Questão ef090dea-fc
Prova:PUC - PR 2017
Disciplina:Filosofia
Assunto:Conceitos Filosóficos

Leia o fragmento a seguir:

“O imperativo categórico de Kant dizia: ‘Aja de modo que tu também possas querer que tua máxima se torne lei geral’. Aqui, o ‘que tu possas’ invocado é aquele da razão e de sua concordância consigo mesma: a partir da suposição da existência de uma sociedade de atores humanos (seres racionais em ação), a ação deve existir de modo que possa ser concebida, sem contradição, como exercício geral da comunidade. Chame-se atenção aqui para o fato de que a reflexão básica da moral não é propriamente moral, mas lógica: o ‘poder’ ou ‘não poder’ querer expressa autocompatibilidade ou incompatibilidade, e não aprovação moral ou desaprovação. Mas não existe nenhuma contradição em si na ideia de que a humanidade cesse de existir, e dessa forma também nenhuma contradição em si na ideia de que a felicidade das gerações presentes e seguintes possa ser paga com a infelicidade ou mesmo com a não-existência de gerações pósteras – tampouco, afinal, com a ideia contrária, de que a existência e a felicidade das gerações futuras seja paga com a infelicidade e mesmo com a eliminação parcial da presente. O sacrifício do futuro em prol do presente não é logicamente mais refutável do que o sacrifício do presente a favor do futuro”.

(JONAS, Hans. O Princípio Responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006, p. 47).

Considerando esta passagem, é CORRETO afirmar que Hans Jonas:

A
preserva o imperativo categórico de Kant, pois a ética deve tratar exclusivamente de seres humanos.
B
preserva o imperativo categórico de Kant, uma vez que o imperativo da responsabilidade é voltado apenas para o momento.
C
modifica o imperativo categórico de Kant porque, segundo Kant, a ética trata exclusivamente da civilização tecnológica.
D
modifica o imperativo categórico de Kant, considerando que podemos arriscar a nossa própria vida para proteger a humanidade futura.
E
preserva o imperativo categórico de Kant, pois o imperativo da responsabilidade assume a característica de universalidade de forma hipotética, não prática.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Resposta correta: D

Tema central: ética normativa comparativa — confronto entre o imperativo categórico de Kant e o princípio da responsabilidade de Hans Jonas. É importante entender como Jonas amplia a esfera moral para incluir as gerações futuras e riscos tecnológicos.

Resumo teórico: Kant (Fundamentação da Metafísica dos Costumes, 1785) fundamenta a moral na razão prática e na universalizabilidade das máximas — avalia-se se uma máxima pode tornar‑se lei universal sem contradição. Jonas (O Princípio Responsabilidade, 1979/2006) critica a limitação desta moldura: diante do poder tecnológico, a ética deve incluir a defesa da continuidade da vida e das futuras gerações, impondo um imperativo de precaução e responsabilidade que pode exigir sacrifícios presentes para proteger o futuro.

Por que D é correta: A alternativa D afirma que Jonas modifica Kant ao admitir que podemos arriscar nossa própria vida para proteger a humanidade futura. Isso sintetiza a intenção jonasiana: superar a mera lógica formal kantiana, incorporando um dever positivo de proteção às gerações vindouras — um imperativo que pode justificar riscos pessoais em prol da preservação humana. Jonas transforma a norma universalizante em um imperativo de responsabilidade frente às consequências de longo prazo.

Análise das alternativas incorretas:

A — Errada: Jonas não conserva a ética estritamente centrada no ser humano presente; ele expande o alcance moral para as gerações futuras e para a biosfera.

B — Errada: o imperativo de Jonas não é “voltado apenas para o momento”; pelo contrário, sua força recai sobre o futuro e sobre a precaução diante de riscos tecnológicos.

C — Errada e anacrônica: Kant não tratou a ética como relativa à “civilização tecnológica” — esta é justamente a novidade que Jonas introduz ao adaptar a ética a problemas modernos.

E — Errada: Jonas não reduz a universalidade a mera hipótese; ele propõe um princípio prático de responsabilidade e precaução com caráter normativo real, não apenas condicional.

Dica de prova: ao comparar autores, busque termos-chave (preserva/modifica; esfera temporal: presente × futuro; universalidade formal × responsabilidade concreta). Isso ajuda a eliminar alternativas que usam palavras absolutas como “exclusivamente” ou que deturpam posições históricas.

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