenta a fome e a escassez. Mas não é por falta de conhecimento que isso acontece. Pelo contrário, o caminho da prosperidade já está mais ou menos mapeado e pavimentado.
A abundância é um tipo de problema chique, que todo mundo gostaria de ter. Como o da grã-fina que está cansada de passar as férias em Paris. Mas ainda assim é um problema.
Muitas más notícias que os jornais publicam hoje são produtos da abundância: o trânsito, a obesidade, a poluição, o lixo, o tempo que crianças gastam em frente a telas. Não só crianças, mas os adultos — que em média tocam 2600 vezes no celular por dia.
As pessoas parecem meio perdidas entre tanto conforto e atrações que desviam a atenção. Se perdem em realizações imediatas de consumo, sem foco e força de vontade para perseguir grandes desejos ou objetivos mais ousados.
Se o problema já é grave hoje, imagine no futuro. O autocontrole será cada vez mais necessário. Nossos filhos e netos terão que aprender desde cedo a se controlar diante do excesso de comida, de drogas, de opções de vida e de diversão.
O mundo capitalista já resolveu o problema da escassez: precisa agora de uma educação para a abundância.
Leandro Narloch - Jornalista, mestre em filosofia e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.
Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/leandro-narloch/2018/04/desafio-da-nossa-epoca-e-lidar-com-a-abundancia.shtm> Acesso em: 25 abr. 2018.