Para o estudioso da canção brasileira Luiz Tatit, em sua obra O século da canção (2004), os sambistas da
década de 1930 destacaram-se pelo desenvolvimento de uma forma poética a partir da prosódia popular
dos morros cariocas, retratando o cotidiano de vida permeado pela pobreza, pelo humor e pela boemia. Nas
palavras de Tatit: "Alheios a qualquer formação escolar, de ordem musical ou literária, esses sambistas
retiravam suas melodias e seus versos da própria fala cotidiana. Serviam-se das entoações que
acompanham a linguagem oral e das expressões usadas em conversa. Tais recursos, aliás, já vinham das
brincadeiras indígenas e dos rituais religiosos das primeiras levas de negros que aqui chegaram".
De acordo com esse texto, o verso que NÃO apresenta prosódia baseada na linguagem popular é:
Gabarito comentado
Tema central da questão: O foco está em interpretação de texto, especificamente na identificação da prosódia baseada na linguagem popular, elemento fundamental para entender a estilística da canção brasileira, especialmente dos sambistas destacados no trecho de Luiz Tatit.
Conceitos-chave: Prosódia diz respeito à musicalidade do discurso: entonação, ritmo e acentuação. Segundo Bechara (“Moderna Gramática Portuguesa”), na música, a prosódia conecta a letra ao padrão natural de fala. Linguagem popular envolve construções, expressões e gírias do cotidiano, com frases simples, afetivas e espontâneas, como observam Cunha & Cintra.
Justificativa da alternativa correta (B):
A alternativa B ("Coração / Grande órgão propulsor / Distribuidor do sangue venoso e arterial") utiliza um registro formal e técnico, com termos científicos que estão distantes da fala cotidiana. Em vez de refletir a espontaneidade e a oralidade popular, ressalta a linguagem objetiva e científica. Por isso, não apresenta prosódia baseada na linguagem popular.
Análise das demais alternativas:
A ("João Ninguém / Não trabalha e é dos tais") explora expressões coloquiais e frases de efeito características do falar popular, simples e direto.
C ("Eu hoje estou pulando como sapo, / Pra ver se escapo desta praga de urubu") utiliza metáforas comuns na linguagem popular, aproximando-se do cotidiano e das imagens jocosas e familiares.
D ("Agora vou mudar minha conduta, / Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar") traz construções populares: "vou pra luta", "quero me aprumar", mostrando oralidade e identificação com o povo.
Como chegar à resposta: Uma estratégia eficiente é procurar palavras científicas, técnicas ou excessivamente formais (como na B), pois elas fogem da naturalidade da fala popular frequentemente presente nas letras de samba.
Pegadinhas: Atenção à construção das frases: mesmo que haja temas sérios, se o vocabulário for simples e coloquial, provavelmente está alinhado à linguagem popular. Já a linguagem rebuscada indica distanciamento dessa prosódia.
Portanto, a alternativa B é a correta, pois é a única que não apresenta prosódia da linguagem popular conforme o texto-base. Revise sempre o vocabulário e o registro linguístico para resolver questões desse tipo!
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