“Pois uma estátua não é apenas um
documento histórico. Ela é sobretudo um dispositivo
de celebração. Como celebração, ela naturaliza
dinâmicas sociais, ela diz: ‘assim foi e assim deveria
ter sido’. Um bandeirante com um trabuco na mão e
olhar para frente é a celebração do ‘desbravamento’
de ‘nossas matas’. [...] Quando a ditadura militar
criou o mais vil aparato de crimes contra a
humanidade, dispositivo de tortura de Estado e
assassinato financiado com dinheiro do
empresariado paulista, não por acaso seu nome foi:
Operação Bandeirante. Sim, a história é implacável.
Como disse no início, o passado é o que não cessa
de retornar.”
SAFATLE, Vladimir. Do direito inalienável de derrubar
estátuas. In: El país, em 26-07-2021. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/opiniao/2021-07-26/do-direito-inalienavel-de-derrubar-estatuas.html.
Nas passagens acima citadas de seu artigo de
opinião, o filósofo Vladimir Safatle faz uso, por duas
vezes, do conceito de dispositivo. Sobre este
conceito, formulado por Michel Foucault (1926-1984), é correto afirmar que
“Pois uma estátua não é apenas um documento histórico. Ela é sobretudo um dispositivo de celebração. Como celebração, ela naturaliza dinâmicas sociais, ela diz: ‘assim foi e assim deveria ter sido’. Um bandeirante com um trabuco na mão e olhar para frente é a celebração do ‘desbravamento’ de ‘nossas matas’. [...] Quando a ditadura militar criou o mais vil aparato de crimes contra a humanidade, dispositivo de tortura de Estado e assassinato financiado com dinheiro do empresariado paulista, não por acaso seu nome foi: Operação Bandeirante. Sim, a história é implacável. Como disse no início, o passado é o que não cessa de retornar.”
SAFATLE, Vladimir. Do direito inalienável de derrubar estátuas. In: El país, em 26-07-2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/opiniao/2021-07-26/do-direito-inalienavel-de-derrubar-estatuas.html.
Nas passagens acima citadas de seu artigo de opinião, o filósofo Vladimir Safatle faz uso, por duas vezes, do conceito de dispositivo. Sobre este conceito, formulado por Michel Foucault (1926-1984), é correto afirmar que
Gabarito comentado
Alternativa correta: B
Por que essa questão é importante? Entender o conceito foucaultiano de dispositivo é chave em questões sobre poder, instituições e formação de sujeitos — tema recorrente em provas de filosofia e ciências humanas.
Resumo teórico progressivo
Para Foucault, dispositivo (dispositif) não é um único aparelho, mas um conjunto heterogêneo: discursos, instituições, arquiteturas, regras, práticas administrativas, saberes e técnicas. Esse conjunto atua na constituição dos sujeitos, no seu controle e na regulação de comportamentos. Ver, por exemplo, obras como The History of Sexuality e textos reunidos em Dits et écrits para leituras diretas de Foucault.
Justificativa da alternativa B
A alternativa B afirma que dispositivos são práticas diversas que atuam na constituição, controle e dominação dos sujeitos — exatamente o núcleo da definição foucaultiana: dispositivos são mecanismos práticos e discursivos que produzem efeitos de poder sobre sujeitos e condutas.
Análise das alternativas incorretas
A: Afirma que dispositivo "se opõe" aos sujeitos e às formas de constituição de subjetividade. Incorreto: o dispositivo não é simplesmente antagonista; ele participa ativamente da constituição das subjetividades, moldando-as.
C: Diz que é sempre instrumento de violência física. Errado por dois motivos: (1) usa o termo absoluto "sempre" — cilada clássica em provas; (2) dispositivos podem envolver coerção física, mas frequentemente operam por saberes, normas e práticas que regulam sem violência direta.
D: Afirma que o poder atua somente simbolicamente e leva a uma dominação consentida. Foucault mostra que o poder é difuso e material, não apenas simbólico; além disso, nem sempre há consentimento explícito — o poder produz realidades e sujeitos.
Dica de prova: desconfie de termos absolutos ("sempre", "somente") e busque a definição que destaque heterogeneidade (práticas, saberes, instituições) e efeito sobre os sujeitos.
Fonte sugerida: Michel Foucault, The History of Sexuality, Vol. 1; coletânea Dits et écrits.
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