O efeito de humor, no TEXTO 2, decorre, principalmente,
Leia o TEXTO 2 para responder a questão.
TEXTO 2
FUTEBOL DE RUA
(1) Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. Mas existe um tipo de futebol ainda mais rudimentar
do que a pelada. É o futebol de rua. Perto do futebol de rua qualquer pelada é luxo e qualquer terreno
baldio é o Maracanã em jogo noturno. Futebol de rua é tão humilde que chama pelada de senhora. Não
sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam
mais ou menos assim:
(2) DA BOLA – A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve. No
desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do seu irmão
menor, que sairá correndo para se queixar em casa. No caso de se usar uma pedra, lata ou outro objeto
contundente, recomenda-se jogar de sapatos. De preferência os novos, do colégio. Quem jogar descalço
deve cuidar para chutar sempre com aquela unha do dedão que estava precisando ser aparada mesmo.(3) DA DURAÇÃO DO JOGO – Até a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos,
até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.
(4) DA FORMAÇÃO DOS TIMES – O número de jogadores em cada equipe varia, de um a 70 para cada
lado. Algumas convenções devem ser respeitadas. Ruim vai para o gol. De óculos é meia-armador, para
evitar os choques.
(5) DO JUIZ – Não tem juiz.
(6) DAS INTERRUPÇÕES – No futebol de rua, a partida só pode ser paralisada numa destas
eventualidades:
(7) a) Se a bola for para baixo de um carro estacionado e ninguém conseguir tirá-la, mande o seu irmão
menor.
(8) b) Se a bola entrar por uma janela. Neste caso os jogadores devem esperar não mais de 10 minutos
pela devolução voluntária da bola. Se isto não ocorrer, os jogadores devem designar voluntários para bater
na porta da casa ou apartamento e solicitar a devolução, primeiro com bons modos e depois com ameaças
de depredação. Se o apartamento ou casa for de militar reformado com cachorro, deve-se providenciar
outra bola. Se a janela atravessada pela bola estiver com o vidro fechado na ocasião, os dois times devem
reunir-se rapidamente para deliberar o que fazer. A alguns quarteirões de distância.
(9) c) Quando passarem veículos pesados pela rua. De ônibus para cima. Bicicletas e Volkswagen, por
exemplo, podem ser chutados junto com a bola e se entrar é gol.
(10) DO INTERVALO PARA DESCANSO – Você deve estar brincando!
(11) DA TÁTICA – Joga-se o futebol de rua mais ou menos como o futebol de verdade (que é como, na
rua, com reverência, chamam a pelada), mas com algumas importantes variações. O goleiro só é intocável
dentro da sua casa, para onde fugiu gritando por socorro. É permitido entrar na área adversária tabelando
com uma Kombi. Se a bola dobrar a esquina é córner.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Futebol de rua. Disponível em: < http://contobrasileiro.com.br/futebol-de-ruacronica-de-luis-fernando-verissimo/>.
Acesso em: 05 maio 2018 (adaptado).
Leia o TEXTO 2 para responder a questão.
TEXTO 2
FUTEBOL DE RUA
(3) DA DURAÇÃO DO JOGO – Até a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.
(4) DA FORMAÇÃO DOS TIMES – O número de jogadores em cada equipe varia, de um a 70 para cada lado. Algumas convenções devem ser respeitadas. Ruim vai para o gol. De óculos é meia-armador, para evitar os choques.
(5) DO JUIZ – Não tem juiz.
(6) DAS INTERRUPÇÕES – No futebol de rua, a partida só pode ser paralisada numa destas eventualidades:
(7) a) Se a bola for para baixo de um carro estacionado e ninguém conseguir tirá-la, mande o seu irmão menor.
(8) b) Se a bola entrar por uma janela. Neste caso os jogadores devem esperar não mais de 10 minutos pela devolução voluntária da bola. Se isto não ocorrer, os jogadores devem designar voluntários para bater na porta da casa ou apartamento e solicitar a devolução, primeiro com bons modos e depois com ameaças de depredação. Se o apartamento ou casa for de militar reformado com cachorro, deve-se providenciar outra bola. Se a janela atravessada pela bola estiver com o vidro fechado na ocasião, os dois times devem reunir-se rapidamente para deliberar o que fazer. A alguns quarteirões de distância.
(9) c) Quando passarem veículos pesados pela rua. De ônibus para cima. Bicicletas e Volkswagen, por exemplo, podem ser chutados junto com a bola e se entrar é gol.
(10) DO INTERVALO PARA DESCANSO – Você deve estar brincando!
(11) DA TÁTICA – Joga-se o futebol de rua mais ou menos como o futebol de verdade (que é como, na rua, com reverência, chamam a pelada), mas com algumas importantes variações. O goleiro só é intocável dentro da sua casa, para onde fugiu gritando por socorro. É permitido entrar na área adversária tabelando com uma Kombi. Se a bola dobrar a esquina é córner.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Futebol de rua. Disponível em: < http://contobrasileiro.com.br/futebol-de-ruacronica-de-luis-fernando-verissimo/>.
Acesso em: 05 maio 2018 (adaptado).
Gabarito comentado
Comentário da Questão: Efeito de Humor e Interpretação de Texto
Tema central: Esta questão exige interpretação de texto, especificamente a identificação do recurso responsável pelo efeito de humor criado por Luís Fernando Veríssimo na crônica “Futebol de rua”. O aluno deve analisar não só o conteúdo, mas a forma como ele é apresentado.
Justificativa da alternativa correta: B
A resposta B aponta para o contraste entre a linguagem formal e a prática desregrada. O autor estrutura o texto como se fosse um regimento oficial (com “artigos”, “regras” e termos típicos de regulamentos) para uma atividade informal e caótica. Essa oposição é o principal gerador de humor — uma técnica clássica de incongruência, reconhecida por Celso Cunha e Lindley Cintra em “Nova Gramática do Português Contemporâneo”: provocar riso ao contrapor níveis de linguagem, ou a seriedade da norma a contextos lúdicos.
Assim, é a formalização exagerada do futebol de rua que causa humor, não apenas o conteúdo nostálgico ou descritivo.
Análise das alternativas incorretas:
A) Incorreta: O texto tem subjetividade e remete à infância, mas não é isso que sustenta o humor central; o efeito cômico nasce do “regulamento” inusitado para algo desorganizado.
C) Incorreta: A comparação aparece, mas está a serviço do cenário, não sendo a principal fonte do humor.
D) Incorreta: Termos antigos (“córner”) compõem o tom, mas sua presença não explica o humor principal.
E) Incorreta: Imagens afetivas reforçam o aspecto memorialístico, não o cômico.
Estratégia para provas: Sempre que a pergunta abordar “efeito de humor”, busque no texto incongruências (contraste entre expectativa e realidade), exageros e ironias. Preste atenção à forma como o texto é apresentado: aqui, o uso de um tom “oficial” aplicado a uma situação totalmente informal!
Caso surjam dúvidas em alternativas sobre humor, enfoque onde o texto extrapola ou confronta padrões — é aí que mora o efeito cômico segundo autores como Evanildo Bechara.
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