Personificação: recurso expressivo que consiste em atribuir propriedades humanas a uma coisa, a um ser inanimado
ou abstrato.
(Dicionário Porto Editora da Língua Portuguesa.
www.infopedia.pt. Adaptado.)
Verifica-se a ocorrência desse recurso no seguinte verso:
Para responder à questão, leia o poema
“Dissolução”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-
1987), que integra o livro Claro enigma, publicado originalmente em 1951.
Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve1
ao dia findar,
aceito a noite.
E com ela aceito que brote
uma ordem outra de seres
e coisas não figuradas.
Braços cruzados.
Vazio de quanto amávamos,
mais vasto é o céu. Povoações
surgem do vácuo.
Habito alguma?
E nem destaco minha pele
da confluente escuridão.
Um fim unânime concentra-se
e pousa no ar. Hesitando.
E aquele agressivo espírito
que o dia carreia2
consigo,
já não oprime. Assim a paz,
destroçada.
Vai durar mil anos, ou
extinguir-se na cor do galo?
Esta rosa é definitiva,
ainda que pobre.
Imaginação, falsa demente,
já te desprezo. E tu, palavra.
No mundo, perene trânsito,
calamo-nos.
E sem alma, corpo, és suave.
(Claro enigma, 2012.)
1 aprazer: causar ou sentir prazer; contentar(-se).
2 carrear: carregar.
Gabarito comentado
Tema central: Figuras de linguagem, especialmente a personificação (ou prosopopeia). Trata-se de um recurso expressivo da Língua Portuguesa em que elementos inanimados ou abstratos recebem atributos, ações ou sentimentos humanos, muito utilizado na linguagem literária para dar vida e emoção ao texto.
Segundo Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa): “A personificação consiste em atribuir sentimentos e qualidades humanas a seres inanimados”. Esse conceito é fundamental para resolver esta questão.
Justificativa para a alternativa correta (D):
No verso “Pois que aprouve ao dia findar,” há uma clara atribuição de vontade ao termo “dia”, algo que pertence ao universo humano. O verbo "aprouver" significa agradar, sentir prazer ou ter vontade. Pela norma culta, dias não decidem encerrar-se; logo, trata-se de um exemplo clássico de personificação, pois o “dia” é representado como alguém capaz de decidir ou desejar o próprio fim.
Análise das alternativas incorretas:
A) “Vazio de quanto amávamos,”
Não há traço de personificação, e sim apenas referência a sentimentos passados.
B) “E nem destaco minha pele”
Aqui é o eu-lírico que executa uma ação, e não um elemento inanimado sendo animado.
C) “Esta rosa é definitiva,”
A rosa está sendo classificada, não personificada. Não há ação ou qualidade humana envolvida.
E) “No mundo, perene trânsito,”
Trata-se de um uso abstrato, descrevendo o mundo como lugar de constante movimento, mas sem humanizar o conceito.
Observe como a banca pode usar expressões ambíguas para confundir: nem todo uso de palavras figuradas é personificação. É essencial buscar atributos e ações tipicamente humanas aplicadas a seres não humanos ou inanimados.
Resumindo: a personificação se evidencia quando um elemento inanimado é descrito como atuante ou possuidor de vontade, sentimentos ou fala.
Para outros concursos, fique atento a verbos de ação, sentidos e expressões de vontade quando aplicados a objetos, conceitos, fenômenos naturais etc.
Alternativa correta: D
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