Questão de097a67-fa
Prova:IF-PR 2019
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Assinale a alternativa que se relaciona adequadamente com o texto.

        Leia o trecho retirado do conto “O iniciado do vento”, de Aníbal Machado, que servirá de base para a questão.

        A autoridade policial e o agente da estação abriram caminho, pedindo a todos que se afastassem (1). Cada qual queria ser o primeiro a ver a cara do engenheiro (2). Este, calmo e alto, surgiu na plataforma do vagão. Não sabia que viajara com algum personagem importante; mas logo, pela convergência geral dos olhares em sua pessoa, compreendeu tudo. E empalideceu. Alguém teria dado o aviso de sua chegada (3).

        Houve o silêncio de alguns instantes para a “tomada” de sua figura; em seguida, rompeu um murmúrio indistinto, mas hostil, cortado pelas sílabas tônicas de alguns palavrões conhecidos, se não de palavrões sussurrados por inteiro.

        – Para o Hotel Bela Vista? Interrogou o delegado.

        – Sim, respondeu o acusado numa voz firme que reconheceu não ser a sua.

        Os moleques tinham combinado uma vaia com busca-pés que o perseguissem durante o trajeto até o Hotel. Maltrapilhos e abandonados, brigavam sempre entre si, mas o fato de ter sido um deles a vítima, unia-os agora no ódio comum ao engenheiro (4). Disso tirou partido o próprio escrivão do crime com uma parcialidade que a população aplaudia, e que o juiz da Comarca, severo, mas sempre alto e distante no desempenho de suas funções, ignorava.

        De tal juiz se dizia que era bom demais para aquele burgo. (...) Nunca porém o quiseram elevar àquelas cumeadas. Sempre elogios, jamais a promoção.

         Mediante manobras mesquinhas que escapavam aos olhos do juiz (5) sempre voltados para o mais alto e o mais longe, o seu esperto escrivão conseguira prestígio e se fazia temido na cidade. (...)

         [Já em seu quarto, aparece a dona hotel com chá e frutas]

        – O senhor deve estar lembrado de mim.

        – Sim, como não?

        – Vinte e tantos dias o senhor foi meu hóspede, não é verdade?

        Colocou a bandeja na mesa. O engenheiro permanecia silencioso. (...)

        A hoteleira não leva a mal o mutismo do hóspede (6). Estava triste e preocupado, era natural. (...) Ao sair, lembrou-se de dizer:

         – Há um advogado lá embaixo, na sala, querendo falar-lhe. (...)

        – Hein?!... Faça-o subir, tenha a bondade. (...)

        O advogado entrou ofegante. A porta bateu-lhe atrás com estrondo. Vinha oferecer-lhe seus serviços profissionais. Ali, naquela terra, tirante o juiz, “fique certo, seu doutor, ninguém mais presta, nem eu mesmo!” (...)

– A que horas é o interrogatório? Perguntou calmamente o engenheiro.

A
Assim que desceu do trem, o engenheiro percebeu a hostilidade dos cidadãos e começou a soltar, entre dentes, diversos palavrões.
B
A parcialidade do escrivão era aplaudida, porque demonstrava que ele estava do lado da justiça.
C
As mesquinharias do escrivão encobriam seus interesses, que estavam sempre no "mais alto e mais longe".
D
"Farinha do mesmo saco" é uma expressão popular, que pode ser atribuída ao escrivão e ao advogado.

Gabarito comentado

M
Matheus BarrosMonitor do Qconcursos

Tema central: Interpretação de texto – compreensão de expressões idiomáticas e análise semântica.

Para resolver essa questão, é essencial que o candidato interprete adequadamente o texto de Aníbal Machado, identificando o sentido de termos figurados e o perfil dos personagens.

Expressão idiomática: A locução “farinha do mesmo sacocaracteriza pessoas de igual índole, geralmente negativa. Segundo gramáticas referenciais (Bechara, Cunha & Cintra), trata-se de expressão que associa pessoas com defeitos ou comportamentos semelhantes, especialmente quando há desvio ético ou aproveitamento oportunista.

Análise da alternativa correta ― D:
A alternativa D afirma que “‘Farinha do mesmo saco’ é uma expressão popular, que pode ser atribuída ao escrivão e ao advogado”. Essa interpretação está de acordo com o texto, que retrata ambos os personagens como figuras de conduta duvidosa, aproveitadoras e pouco confiáveis diante das dificuldades do engenheiro. Eles partilham posturas reprováveis, o que justifica o uso da expressão popular.

Por que as demais alternativas estão erradas?

A) Indica que o engenheiro proferiu palavrões ao chegar, mas o texto mostra que ele manteve-se calmo e apenas empalideceu. Os palavrões são da multidão, não do engenheiro.

B) Sugere que a parcialidade do escrivão está ligada à justiça. Segundo o texto, a população aplaude a parcialidade, mas não por ela ser justa, e sim por favorecer interesses locais contrários ao engenheiro.

C) Afirma que os “interesses do escrivão estavam sempre no ‘mais alto e mais longe’”, o que está equivocado: a expressão se refere ao juiz, que era alheio às manobras do escrivão, e não ao próprio escrivão.

Dicas para a prova: Sempre confira a quem se referem expressões ou comportamentos destacados em narrativas. Atenção a generalizações e deslocamentos de sentido, pois são armadilhas comuns em alternativas.

Assim, pela análise semântica da expressão idiomática e correta interpretação do texto, a alternativa D é a certa.

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