“A tarefa da bela aparência artística, segundo
Hegel, é libertar-nos da aparência sensorial impura
e grosseira. No quadro de um mestre holandês, não
é a exata reprodução dos objetos que nos agrada: é
que a ‘magia da cor e da iluminação’ transfigura as
pobres coisas naturais que são representadas; é que
as cenas prosaicas de quermesses e bebedeiras são
metamorfoseadas num ‘domingo da vida’; é que a
‘bela aparência’ torna fascinante o que, na vida, nos
deixava indiferentes. Assim, a representação
artística é uma negação sorrateira do sensível: ante
os nossos olhos, o sensível se torna o que ele não é.
Mas, é claro, é sempre ante nossos olhos que se
efetua essa transmutação; é sempre no sensível que
a arte critica o sensível. E porque a obra de arte se
apresenta necessariamente numa matéria sensível,
ela não pode ser ‘o modo de expressão mais elevado
da verdade’. O fato de a obra de arte se dirigir à
aísthesis (sensibilidade) constitui, para Hegel, tanto
a sua essência como a sua limitação.”
LEBRUN, G. A mutação da obra de arte. In: A filosofia e
sua história. São Paulo: Cosac Naify, 2006, p. 332-333 –
Adaptado.
Conforme o texto acima, é correto afirmar que, para
Hegel, a arte não pode ser o modo de expressão
mais elevado da verdade, porque
“A tarefa da bela aparência artística, segundo Hegel, é libertar-nos da aparência sensorial impura e grosseira. No quadro de um mestre holandês, não é a exata reprodução dos objetos que nos agrada: é que a ‘magia da cor e da iluminação’ transfigura as pobres coisas naturais que são representadas; é que as cenas prosaicas de quermesses e bebedeiras são metamorfoseadas num ‘domingo da vida’; é que a ‘bela aparência’ torna fascinante o que, na vida, nos deixava indiferentes. Assim, a representação artística é uma negação sorrateira do sensível: ante os nossos olhos, o sensível se torna o que ele não é. Mas, é claro, é sempre ante nossos olhos que se efetua essa transmutação; é sempre no sensível que a arte critica o sensível. E porque a obra de arte se apresenta necessariamente numa matéria sensível, ela não pode ser ‘o modo de expressão mais elevado da verdade’. O fato de a obra de arte se dirigir à aísthesis (sensibilidade) constitui, para Hegel, tanto a sua essência como a sua limitação.”
LEBRUN, G. A mutação da obra de arte. In: A filosofia e sua história. São Paulo: Cosac Naify, 2006, p. 332-333 – Adaptado.
Conforme o texto acima, é correto afirmar que, para Hegel, a arte não pode ser o modo de expressão mais elevado da verdade, porque
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa B
Tema central: trata-se da concepção hegeliana da arte como modo de expressão da verdade. Importa saber que, para Hegel, a arte revela ideias por meio do sensível (aísthesis), mas essa mediação sensível constitui também sua limitação frente a formas mais altas de manifestação da Verdade (como a religião e a filosofia).
Resumo teórico: Em Hegel (Estética / Lectures on Aesthetics) a arte é essencial porque exterioriza o espírito em imagens sensoriais; porém, por ser necessariamente encarnada em matéria sensível, não consegue exprimir a verdade em sua totalidade e clareza conceitual. A filosofia, usando o conceito, alcança um grau mais alto de visão da realidade absoluta.
Justificativa da alternativa B: A alternativa diz que a arte "não abrange toda a realidade por ser sensível". Isso sintetiza corretamente a ideia do texto: a obra de arte atua no domínio do sensível (aísthesis), o que a torna eficaz em transfigurar o mundo sensorial, mas também a impede de ser o modo mais elevado de expressão da verdade. Ou seja, sua materialidade sensível limita seu alcance conceitual — exatamente a tese hegeliana.
Análise das alternativas incorretas:
A: "ultrapassa o sensível, tornando-se conceitual." Errada — é o oposto: a arte não se torna conceitual; é a filosofia que alcança o nível conceitual e supera a limitação sensível.
C: "se limita à pura e grosseira realidade sensível." Errada — o texto diz justamente que a arte não reproduz de forma grosseira: ela transfigura o sensível (magia da cor, iluminação), ennobrecendo-o.
D: "modifica o sensível, produzindo uma ilusão." Parcialmente enganosa — Hegel fala em "negação sorrateira do sensível" e transmutação, mas não classifica a arte simplesmente como mera ilusão verossímil; o ponto crucial é que, por ser sensível, sua expressão da verdade é limitada, não que a arte seja apenas engano.
Dica de prova: ao ler enunciados, destaque expressões-chave (por ex., "matéria sensível", "modificação do sensível", "modo mais elevado da verdade") e confronte-as com as teses centrais do autor. Em Hegel, vincule sempre "arte — sensibilidade — limitação" e "filosofia — conceito — supremo".
Fonte sugerida: Hegel, G. W. F., Estética (Lectures on Fine Art). Trecho adaptado por Lebrun (2006) no material de apoio.
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