Observe o poema a
seguir e marque a opção correta:
“Portugal colonial”
Nada te devo
nem o sítio
onde nasci
nem a morte
que depois comi
nem a vida
repartida
p'los cães
nem a notícia
curta
a dizer-te
que morri
nada te devo
Portugal
Colonial
cicatriz
doutra pele
apertada
(David Mestre, poeta angolano. In: DÁSKALOS, M.
A.; APA, L.; BARBEITOS, A. Poesia africana de
língua portuguesa: antologia. Rio de Janeiro: Lacerda
Editores, 2003, p. 104.)
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de Texto, com ênfase em análise crítica, engajamento e funções da linguagem.
Para resolver esta questão, o candidato deve reconhecer estratégias de leitura que revelam o posicionamento do eu lírico perante o colonialismo, identificando não só o sentido denotativo, mas principalmente o conteúdo implícito e subjetivo do poema.
Justificativa da alternativa correta – E
A alternativa E é correta porque no poema há um pronunciado discurso de resistência e combate à opressão colonial. Frases como "Nada te devo" e "Portugal Colonial, cicatriz doutra pele apertada" expressam o repúdio ao passado colonial e a recusa em aceitar uma dívida simbólica com Portugal. Esse tom é um típico exemplo de literatura engajada, conceito estudado por autores como Evanildo Bechara e presente em manuais como o de Koch (“A coesão textual”), destacando obras marcadamente comprometidas com causas sociais ou políticas.
Análise das alternativas incorretas:
A) Incorreta. O poema demonstra dor e denúncia, não saudade da infância ou sentimento de alegria/despreocupação.
B) Incorreta. Não há nostalgia nem fusão do sujeito no objeto com fins positivos; o texto é protesto, não reminiscência dos “tempos áureos”.
C) Incorreta. Ao contrário do distanciamento, observa-se mergulho na realidade opressora, com crítica clara ao colonialismo.
D) Incorreta. A crítica não se resume ao preconceito racial, mas denuncia toda a violência do colonialismo.
Elementos-chave do texto:
Destaca-se a função emotiva (centrada nas emoções do eu lírico) e a função poética (exploração da linguagem para expressar o inconformismo). A repetição (“Nada te devo”) reforça o rompimento com o passado opressor, configurando um texto plenamente engajado.
Estratégias para futuras provas: Fique atento a temas sociais e históricos em poesias, identificando sempre se o texto se posiciona de forma crítica, neutra ou nostálgica. Palavras e estruturas repetidas geralmente sinalizam ênfase ao tom do autor. Evite tomar interpretações literais quando o texto disser respeito a fatos históricos ou sociais.
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