Questão e49dea90-d9
Prova:UEA 2019
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Em A hora da estrela, a história é contada

Leia o trecho de A hora da estrela, de Clarice Lispector, para responder à questão

    De dia usava saia e blusa, de noite dormia de combinação. Uma colega de quarto não sabia como avisar-lhe que seu cheiro era murrinhento. E como não sabia, ficou por isso mesmo, pois tinha medo de ofendê-la. Nada nela era iridescente1 , embora a pele do rosto entre as manchas tivesse um leve brilho de opala. Mas não importava. Ninguém olhava para ela na rua, ela era café frio.
    E assim se passava o tempo para a moça esta. Assoava o nariz na barra da combinação. Não tinha aquela coisa delicada que se chama encanto. Só eu a vejo encantadora. Só eu, seu autor, a amo. Sofro por ela. E só eu é que posso dizer assim: “que é que você me pede chorando que eu não lhe dê cantando”? Essa moça não sabia que ela era o que era, assim como um cachorro não sabe que é cachorro. Daí não se sentir infeliz. A única coisa que queria era viver. Não sabia para quê, não se indagava. Quem sabe, achava que havia uma gloriazinha em viver. Ela pensava que a pessoa é obrigada a ser feliz. Então era. Antes de nascer ela era uma ideia? Antes de nascer ela era morta? E depois de nascer ela ia morrer? Mas que fina talhada de melancia.

(A hora da estrela, 1998.)

1 iridescente: colorido como o arco-íris.

A
por um personagem nomeado, que, conforme narra, faz questionamentos sobre a existência humana e o processo de escrita.
B
por um narrador em terceira pessoa, que mantém a objetividade, enunciando os fatos como uma matéria bruta, sem comentários nem digressões.
C
por um narrador em primeira pessoa, que relata, em um tempo posterior aos fatos, as memórias de quando interagiu com a personagem.
D
pela própria protagonista, que narra os fatos de modo tumultuado, tecendo frequentes comentários sobre a própria escrita.
E
pela própria protagonista, que se coloca como narradora em terceira pessoa da própria vida, como se observasse tudo a partir de um ponto de vista externo aos fatos.

Gabarito comentado

Isabel VegaMestra em Letras na UFRJ, Coordenadora e Professora Aposentada de Português do Colégio Pedro II-RJ
Vídeo produzido em parceria com o Qconcursos.

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