“Havia duas festas anuais nas quais se
encenavam tragédias. [...] A representação era
prevista e organizada sob o patrocínio do Estado,
pois era um dos altos magistrados da cidade quem
se incumbia de escolher os poetas e de selecionar os
cidadãos ricos, encarregados de cobrir todas as
despesas. [...] Consequentemente, esse espetáculo
adquiriu as características de uma manifestação
nacional. Esse fato explica com clareza certos
aspectos da inspiração dos autores de tragédia. Eles
se dirigiam sempre a um grande público, reunido
numa ocasião solene: é normal que eles quisessem
atingi-lo e interessá-lo. Eles escreviam na qualidade
de cidadãos que se dirigiam a outros cidadãos.”
ROMILLY, J. A tragédia grega. Trad. bras. Ivo
Martinazzo.
Brasília: Ed. da UNB, 1998, p. 14-15.
Essa tese de Jacqueline de Romilly (1913-2010)
sobre a origem e as características da tragédia
grega pode ser relacionada à tese de Jean-Pierre
Vernant sobre a origem e as características da
filosofia grega no seguinte: assim como a tragédia,
a filosofia
“Havia duas festas anuais nas quais se encenavam tragédias. [...] A representação era prevista e organizada sob o patrocínio do Estado, pois era um dos altos magistrados da cidade quem se incumbia de escolher os poetas e de selecionar os cidadãos ricos, encarregados de cobrir todas as despesas. [...] Consequentemente, esse espetáculo adquiriu as características de uma manifestação nacional. Esse fato explica com clareza certos aspectos da inspiração dos autores de tragédia. Eles se dirigiam sempre a um grande público, reunido numa ocasião solene: é normal que eles quisessem atingi-lo e interessá-lo. Eles escreviam na qualidade de cidadãos que se dirigiam a outros cidadãos.”
ROMILLY, J. A tragédia grega. Trad. bras. Ivo Martinazzo.
Brasília: Ed. da UNB, 1998, p. 14-15.
Essa tese de Jacqueline de Romilly (1913-2010) sobre a origem e as características da tragédia grega pode ser relacionada à tese de Jean-Pierre Vernant sobre a origem e as características da filosofia grega no seguinte: assim como a tragédia, a filosofia
Gabarito comentado
Alternativa correta: C
Tema central: a questão compara a explicação de Jacqueline de Romilly sobre a tragédia grega — espetáculo público organizado pela polis — com a tese de Jean‑Pierre Vernant sobre a origem da filosofia. É preciso perceber o ponto comum: ambos os fenômenos nascem e se articulam no interior da polis e dirigem‑se a cidadãos em condição de debate público.
Resumo teórico (claro e progressivo):
- A tragédia, segundo Romilly, é um espetáculo cívico, inserido no calendário e patrocinado por magistrados; ela visa um público de cidadãos.
- Vernant argumenta que a filosofia grega nasce do ambiente político da polis, onde se desenvolvem isonomia e isegoria (igualdade perante a lei e direito à palavra), possibilitando o discurso racional e crítico entre cidadãos (ver obras de Vernant sobre o nascimento do pensamento grego).
Por que a alternativa C é a correta?
C: nasce no contexto da polis, caracterizada pela igualdade entre cidadãos. — Esta alternativa sintetiza a convergência das teses: tanto a tragédia quanto a filosofia surgem como práticas públicas vinculadas à vida da polis e à interação entre cidadãos. Vernant enfatiza que a filosofia emerge onde o debate público e a noção de igualdade política tornam possível o questionamento racional das tradições e mitos.
Análise das alternativas incorretas:
A — “é organizada pela polis e financiada pelos cidadãos mais ricos.” Parcialmente verdadeira para a tragédia (liturgias e patrocínios), mas não descreve a filosofia: esta não era organizada ou financiada como festival oficial.
B — “é objeto de concursos anuais previstos no calendário da polis.” Isso vale para as competições dramáticas, não para a filosofia, que não seguia calendário de concursos públicos.
D — “busca chamar a atenção dos cidadãos da polis, com temas populares.” Embora filósofos se dirigissem ao público em debates, sua finalidade principal não era o entretenimento popular, mas o exame racional (logos) e a investigação crítica — objetivo distinto do caráter “popular” sugerido.
Dica de interpretação: compare cuidadosamente o foco de cada autor: Romilly descreve o caráter público e cívico da tragédia; Vernant enfatiza a relação entre vida política da polis e o surgimento do pensamento crítico. Procure palavras‑chave nos enunciados (polis, igualdade, concurso, financiamento) e descarte alternativas que misturam características exclusivas da tragédia com a origem da filosofia.
Fontes recomendadas: Jacqueline de Romilly, A Tragédia Grega; Jean‑Pierre Vernant, obras sobre o nascimento do pensamento grego (ex.: La naissance de la pensée grecque) — leitura útil para aprofundar o tema.
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