Questão ef26463d-eb
Prova:
Disciplina:
Assunto:
“Nunca, em tempo algum, qualquer vítima de atropelamento, tentativa de morte, conflito, briga ou
simples indisposição intestinal foi parar num hospital”. Pela afirmativa do narrador, depreendesse que:
“Nunca, em tempo algum, qualquer vítima de atropelamento, tentativa de morte, conflito, briga ou
simples indisposição intestinal foi parar num hospital”. Pela afirmativa do narrador, depreendesse que:
Texto 2: Repórter Policial
[...] Assim como o locutor esportivo jamais chamou nada pelo nome comum, assim também o repórter
policial é um entortado literário. Nessa classe, os que se prezam nunca chamariam um hospital de hospital. De jeito
nenhum. É nosocômio. Nunca, em tempo algum, qualquer vítima de atropelamento, tentativa de morte, conflito,
briga ou simples indisposição intestinal foi parar num hospital. Só vai para o nosocômio.E assim sucessivamente.
Qualquer cidadão que vai à Polícia prestar declarações que possam ajudá-la numa diligência (apelido que
eles puseram no ato de investigar), é logo apelidada de testemunha chave. Suspeito é Mister X, advogado é
causídico, soldado é militar, marinheiro é naval, copeira é doméstica e, conforme esteja deitada, a vítima de um
crime – de costas ou de barriga pra baixo – fica numa destas duas incômodas posições: decúbito dorsal ou decúbito
ventral.
Num crime descrito pela imprensa sangrenta, a vítima nunca se vestiu. A vítima trajava. Todo mundo se
veste… mas, basta virar vítima de crime, que a rapaziada sadia ignora o verbo comum e mete lá: “A vítima traja terno
azul e gravata do mesmo tom”. Eis, portanto, que é preciso estar acostumado ao “métier” para morar no noticiário
policial. Como os locutores esportivos, a Delegacia do Imposto de Renda, os guardas de trânsito, as mulheres dos
outros, os repórteres policiais nasceram para complicar a vida da gente. Se um porco morde a perna de um caixeiro
de uma dessas casas da banha, por exemplo, é batata…a manchete no dia seguinte tá lá: “Suíno atacou
comerciário”.
Outro detalhezinho interessante: se a vítima de uma agressão morre, tá legal, mas se — ao contrário — em
vez de morrer fica estendida no asfalto, está prostrada. Podia estar caída, derrubada ou mesmo derribada, mas um
repórter de crime não vai trair a classe assim à toa. E castiga na página: "Naval prostrou desafeto com certeira
facada." Desafeto — para os que são novos na turma — devemos explicar que é inimigo, adversário, etc. E mais: se
morre na hora, tá certo; do contrário, morrerá invariavelmente ao dar entrada na sala de operações.
De como vive a imprensa sangrenta, é fácil explicar. Vive da desgraça alheia, em fotos ampliadas. Um
repórter de polícia, quando está sem notícia, fica na redação, telefonando pras delegacias distritais ou para os
hospitais, perdão, para os nosocômios, onde sempre tem um cupincha de plantão. [...]
Fonte: STANISLAW, Ponte Preta. São Paulo: Moderna, 1986.
Texto 2: Repórter Policial
[...] Assim como o locutor esportivo jamais chamou nada pelo nome comum, assim também o repórter
policial é um entortado literário. Nessa classe, os que se prezam nunca chamariam um hospital de hospital. De jeito
nenhum. É nosocômio. Nunca, em tempo algum, qualquer vítima de atropelamento, tentativa de morte, conflito,
briga ou simples indisposição intestinal foi parar num hospital. Só vai para o nosocômio.E assim sucessivamente.
Qualquer cidadão que vai à Polícia prestar declarações que possam ajudá-la numa diligência (apelido que
eles puseram no ato de investigar), é logo apelidada de testemunha chave. Suspeito é Mister X, advogado é
causídico, soldado é militar, marinheiro é naval, copeira é doméstica e, conforme esteja deitada, a vítima de um
crime – de costas ou de barriga pra baixo – fica numa destas duas incômodas posições: decúbito dorsal ou decúbito
ventral.
Num crime descrito pela imprensa sangrenta, a vítima nunca se vestiu. A vítima trajava. Todo mundo se
veste… mas, basta virar vítima de crime, que a rapaziada sadia ignora o verbo comum e mete lá: “A vítima traja terno
azul e gravata do mesmo tom”. Eis, portanto, que é preciso estar acostumado ao “métier” para morar no noticiário
policial. Como os locutores esportivos, a Delegacia do Imposto de Renda, os guardas de trânsito, as mulheres dos
outros, os repórteres policiais nasceram para complicar a vida da gente. Se um porco morde a perna de um caixeiro
de uma dessas casas da banha, por exemplo, é batata…a manchete no dia seguinte tá lá: “Suíno atacou
comerciário”.
Outro detalhezinho interessante: se a vítima de uma agressão morre, tá legal, mas se — ao contrário — em
vez de morrer fica estendida no asfalto, está prostrada. Podia estar caída, derrubada ou mesmo derribada, mas um
repórter de crime não vai trair a classe assim à toa. E castiga na página: "Naval prostrou desafeto com certeira
facada." Desafeto — para os que são novos na turma — devemos explicar que é inimigo, adversário, etc. E mais: se
morre na hora, tá certo; do contrário, morrerá invariavelmente ao dar entrada na sala de operações.
De como vive a imprensa sangrenta, é fácil explicar. Vive da desgraça alheia, em fotos ampliadas. Um
repórter de polícia, quando está sem notícia, fica na redação, telefonando pras delegacias distritais ou para os
hospitais, perdão, para os nosocômios, onde sempre tem um cupincha de plantão. [...]
Fonte: STANISLAW, Ponte Preta. São Paulo: Moderna, 1986.
A
Os repórteres policiais raramente usam o termo ‘hospital’.
B
Os repórteres policiais costumam deturpar a realidade.
C
A vítima prefere ficar no anonimato.
D
Pessoas envolvidas em ocorrência policial procuram medicar-se por conta própria.
E
A vítima prefere não ir ao hospital, desse modo não precisa prestar queixa policial.