No livro X de A República, encontra-se a seguinte afirmação de Sócrates em um diálogo com Glauco acerca da poíēsis (produção, fabricação, poesia) e da mímēsis (imitação):

“Acaso não existem três formas de cama? Uma que é natural, e da qual diremos, segundo entendo, que Deus a confeccionou. Ou que outro Ser poderia fazêlo? [...] Outra, a que executou o marceneiro. [...] Outra, feita pelo pintor. Ou não? [...] Logo, pintor, marceneiro, Deus, esses três seres presidem aos tipos de cama”.

Platão. A República, 597b. Trad. port. Maria Helena da Rocha Pereira. 9ª edição. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2001. Adaptado.

Apoiando-se na citação acima, que é ilustrativa da concepção platônica da poíēsis e da mímēsis, bem como de sua crítica da pintura, da poesia trágica, dentre outras, e no conhecimento a respeito do tema, assinale a proposição verdadeira.

Alternativa correta: A

Tema central: A questão explora a noção platônica de poíēsis e mímēsis, especialmente a distinção entre a Forma (idéia), o artífice e o artista imitador. É essencial entender que, em Platão (República, Livro X, 597b), existe uma hierarquia ontológica: a cama ideal (criador/divino), o marceneiro que fabrica segundo essa ideia e o pintor que só representa a aparência da cama.

Resumo teórico progressivo:

- Para Platão, as Formas são realidades perfeitas e primeiras; o criador (a Deus, metaforicamente) é produtor da verdadeira realidade.

- O marceneiro cria uma cama particular participando da Forma; sua produção é uma cópia ou realização da ideia (uma mímēsis com maior proximidade do real).

- O pintor representa apenas a aparência da cama: sua obra é uma imitação da cópia, portanto duas vezes removida da verdade (mímēsis mais distante).

Fonte principal: Platão, A República, Livro X (597b), tradução: Maria Helena da Rocha Pereira.

Justificativa da alternativa A: A afirmação “O marceneiro e o pintor produzem imitando” capta corretamente a leitura platônica: ambos realizam mímēsis — o marceneiro imita a Forma ao fabricar um objeto que participa dela; o pintor imita a aparência desse objeto. Assim, ambos “produzem” na acepção de criar algo perceptível, mas essa produção é mimética, ou seja, cópia do que é mais verdadeiro.

Análise das alternativas incorretas:

B (errada): “Os três tipos de produção são miméticas.” Falso: para Platão, a produção divina da Forma não é imitação; é geradora da realidade inteligível. Só as produções humanas são miméticas em relação à Forma.

C (errada): “Somente Deus produz, os outros imitam.” Impróprio: embora Platão trate a produção humana como imitação, ele não nega que marceneiro e pintor produzem algo — produzem cópias; logo, “somente” é termo absoluto que torna a frase falsa.

D (errada): “Somente o pintor imita, mas não produz.” Incorreto: o pintor imita, mas também “produz” imagens; além disso, o marceneiro também imita a Forma ao fabricar a cama. Portanto, a afirmação é parcial e equivocada.

Estratégia de prova: Ao ler enunciados sobre Platão, procure palavras-chave (Forma, mímēsis, somente, todos) e teste termos absolutos. Lembre-se: Platão distingue níveis de realidade — não confundir “produzir” no sentido divino com “produzir” no sentido humano.

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