Questão e17aa019-b4
Prova:Unimontes - MG 2018
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Leia o trecho extraído do conto “Depois do dilúvio”, presente no livro Contos indígenas brasileiros, de Daniel Munduruku:

“Os Kaiurucré continuavam a fazer, com as cinzas, outros animais. Faziam isso sempre de noite. Num certo dia, estando a esculpir um outro bicho, começou a amanhecer e isso era muito perigoso para eles. Para que este bicho ficasse perfeito, faltava apenas a língua, os dentes e algumas unhas. Mas eles não teriam tempo de completar. A solução foi colocar varinhas na boca do animal. – Como vocês não têm dentes – disse o ancestral – comerão apenas formigas. E é por isso que o tamanduá é um animal inacabado, incompleto e imperfeito.”

Tendo o episódio do tamanduá como referência e outros mitos Kaigang semelhantes que compõem o conto de Daniel Munduruku, todas as afirmativas estão corretas, EXCETO

A
Os mitos Kaigang presentes no conto são apoiados em eventos históricos narrados pelos ancestrais da comunidade.
B
O episódio acima, assim como outros semelhantes ao longo do conto, tem por função explicar a origem dos homens e das coisas do mundo através da narrativa mítica.
C
O conto busca retratar o imaginário indígena na perspectiva do próprio povo e de suas histórias.
D
A narração de mitos como esse, entre os membros da comunidade, tem por função provê-los de conhecimentos acerca de si mesmos e de melhor relação com o que os rodeia.

Gabarito comentado

Y
Yago Fernandes Monitor do Qconcursos

Tema central: Interpretação de texto, com foco em tipologia textual — especificamente, a distinção entre mito e relato histórico. É fundamental, na prova, identificar se a narrativa descreve fatos históricos (baseados em evidências e documentos) ou se constrói explicações simbólicas sobre o mundo (mitos, lendas).

Justificativa da alternativa correta (A):

A alternativa A está INCORRETA pois, pela norma-padrão e segundo autores como Cunha & Cintra e Evanildo Bechara, mitos não dependem de eventos históricos comprovados, mas se baseiam em narrativas simbólicas tradicionais. O conto apresentado descreve como o tamanduá, por meio de ações de seres sobrenaturais, tornou-se "inacabado". Não há, portanto, registro histórico real; trata-se de uma narrativa explicativa e mítica. Gramaticalmente, identificar o tipo textual é crucial para não confundir enredos míticos com historiografia factual — um erro comum em provas.

Análise das alternativas incorretas:

B) Correta. Pontua a função do mito: explicar a origem de seres e fenômenos naturais por meio da narrativa simbólica, exatamente o apresentado no trecho.

C) Correta. Refere-se ao objetivo do conto: apresentar o imaginário indígena segundo a visão de seu próprio povo, sem interferência de outras culturas ou olhares externos. Isso mostra respeito à perspectiva subjetiva, essencial na análise textual.

D) Correta. Aborda a função social do mito: orientar e educar o grupo sobre si e o mundo — função atestada por autores como Bechara.

Estratégias de interpretação:

Ao receber uma questão sobre tipos textuais, procure localizar indicadores do texto — neste caso, frases como “é por isso que o tamanduá é um animal inacabado” sinalizam o aspecto explicativo-mitológico. Atenção à pegadinha: confundir “ancestrais narrando fatos” com “memorialismo histórico”. Quando a explicação é fantástica, relacionada à criação de seres ou fenômenos, estamos no âmbito do mito.

Regra-chave: Pela gramática (Cunha & Cintra), mitos explicam, histórias comprovam. Desconfie de alternativas que misturam esses conceitos.

Resumo final: A alternativa A é a única errada, pois mitos não são relatos históricos, mas narrativas exemplificativas com função explicativa, simbólica e sociocultural.

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