“A moradora de rua Rosângela Sibele, que furtou R$ 21,69 em comida para alimentar os filhos, concedeu uma entrevista ao Brasil Urgente após deixar a cadeia e contou que tem ‘o sonho de ser gente’. Ela ficou 18 dias detida após o episódio e teve a prisão revogada pelo ministro Joel Ilan Paciornik, do STJ (Superior Tribunal Federal), na última quarta-feira, 13. ‘Meu grande sonho é ser gente. Eu ainda não sei o que é isso, não sei o que é ser mãe, filha, irmã’, contou ela. A mulher de 41 anos é mãe de cinco filhos e mora há dez anos nas ruas de São Paulo.”

IG DELAS. “Meu sonho é ser gente”, diz mãe que furtou comida para alimentar os filhos. Disponível em: https://delas.ig.com.br/2021-10-14/sonho-ser-gente-mae-furto-filhos.html. Acessado em 14/10/2021.

A palavra “gente” na fala dessa mulher, quando compreendida à luz da Ética de Immanuel Kant, expressa seu desejo de

Resposta correta: D — ser moralmente reconhecida em sua dignidade.

Tema central: interpretações do conceito de “gente” segundo a Ética de Immanuel Kant — isto é, o que significa ser reconhecido como pessoa moral com dignidade. Para resolver, é preciso distinguir entre sentidos meramente descritivos (ser parte da população, ter necessidades atendidas) e o sentido normativo-kantiano (reconhecimento moral como fim em si mesmo).

Resumo teórico breve e progressivo: Na Fundamentação da Metafísica dos Costumes (Groundwork), Kant afirma: “Age de tal maneira que treats humanity, whether in your own person or in that of another, always as an end and never merely as a means.” A pessoa racional tem dignidade, valor absoluto que impõe respeito e reconhecimento moral. Dignidade não é preço ou utilidade; é condição de agente autônomo e fim em si mesmo. No ordenamento brasileiro, esse princípio ecoa em Constituição Federal, art. 1º, III (dignidade da pessoa humana como fundamento da República).

Justificativa da alternativa D: A fala “meu sonho é ser gente” expressa, no plano moral kantiano, o desejo de ser tratada e reconhecida como pessoa dotada de dignidade — não mais vista como objeto ou mera fonte de utilidade. Portanto, a alternativa D capta o núcleo kantiano: reconhecimento moral e respeito por sua condição de sujeito/autonomia.

Análise das incorretas:

A — “compor a população”: trata de estatística/descritivo; não envolve reconhecimento moral. Alienada da ética kantiana.

B — “satisfeitas carências alimentares”: é uma necessidade material legítima, mas Kant distingue necessidades empíricas de status moral; aqui o enunciado pede interpretação ética.

C — “ser solta da cadeia”: refere-se a liberdade jurídica/penal; não capta o sentido profundo de ser reconhecida como pessoa com dignidade moral.

Estratégia prática para concursos: busque termos normativos (dignidade, respeito, reconhecimento, fim em si mesmo). Se a questão remete a Kant, priorize conceitos como autonomia, dignidade, imperativo categórico — descarte respostas literais ou sociais sem conteúdo moral.

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