O Texto 1 discorre, entre outras questões, sobre a atual crise econômica pela qual está passando o
nosso país. Contudo, pode-se dizer que sua principal finalidade é discutir:
Texto 1: A CRISE E SUAS INTERPRETAÇÕES
Quanto mal uma mídia partidarizada pode causar a um País? Que prejuízos a irresponsabilidade dos veículos de
comunicação traz à sociedade?
No Brasil, essas não são perguntas acadêmicas. Ao contrário. Em nossa história, sobram exemplos de períodos em
que a “grande imprensa”, movida por suas opções políticas, jogou contra os interesses da maioria da população.
Apoiou ditaduras, avalizou políticas antipopulares, fingiu não ver os desmandos de aliados. O instituto Vox Populi
acaba de realizar uma pesquisa nacional sobre sentimentos e expectativas a respeito da economia. O levantamento
deixa claro o preço que pagamos por ter a mídia que temos.
A pesquisa tratou principalmente de inflação e desemprego e mostra que a opinião pública vive um pesadelo. Olha
com desconfiança o futuro, teme a perda de renda e emprego, prefere não consumir e não tem disposição de
investir. Está com medo da “crise”.
Todos sabem quão importante é o papel das expectativas na vida econômica. Quando a maioria das pessoas se
convence de que as coisas não vão bem, seu comportamento tende a produzir aquilo que teme: a desaceleração da
economia e a diminuição do investimento público. A “crise” é, em grande parte, provocada pelas expectativas.
Estampada em manchetes e com tratamento de luxo nos noticiários de tevê, a “crise econômica” estava na pauta
dos meios de comunicação muito antes de se tornar uma preocupação real da sociedade. Há ao menos dois anos, é
o principal assunto.
A nova pesquisa mostra que a quase totalidade dos brasileiros, depois de ser bombardeada durante tanto tempo
com a noção de “crise”, perdeu a capacidade de enxergar com realismo a situação da economia.
A respeito da quantia imaginada para comprar, daqui a um mês, o que compram atualmente com 100 reais, apenas
2% dos entrevistados estimaram um valor próximo àquele. Os demais 98% desconfiam de que vão precisar de mais
ou de muito mais. Desse total, 73% temem uma alta dos preços superior a 10%. Quase a metade, 47%, estima uma
inflação acima de 20%. E não menos de 35% receiam que os preços subirão mais de 30% em um mês.
Os números são semelhantes nas análises do desemprego. Apenas 7% dos entrevistados sabem que hoje menos
de dez indivíduos em cada cem estão desempregados. Cerca de um quarto acredita que o desemprego varie de
10% a 30% da força de trabalho e 38% imaginam que a proporção de brasileiros sem emprego ultrapassa os 40%.
Por esse raciocínio, o cenário até o fim do ano seria dantesco: quase 40% acreditam que o desemprego em
dezembro punirá mais da metade da população ativa. Para tanta desinformação e medo do futuro, muitos fatores
contribuem. Nossa cultura explica parte desses temores. Os erros do governo, especialmente de comunicação, são
responsáveis por outra. Mas a maior responsável é a mídia hegemônica.
Ninguém defende que a população seja mantida na ignorância em relação aos problemas reais enfrentados pela
economia. Mas vemos outra coisa. A mídia deseduca ao deformar a realidade e por nada fazer para seus leitores e
espectadores desenvolverem uma visão realista e informada do País. Fabrica assustados para produzir
insatisfeitos.
Com isso, torna-se agente do agravamento de uma crise que estimulou e continua a estimular, apesar de seu custo
para as famílias e para o Brasil. (COIMBRA, Marcos. Revista Carta Capital. Disponível em:
http://www.cartacapital.com.br/revista/852/acrise-e-suas-interpretacoes-4986.html.
Gabarito comentado
Comentário da Questão – Interpretação de Texto
Tema central: Trata-se de uma questão de interpretação de texto, exigindo a identificação da ideia principal de um artigo opinativo. Conforme as gramáticas de referência (como Evanildo Bechara e Napoleão Mendes de Almeida), a ideia central geralmente corresponde à finalidade comunicativa do texto: O que o autor quer transmitir ao leitor?
Justificativa da alternativa correta (D):
A alternativa D) a influência da mídia na formação de opinião das pessoas é a correta porque o texto expõe, de forma enfática, como a mídia atua sobre a percepção dos brasileiros durante uma crise econômica. O autor detalha que, ao “fabricar assustados para produzir insatisfeitos”, a imprensa influencia o medo e as expectativas negativas na sociedade, mostrando claramente que não é apenas informação, mas manipulação de opinião.
Esse entendimento está alinhado à recomendação de Maria Luiza Garcia sobre leitura interpretativa: buscar no texto os termos recorrentes ou ideias que se repetem e fundamentam a argumentação.
Análise das alternativas incorretas:
A) Os erros de comunicação do governo são citados, mas como fator secundário, não como foco central.
B) A pesquisa é utilizada como argumento de apoio à tese principal, não como tema do texto.
C) As porcentagens apresentadas servem para ilustrar o quanto a opinião pública foi distorcida, e não constituem a finalidade do artigo.
E) Embora o medo do desemprego seja abordado, o texto destaca que esse medo é inflado pela mídia e não debate o aumento real do desemprego.
Dicas de Estratégia: Para questões de interpretação, leia atentamente o início e o final do texto, onde geralmente se apresenta a tese e a conclusão. Procure palavras-chave (como “mídia”, “formação de opinião”, “expectativas”, “influência”), evitando se fixar em exemplos isolados ou dados estatísticos que aparecem apenas como apoio.
Resumo: O texto critica a atuação da mídia, mostrando seu papel principal na formação (e distorção) da opinião pública sobre a crise. Por isso, a alternativa D é a única que respeita a coerência e a tese principal do texto.
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