Questão dc7d5a66-a6
Prova:UFU-MG 2017
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

FLORES DO MAIS

devagar escreva

uma primeira letra

escrava

nas imediações construídas

pelos furacões;

devagar meça

a primeira pássara

bisonha que

riscar

o pano de boca

aberto

sobre os vendavais;

devagar imponha

o pulso

que melhor

souber sangrar

sobre a faca

das marés;

devagar imprima

o primeiro

olhar

sobre o galope molhado

dos animais; devagar

peça mais

e mais e

mais


CESAR, Ana Cristina. Flores do mais. In: Destino: poesia. Organização de Italo Moriconi. Rio de Janeiro: José Olympio, 2016. p.41.


Expoente da poesia marginal da década de 1970, Ana C. escreve poesia que reflete experiências do cotidiano. Em Flores do mais, com o auxílio da gradação dos fenômenos da natureza (furacões, vendavais, marés), a autora metaforiza

A
o esfacelamento do sujeito poético e os problemas existenciais.
B
o desejo de travar relacionamento bucólico com outros interlocutores.
C
a angústia proveniente do fazer poético comparado ao prazer de viver.
D
o trabalhoso processo de escrita e a inscrição da palavra no papel.

Gabarito comentado

R
Roberta FernandesTime de mentores Qconcursos

Comentário da Questão – Interpretação de Texto: Poesia e Metáfora

Tema central: Interpretação de texto poético com foco em figuras de linguagem (metáfora), análise semântica e progressão temática.

O poema trabalha intensamente a metáfora sobre o processo da escrita. Os versos instruem, de modo reiterado (“devagar escreva”, “devagar meça”, “devagar imponha”, “devagar imprima”), uma ação cautelosa, quase ritualística, sendo cada etapa representada por imagens ligadas a forças da natureza (“furacões”, “vendavais”, “marés”). Esses fenômenos ilustram simbolicamente as dificuldades, esforços e desafios de quem escreve.

Segundo a norma-padrão e as gramáticas de referência (Bechara; Cunha & Cintra), interpretar textos poéticos exige perceber o sentido figurado das palavras, reconhecendo metáforas como transferências simbólicas. Aqui, a natureza não representa literalmente o ambiente, mas a complexidade do ato criador.

Justificativa da alternativa correta (D):

A opção D – “o trabalhoso processo de escrita e a inscrição da palavra no papel” – é a mais precisa. Ela dialoga diretamente com a sequência de ações lentas e intensas presentes no poema, assim como com a imagem do esforço traduzida pelas palavras-chave (“meça”, “imponha”, “imprima”, sempre ‘devagar’).

Análise das alternativas incorretas:

  • A) “Esfacelamento do sujeito poético” não é explorado. O foco não recai em angústia existencial, mas na ação criadora.
  • B) “Relacionamento bucólico” não aparece no texto: não há elementos nem traços de bucolismo ou interação interpessoal.
  • C) “Comparação entre angústia do fazer poético e prazer de viver” é um deslocamento do tema; o texto não trabalha oposição de sentimentos.

Estratégia de resolução: Ao analisar poesias em provas, identifique repetições, imagens e comandos verbais; observe metáforas e indícios de temas recorrentes. Isso evita confundir o sentido do texto com possíveis pegadinhas, como referência errada ao sujeito poético ou associações sentimentais não presentes.

Portanto, a correta compreensão semântica e a atenção à coerência temática foram essenciais para escolher corretamente a alternativa D.

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