“Bertoleza também trabalhava forte; a sua quitanda era a mais bem afreguesada do bairro. De manhã vende angu, e, à noite, peixe frito e iscas de fígado; pagava de jornal a seu dono vinte mil-réis por mês, e, apesar disso, tinha de parte quase que o necessário para a alforria. Um dia, porém, o seu homem, depois de correr meia légua, puxando uma carga superior às suas forças, caiu morto na rua, ao lado da carroça, estrompado como uma besta. João Romão mostrou grande interesse por esta desgraça, fez-se até participante direto dos sofrimentos da vizinha, e com tamanho empenho a lamentou, que a boa mulher o escolheu para confidente das suas desventuras. Abriu-se com ele, contou-lhe a sua vida de amofinações e dificuldades. ‘Seu senhor comia-lhe a pele do corpo! Não era brinquedo para uma pobre mulher ter que escarrar pr’ali, todos os meses, vinte mil-réis em dinheiro’. E segredou-lhe então o que tinha juntado para a sua liberdade e acabou pedindo ao vendeiro que lhe guardasse as economias, porque já certa vez fora roubada por gatunos que lhe entraram na quitanda pelos fundos”.
(AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 30ª ed. Editora Ática: São Paulo, 1997. p.15.)
Com base no texto inserido no contexto da obra, assinale com V ou F, conforme sejam verdadeiras ou falsas as afirmativas.
( ) O mundo exposto em O cortiço é inexistente, e apenas idealizado na mente fértil do autor.
( ) O cortiço é a criação de uma realidade coletiva, por meio de uma visão objetiva da realidade vivida por seus personagens.
( ) O romance não fotografa uma realidade ambiental física, mas um compromisso com o mundo social e moral de seus personagens.
( ) O autor do romance não conhece os fatos narrados, eles vão-se revelando, pelo transcurso de seus personagens, na narrativa.
A alternativa que responde corretamente a questão, de cima para baixo, é
(AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 30ª ed. Editora Ática: São Paulo, 1997. p.15.)
Com base no texto inserido no contexto da obra, assinale com V ou F, conforme sejam verdadeiras ou falsas as afirmativas.
( ) O cortiço é a criação de uma realidade coletiva, por meio de uma visão objetiva da realidade vivida por seus personagens.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto literário e análise das características do Naturalismo presentes em "O Cortiço", de Aluísio Azevedo.
Análise das afirmativas:
(1) O mundo exposto em O cortiço é inexistente, e apenas idealizado na mente fértil do autor.
Falsa (F). O Naturalismo busca retratar fielmente a realidade social e ambiental. "O Cortiço" não é fruto de imaginação, mas resultado de uma observação objetiva e crítica da sociedade carioca do século XIX. Segundo Bechara, a norma-padrão valoriza, no relato, a apresentação fiel dos fatos sociais, e não sua idealização.
(2) O cortiço é a criação de uma realidade coletiva, por meio de uma visão objetiva da realidade vivida por seus personagens.
Verdadeira (V). O autor descreve o cotidiano dos moradores como um organismo coletivo, em consonância com o determinismo e a objetividade naturalistas. Segundo Massaud Moisés, o protagonista da obra é o próprio ambiente coletivo, descrito sob rigor científico e impessoal.
(3) O romance não fotografa uma realidade ambiental física, mas um compromisso com o mundo social e moral de seus personagens.
Verdadeira (V). Embora haja detalhamento do ambiente, o foco do romance é a denúncia social e a análise dos comportamentos humanos, destacando desigualdades e conflitos morais.
(4) O autor do romance não conhece os fatos narrados, eles vão-se revelando, pelo transcurso de seus personagens, na narrativa.
Falsa (F). O narrador é onisciente e todo-sabedor, acompanhando o desenrolar dos fatos com detalhamento causal e conexão lógica, conforme preceitua a norma-padrão e autores como Celso Cunha & Lindley Cintra.
Alternativa correta: C) F V V F
Análise das alternativas incorretas:
- Em A e D, há erros fundamentais ao considerar a obra como idealizada ou desconhecendo o rigor do Naturalismo.
- Em B, há duplicidade de negações e distorção da objetividade e do conhecimento do narrador.
Dicas para não errar: Ao interpretar textos literários, identifique o movimento literário, observe o perfil do narrador e atente-se para palavras de negação e universalização, que frequentemente escondem pegadinhas.
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