Sobre os recursos linguístico-semânticos empregados no texto, considere as afirmativas a seguir.
I. Em “mas, ali, sobretudo do Campo de Sant’Ana para baixo, o que era ele?”, trata-se de pergunta retórica,
cuja resposta já se insere na pergunta.
II. A repetição do item lexical “subúrbio”, no início do trecho, empobrece a qualidade textual.
III. O trecho “tal e qual o bárbaro que viu, no Senado de Roma” contém um paradoxo proporcionado pela
incompatibilidade temporal.
IV. A palavra “placards” está grifada em itálico no texto por se tratar de estrangeirismo, sendo hoje comum
seu correlato em português.
Assinale a alternativa correta.
Sobre os recursos linguístico-semânticos empregados no texto, considere as afirmativas a seguir.
I. Em “mas, ali, sobretudo do Campo de Sant’Ana para baixo, o que era ele?”, trata-se de pergunta retórica, cuja resposta já se insere na pergunta.
II. A repetição do item lexical “subúrbio”, no início do trecho, empobrece a qualidade textual.
III. O trecho “tal e qual o bárbaro que viu, no Senado de Roma” contém um paradoxo proporcionado pela incompatibilidade temporal.
IV. A palavra “placards” está grifada em itálico no texto por se tratar de estrangeirismo, sendo hoje comum seu correlato em português.
Assinale a alternativa correta.
Leia o fragmento, a seguir, retirado do livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto, e responda à questão.
Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em pleno Campo de Sant’Ana, no meio da multidão que
jorrava das portas da Catedral, cheia da honesta pressa de quem vai trabalhar. A sua sensação era que
estava numa cidade estranha. No subúrbio tinha os seus ódios e os seus amores; no subúrbio, tinha os seus
companheiros, e a sua fama de violeiro percorria todo ele, e, em qualquer parte, era apontado; no subúrbio,
enfim, ele tinha personalidade, era bem Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do Campo de Sant’Ana
para baixo, o que era ele? Não era nada. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava a sua fama e o
seu valimento; a sua fanfarronice evaporava-se, e representava-se a si mesmo como esmagado por aqueles
“caras” todos, que nem o olhavam. [...]
Na “cidade”, como se diz, ele percebia toda a sua inferioridade de inteligência, de educação; a sua rusticidade,
diante daqueles rapazes a conversar sobre cousas de que ele não entendia e a trocar pilhérias; em face da
sofreguidão com que liam os placards dos jornais, tratando de assuntos cuja importância ele não avaliava,
Cassi vexava-se de não suportar a leitura; comparando o desembaraço com que os fregueses pediam bebidas variadas e esquisitas, lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar; olhando aquelas
senhoras e moças que lhe pareciam rainhas e princesas, tal e qual o bárbaro que viu, no Senado de Roma,
só reis, sentia-se humilde; enfim, todo aquele conjunto de coisas finas, de atitudes apuradas, de hábitos de
polidez e urbanidade, de franqueza no gastar, reduziam-lhe a personalidade de medíocre suburbano, de vagabundo doméstico, a quase cousa alguma.
BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Rio de Janeiro: Garnier, 1990. p. 130-131.
Leia o fragmento, a seguir, retirado do livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto, e responda à questão.
Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em pleno Campo de Sant’Ana, no meio da multidão que jorrava das portas da Catedral, cheia da honesta pressa de quem vai trabalhar. A sua sensação era que estava numa cidade estranha. No subúrbio tinha os seus ódios e os seus amores; no subúrbio, tinha os seus companheiros, e a sua fama de violeiro percorria todo ele, e, em qualquer parte, era apontado; no subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, era bem Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do Campo de Sant’Ana para baixo, o que era ele? Não era nada. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava a sua fama e o seu valimento; a sua fanfarronice evaporava-se, e representava-se a si mesmo como esmagado por aqueles “caras” todos, que nem o olhavam. [...]
Na “cidade”, como se diz, ele percebia toda a sua inferioridade de inteligência, de educação; a sua rusticidade, diante daqueles rapazes a conversar sobre cousas de que ele não entendia e a trocar pilhérias; em face da sofreguidão com que liam os placards dos jornais, tratando de assuntos cuja importância ele não avaliava, Cassi vexava-se de não suportar a leitura; comparando o desembaraço com que os fregueses pediam bebidas variadas e esquisitas, lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar; olhando aquelas senhoras e moças que lhe pareciam rainhas e princesas, tal e qual o bárbaro que viu, no Senado de Roma, só reis, sentia-se humilde; enfim, todo aquele conjunto de coisas finas, de atitudes apuradas, de hábitos de polidez e urbanidade, de franqueza no gastar, reduziam-lhe a personalidade de medíocre suburbano, de vagabundo doméstico, a quase cousa alguma.
BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Rio de Janeiro: Garnier, 1990. p. 130-131.
Gabarito comentado
Tema central: A questão aborda principalmente interpretação de texto e recursos linguístico-semânticos (figuras de linguagem, coesão, uso de estrangeirismos e perguntas retóricas), cobrando habilidade de leitura crítica e aplicação das normas da Língua Portuguesa.
Justificativa da alternativa correta: Letra B
I. Correta — A frase “o que era ele?” é um ótimo exemplo de pergunta retórica. Pelo contexto, não busca resposta real, mas enfatiza a insignificância de Cassi Jones na nova situação. Segundo Bechara, perguntas desse tipo reforçam ideias ou sentimentos em vez de esperar resposta.
IV. Correta — A palavra placards está em itálico porque é um estrangeirismo, conforme indica o Manual de Redação oficial e gramáticas normativas. O uso de “cartazes” já é corrente em português, tornando o grifo mais perceptível.
Análise das alternativas incorretas:
II. Incorreta — A repetição de “subúrbio” não empobrece o texto. Pelo contrário, reforça a ideia de pertencimento e identidade do personagem. Rocha Lima e Cunha & Cintra destacam que repetições às vezes são recurso de coesão e ênfase — não de pobreza textual.
III. Incorreta — Embora relacione tempos e contextos diferentes (“Roma antiga” e Cassi), o fragmento não configura paradoxo propriamente, e sim uma comparação por analogia, muito usada para expressar sentimento de inferioridade ou estranhamento, mas sem contradição lógica formal.
Como resolver questões desse tipo?
– Leia atentamente as afirmativas e relacione cada termo ao seu contexto exato no texto.
– Atenção a recursos textuais: nem toda repetição empobrece, nem toda comparação é paradoxo.
– Domine termos técnicos como pergunta retórica, estrangeirismo e paradoxo, sempre conferindo como as gramáticas explicam cada fenômeno.
– Cuidado com pegadinhas baseadas em generalizações ou termos ambíguos!
Portanto, a resposta correta é B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
Fontes de referência recomendadas: Bechara, Moderna Gramática Portuguesa; Cunha & Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo; Rocha Lima, Gramática Normativa.
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