Questão de8e8e7a-f1
Prova:Fadba 2014
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Tese é a ideia central, principal do texto, defendida pelo autor, resumindo a razão de todo ele ter sido produzido.
No texto Gravidez indesejada e violência urbana, a tese defendida é:

TEXTO PARA A QUESTÃO


Gravidez indesejada e violência urbana
DRAUZIO VARELLA


A irresponsabilidade brasileira diante das mulheres pobres que engravidam por acidente é caso de polícia literalmente.
O planejamento familiar no Brasil é inacessível aos que mais necessitam dele. Os casais da classe média e os mais ricos, que podem criar os filhos por conta própria, têm acesso garantido a preservativos de qualidade, pílula, injeções e adesivos anticoncepcionais, DIU, laqueadura, vasectomia e, em caso de falha, ao abortamento; porque, deixando a falsidade de lado, estamos cansados de saber que aborto no Brasil só é proibido para a mulher que não tem dinheiro.

Há pouco tempo, afirmei numa entrevista para o jornal "O Globo" que a falta de planejamento familiar era uma das causas mais importantes da explosão de violência urbana ocorrida nos últimos 20 anos em nosso país. A afirmação era baseada em minha experiência na Casa de Detenção de São Paulo: é difícil achar na cadeia um preso criado por pai e mãe. A maioria é fruto de lares desfeitos ou que nunca chegaram a existir. O número daqueles que têm muitos irmãos, dos que não conheceram o pai e dos que foram concebidos por mães solteiras, ainda adolescentes, é impressionante.

Procurados pelos jornalistas, um cardeal e uma autoridade do primeiro escalão federal responderam incisivamente que não concordavam com essa afirmação. O religioso, porque considerava "muito triste ser filho único", e que "o ideal seria cada família brasileira ter cinco filhos". O outro discordava baseado nos dados que mostravam queda progressiva dos índices de natalidade nos últimos 20 anos, enquanto a violência em nossas cidades explodia.
Cito essa discussão, porque encerra o nó de nossa paralisia diante do crescimento populacional insensato que fez o número de brasileiros saltar dos célebres 90 milhões em ação do ano de 1970 para os 180 milhões atuais: de um lado, a cúpula da Igreja Católica, que não aceita sequer o uso da camisinha em plena epidemia de uma doença sexualmente transmissível como a Aids. De outro, os responsáveis pelas políticas públicas, que, para fugir da discussão sobre as taxas inaceitáveis de natalidade da população mais pobre, usam a queda progressiva dos valores médios dos índices ocorrida nas últimas décadas. Dizem: cada brasileira tinha seis filhos em 1950; hoje esse número não chega a três.
É provável que o argumento ajude a aplacar-lhes a consciência pública, especialmente quando se esquecem de dizer que, enquanto as mulheres de nível universitário hoje têm em média 1,4 filho, as analfabetas têm 4,4.
(...)
Nem haveria necessidade de números tão contundentes para tomarmos consciência da associação de pobreza com falta de planejamento familiar e violência urbana: o número de crianças pequenas nas ruas dos bairros mais violentos fala por si. O de meninas em idade de brincar com boneca aguardando atendimento nas filas das maternidades públicas também.
Basta passarmos na frente de qualquer cadeia brasileira em dia de visita para nos darmos conta do número de adolescentes com bebês de colo na fila de entrada.
Todos nós sabemos quanto custa criar um filho. Cada criança concebida involuntariamente por casais que não têm condições financeiras para criá-las empobrece ainda mais a família e o país, obrigado a investir em escolas, postos de saúde, hospitais, merenda escolar, vacinas, medicamentos, habitação, Fome Zero e, mais tarde, na construção de cadeias para trancar os malcomportados.
O que o pensamento religioso medieval e as autoridades públicas que se acovardam diante dele fingem não perceber é que, ao negar o acesso dos casais mais pobres aos métodos modernos de contracepção, comprometemos o futuro do país, porque aprofundamos perversamente a desigualdade social e criamos um caldo de cultura que contém os três fatores de risco indispensáveis à explosão da violência urbana: crianças maltratadas na primeira infância e descuidadas na adolescência, que vão conviver com pares violentos quando crescerem.
http://drauziovarella.com.br/mulher-2/planejamento-familiar/
acesso em 15 de agosto de 2014.

A
O aborto é praticado por mulheres que não têm acesso à orientação sobre planejamento familiar.
B
Existe relação direta entre violência urbana e falta de planejamento familiar.
C
As mulheres mais pobres deveriam ter direito de praticar o aborto, uma vez que não têm acesso ao planejamento familiar eficiente.
D
Os cidadãos frutos da gravidez indesejada são onerosos ao orçamento público.
E
A igreja e o poder público assumem postura covarde diante dos problemas decorrentes da falta de planejamento familiar.

Gabarito comentado

R
Rafael Costa Monitor do Qconcursos

Comentário da Questão – Interpretação de Texto (Tema: Identificação da Tese Principal)

Esta questão avalia interpretação de texto, especificamente a capacidade de encontrar a tese principal – a ideia central defendida pelo autor. Segundo gramáticas como as de Celso Cunha & Lindley Cintra, a tese é o ponto de partida sobre o qual se constroem argumentos durante a exposição textual.

No texto de Drauzio Varella, a tese aparece de maneira clara e recorrente na defesa de que existe uma relação direta entre a falta de planejamento familiar e o aumento da violência urbana. O autor sustenta que a falta de acesso a métodos contraceptivos pelas mulheres mais pobres resulta em gravidezes indesejadas, o que, por sua vez, está associado ao crescimento da violência nas cidades.

Alternativa correta: B) Existe relação direta entre violência urbana e falta de planejamento familiar.

Essa alternativa sintetiza a tese central, refletindo o núcleo argumentativo do texto, como se pode perceber por frases-chaves: “a falta de planejamento familiar era uma das causas mais importantes da explosão de violência urbana...”. O conceito de relação causal está presente ao longo do texto, estabelecendo que um problema social (violência) decorre de outro (falta de controle na natalidade pelo público mais pobre).

Análise das alternativas incorretas:

A) Reduz o recorte ao tema do aborto, citado apenas como uma desigualdade, não constituindo a tese do texto.

C) Sugere uma defesa explícita do direito ao aborto para mulheres pobres, o que não é proposto como tese pelo autor.

D) Aponta o peso econômico dos “cidadãos frutos da gravidez indesejada”, que é argumento acessório, não a tese.

E) Trata da crítica à Igreja e poder público, aspecto argumentativo que sustenta, mas não resume o ponto de vista central.

Estratégia para questões desse tipo: Leia atentamente as conclusões do texto (normalmente localizadas no início ou final) e busque termos de causa, consequência e resumos argumentativos. Evite se confundir com exemplos e opiniões secundárias.

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