Leia o trecho extraído do conto “Depois do dilúvio”, presente no livro Contos indígenas brasileiros, de
Daniel Munduruku:
“Os Kaiurucré continuavam a fazer, com as cinzas, outros animais. Faziam isso sempre de noite. Num certo
dia, estando a esculpir um outro bicho, começou a amanhecer e isso era muito perigoso para eles. Para que
este bicho ficasse perfeito, faltava apenas a língua, os dentes e algumas unhas. Mas eles não teriam tempo
de completar. A solução foi colocar varinhas na boca do animal.
– Como vocês não têm dentes – disse o ancestral – comerão apenas formigas.
E é por isso que o tamanduá é um animal inacabado, incompleto e imperfeito.”
Tendo o episódio do tamanduá como referência e outros mitos Kaigang semelhantes que compõem o conto
de Daniel Munduruku, todas as afirmativas estão corretas, EXCETO
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto, com foco em tipologia textual — especificamente, a distinção entre mito e relato histórico. É fundamental, na prova, identificar se a narrativa descreve fatos históricos (baseados em evidências e documentos) ou se constrói explicações simbólicas sobre o mundo (mitos, lendas).
Justificativa da alternativa correta (A):
A alternativa A está INCORRETA pois, pela norma-padrão e segundo autores como Cunha & Cintra e Evanildo Bechara, mitos não dependem de eventos históricos comprovados, mas se baseiam em narrativas simbólicas tradicionais. O conto apresentado descreve como o tamanduá, por meio de ações de seres sobrenaturais, tornou-se "inacabado". Não há, portanto, registro histórico real; trata-se de uma narrativa explicativa e mítica. Gramaticalmente, identificar o tipo textual é crucial para não confundir enredos míticos com historiografia factual — um erro comum em provas.
Análise das alternativas incorretas:
B) Correta. Pontua a função do mito: explicar a origem de seres e fenômenos naturais por meio da narrativa simbólica, exatamente o apresentado no trecho.
C) Correta. Refere-se ao objetivo do conto: apresentar o imaginário indígena segundo a visão de seu próprio povo, sem interferência de outras culturas ou olhares externos. Isso mostra respeito à perspectiva subjetiva, essencial na análise textual.
D) Correta. Aborda a função social do mito: orientar e educar o grupo sobre si e o mundo — função atestada por autores como Bechara.
Estratégias de interpretação:
Ao receber uma questão sobre tipos textuais, procure localizar indicadores do texto — neste caso, frases como “é por isso que o tamanduá é um animal inacabado” sinalizam o aspecto explicativo-mitológico. Atenção à pegadinha: confundir “ancestrais narrando fatos” com “memorialismo histórico”. Quando a explicação é fantástica, relacionada à criação de seres ou fenômenos, estamos no âmbito do mito.
Regra-chave: Pela gramática (Cunha & Cintra), mitos explicam, histórias comprovam. Desconfie de alternativas que misturam esses conceitos.
Resumo final: A alternativa A é a única errada, pois mitos não são relatos históricos, mas narrativas exemplificativas com função explicativa, simbólica e sociocultural.
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