Leia o fragmento a seguir:
“O imperativo categórico de Kant dizia: ‘Aja de modo que tu também possas querer que tua máxima se torne
lei geral’. Aqui, o ‘que tu possas’ invocado é aquele da razão e de sua concordância consigo mesma: a partir
da suposição da existência de uma sociedade de atores humanos (seres racionais em ação), a ação deve
existir de modo que possa ser concebida, sem contradição, como exercício geral da comunidade. Chame-se
atenção aqui para o fato de que a reflexão básica da moral não é propriamente moral, mas lógica: o ‘poder’ ou
‘não poder’ querer expressa autocompatibilidade ou incompatibilidade, e não aprovação moral ou desaprovação. Mas não existe nenhuma contradição em si na ideia de que a humanidade cesse de existir, e dessa
forma também nenhuma contradição em si na ideia de que a felicidade das gerações presentes e seguintes
possa ser paga com a infelicidade ou mesmo com a não-existência de gerações pósteras – tampouco, afinal,
com a ideia contrária, de que a existência e a felicidade das gerações futuras seja paga com a infelicidade e
mesmo com a eliminação parcial da presente. O sacrifício do futuro em prol do presente não é logicamente
mais refutável do que o sacrifício do presente a favor do futuro”.
(JONAS, Hans. O Princípio Responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006, p. 47).
Considerando esta passagem, é CORRETO afirmar que Hans Jonas:
Gabarito comentado
Resposta correta: D
Tema central: ética normativa comparativa — confronto entre o imperativo categórico de Kant e o princípio da responsabilidade de Hans Jonas. É importante entender como Jonas amplia a esfera moral para incluir as gerações futuras e riscos tecnológicos.
Resumo teórico: Kant (Fundamentação da Metafísica dos Costumes, 1785) fundamenta a moral na razão prática e na universalizabilidade das máximas — avalia-se se uma máxima pode tornar‑se lei universal sem contradição. Jonas (O Princípio Responsabilidade, 1979/2006) critica a limitação desta moldura: diante do poder tecnológico, a ética deve incluir a defesa da continuidade da vida e das futuras gerações, impondo um imperativo de precaução e responsabilidade que pode exigir sacrifícios presentes para proteger o futuro.
Por que D é correta: A alternativa D afirma que Jonas modifica Kant ao admitir que podemos arriscar nossa própria vida para proteger a humanidade futura. Isso sintetiza a intenção jonasiana: superar a mera lógica formal kantiana, incorporando um dever positivo de proteção às gerações vindouras — um imperativo que pode justificar riscos pessoais em prol da preservação humana. Jonas transforma a norma universalizante em um imperativo de responsabilidade frente às consequências de longo prazo.
Análise das alternativas incorretas:
A — Errada: Jonas não conserva a ética estritamente centrada no ser humano presente; ele expande o alcance moral para as gerações futuras e para a biosfera.
B — Errada: o imperativo de Jonas não é “voltado apenas para o momento”; pelo contrário, sua força recai sobre o futuro e sobre a precaução diante de riscos tecnológicos.
C — Errada e anacrônica: Kant não tratou a ética como relativa à “civilização tecnológica” — esta é justamente a novidade que Jonas introduz ao adaptar a ética a problemas modernos.
E — Errada: Jonas não reduz a universalidade a mera hipótese; ele propõe um princípio prático de responsabilidade e precaução com caráter normativo real, não apenas condicional.
Dica de prova: ao comparar autores, busque termos-chave (preserva/modifica; esfera temporal: presente × futuro; universalidade formal × responsabilidade concreta). Isso ajuda a eliminar alternativas que usam palavras absolutas como “exclusivamente” ou que deturpam posições históricas.
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