No soneto, a seguinte expressão é empregada pelo eu lírico
em lugar de sua musa Sílvia:
Leia o soneto “A uma dama dormindo junto a uma fonte”, do
poeta barroco Gregório de Matos (1636-1696), para responder à questão.
À margem de uma fonte, que corria,
Lira doce dos pássaros cantores
A bela ocasião das minhas dores
Dormindo estava ao despertar do dia.
Mas como dorme Sílvia, não vestia
O céu seus horizontes de mil cores;
Dominava o silêncio entre as flores,
Calava o mar, e rio não se ouvia.
Não dão o parabém à nova Aurora
Flores canoras, pássaros fragrantes,
Nem seu âmbar respira a rica Flora.
Porém abrindo Sílvia os dois diamantes,
Tudo a Sílvia festeja, tudo adora
Aves cheirosas, flores ressonantes.
(Poemas escolhidos, 2010.)
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de Texto — análise de figuras de linguagem (metáfora, metonímia e sinestesia), competência fundamental em provas de Vestibular e concursos.
Comentário sobre a alternativa correta:
A alternativa D) “A bela ocasião das minhas dores” está correta porque, segundo a norma-padrão e autores como Evanildo Bechara e Celso Cunha & Lindley Cintra, trata-se do uso de metonímia (substituição de um termo por outro relacionado por contiguidade). Aqui, o eu lírico utiliza “bela ocasião das minhas dores” como substituição indireta de sua musa Sílvia, conferindo a ela a condição de causa das dores amorosas. Isso é característico da metonímia: designar uma pessoa por um aspecto ou efeito por ela provocado.
Estratégia de Resolução: Quando o enunciado pede por uma expressão usada em lugar da musa, procure por versos que tragam referência indireta à personagem, analisando o uso de figuras de linguagem (em especial, aquelas que fundamentam a substituição).
Análise das alternativas incorretas:
A) “Flores canoras, pássaros fragrantes” — Aqui predomina sinestesia, misturando sentidos: flores que cantam e pássaros perfumados, sem substituir ou remeter diretamente à musa.
B) “À margem de uma fonte, que corria” — Trata-se da descrição do cenário. Não há substituição da musa.
C) “O céu seus horizontes de mil cores” — Temos uma hipérbole, exagero poético, mas não há uso metonímico relativo à musa.
E) “Aves cheirosas, flores ressonantes” — Novamente, sinestesia: aves com cheiro e flores que ressoam, sem conexão direta de substituição da musa.
Segundo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa), a metonímia ocorre quando se exprime uma ideia por meio de outra, ligadas por contiguidade lógica ou material. Neste soneto, “bela ocasião das minhas dores” é expressão metonímica, pois a dor do eu lírico é causada por Sílvia — logo, ela é a própria bela ocasião.
Dica para provas: Fique atento quando o enunciado pedir relações de substituição. Leia, relacione significados e busque o termo que represente, de forma indireta, a referência pedida (“em lugar de”, “em vez de”, “em substituição a” são gatilhos para pensar em metonímia).
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