Questão e49dea90-d9
Prova:
Disciplina:
Assunto:
Em A hora da estrela, a história é contada
Em A hora da estrela, a história é contada
Leia o trecho de A hora da estrela, de Clarice Lispector, para
responder à questão
De dia usava saia e blusa, de noite dormia de combinação. Uma colega de quarto não sabia como avisar-lhe que
seu cheiro era murrinhento. E como não sabia, ficou por isso
mesmo, pois tinha medo de ofendê-la. Nada nela era iridescente1
, embora a pele do rosto entre as manchas tivesse um
leve brilho de opala. Mas não importava. Ninguém olhava
para ela na rua, ela era café frio.
E assim se passava o tempo para a moça esta. Assoava o nariz na barra da combinação. Não tinha aquela coisa
delicada que se chama encanto. Só eu a vejo encantadora.
Só eu, seu autor, a amo. Sofro por ela. E só eu é que posso
dizer assim: “que é que você me pede chorando que eu não
lhe dê cantando”? Essa moça não sabia que ela era o que
era, assim como um cachorro não sabe que é cachorro. Daí
não se sentir infeliz. A única coisa que queria era viver. Não
sabia para quê, não se indagava. Quem sabe, achava que
havia uma gloriazinha em viver. Ela pensava que a pessoa é
obrigada a ser feliz. Então era. Antes de nascer ela era uma
ideia? Antes de nascer ela era morta? E depois de nascer ela
ia morrer? Mas que fina talhada de melancia.
(A hora da estrela, 1998.)
1 iridescente: colorido como o arco-íris.
Leia o trecho de A hora da estrela, de Clarice Lispector, para
responder à questão
De dia usava saia e blusa, de noite dormia de combinação. Uma colega de quarto não sabia como avisar-lhe que
seu cheiro era murrinhento. E como não sabia, ficou por isso
mesmo, pois tinha medo de ofendê-la. Nada nela era iridescente1
, embora a pele do rosto entre as manchas tivesse um
leve brilho de opala. Mas não importava. Ninguém olhava
para ela na rua, ela era café frio.
E assim se passava o tempo para a moça esta. Assoava o nariz na barra da combinação. Não tinha aquela coisa delicada que se chama encanto. Só eu a vejo encantadora. Só eu, seu autor, a amo. Sofro por ela. E só eu é que posso dizer assim: “que é que você me pede chorando que eu não lhe dê cantando”? Essa moça não sabia que ela era o que era, assim como um cachorro não sabe que é cachorro. Daí não se sentir infeliz. A única coisa que queria era viver. Não sabia para quê, não se indagava. Quem sabe, achava que havia uma gloriazinha em viver. Ela pensava que a pessoa é obrigada a ser feliz. Então era. Antes de nascer ela era uma ideia? Antes de nascer ela era morta? E depois de nascer ela ia morrer? Mas que fina talhada de melancia.
E assim se passava o tempo para a moça esta. Assoava o nariz na barra da combinação. Não tinha aquela coisa delicada que se chama encanto. Só eu a vejo encantadora. Só eu, seu autor, a amo. Sofro por ela. E só eu é que posso dizer assim: “que é que você me pede chorando que eu não lhe dê cantando”? Essa moça não sabia que ela era o que era, assim como um cachorro não sabe que é cachorro. Daí não se sentir infeliz. A única coisa que queria era viver. Não sabia para quê, não se indagava. Quem sabe, achava que havia uma gloriazinha em viver. Ela pensava que a pessoa é obrigada a ser feliz. Então era. Antes de nascer ela era uma ideia? Antes de nascer ela era morta? E depois de nascer ela ia morrer? Mas que fina talhada de melancia.
(A hora da estrela, 1998.)
1 iridescente: colorido como o arco-íris.
A
por um personagem nomeado, que, conforme narra, faz
questionamentos sobre a existência humana e o processo
de escrita.
B
por um narrador em terceira pessoa, que mantém a
objetividade, enunciando os fatos como uma matéria
bruta, sem comentários nem digressões.
C
por um narrador em primeira pessoa, que relata, em um
tempo posterior aos fatos, as memórias de quando interagiu com a personagem.
D
pela própria protagonista, que narra os fatos de modo
tumultuado, tecendo frequentes comentários sobre a
própria escrita.
E
pela própria protagonista, que se coloca como narradora
em terceira pessoa da própria vida, como se observasse
tudo a partir de um ponto de vista externo aos fatos.
Gabarito comentado
Isabel VegaMestra em Letras na UFRJ, Coordenadora e Professora Aposentada de Português do Colégio Pedro II-RJ