Na atividade artística, o intelecto se encontra
livre para enganar e dissimular, sem causar
prejuízo aos homens.
O filósofo alemão Nietzsche (1844-1900) procurou
investigar a origem de nossos preconceitos morais
através de uma análise da linguagem, como forma
de criticar as tradições filosófica e religiosa
ocidentais. Nietzsche afirma: “As diferentes línguas,
coladas lado a lado, mostram que nas palavras
nunca importa a verdade, nunca uma expressão
adequada: pois senão não haveria tantas línguas. A
“coisa em si” (tal seria justamente a verdade pura
sem consequências) é também para o formador da
linguagem inteiramente incaptável e nem sequer
algo que vale a pena. Ele designa apenas as
relações das coisas aos homens e toma em auxílio
para exprimi-las as mais audaciosas metáforas”
(NIETZSCHE, F.. Sobre verdade e mentira no
sentido extra-moral. In: Antologia de textos
filosóficos. Curitiba: SEED, 2009, p. 533). Sobre o
pensamento de Nietzsche, assinale o que for
correto.
Gabarito comentado
Alternativa correta: C — certo
Tema central: trata-se da concepção nietzschiana sobre linguagem, verdade e função da arte. Para responder, é preciso lembrar que Nietzsche vê as palavras como metáforas úteis e a verdade como construção humana; a arte ocupa um papel especial ao criar formas e ilusões que não visam a uma verdade objetiva, mas afirmam a vida.
Resumo teórico: em "Sobre verdade e mentira no sentido extra‑moral" (1873), Nietzsche explica que conceitos e proposições são «metáforas cristalizadas» — invenções do intelecto para facilitar a convivência e a ação. A atividade artística, ligada também a ideias de "O nascimento da tragédia", permite ao ser humano produzir ficções e representações que não pretenderiam corresponder a uma "coisa em si". Essas ficções não têm necessariamente valor moral ou cognitivo — são formas de afirmar, intensificar ou transformar a experiência humana. Assim, o intelecto artístico pode «enganar» (criar ilusões estéticas) sem que isso constitua, para Nietzsche, um dano moral intrínseco; ao contrário, a arte tem função afirmativa e vital.
Justificativa da escolha: a alternativa afirma que, na atividade artística, o intelecto está livre para enganar e dissimular sem causar prejuízo aos homens. Essa formulação sintetiza a visão nietzschiana: a arte cria ilusões produtivas e não está subordinada ao ideal de verdade objetiva — portanto, a mentira artística não é considerada danosa do ponto de vista que Nietzsche adota. Fontes: Nietzsche, "Sobre verdade e mentira..." (1873) e "O nascimento da tragédia" (1872).
Estratégia para provas: ao ver enunciados sobre Nietzsche, busque termos como "linguagem como metáfora", "perspectivismo", "arte como afirmação" e "crítica da verdade objetiva". Relacione-os com os títulos das obras citadas. Evite confundir com autores que defendem verdade objetiva ou que consideram toda dissimulação moralmente reprovável.
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