[...] Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam
cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como
haviam repousado bastante na área do rio seco, a viagem
progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma
sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos
galhos pelados da catinga rala. [...]
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2008.
Analise as assertivas abaixo, baseando-se no período: “Fazia
horas que procuravam uma sombra.”
I. A primeira oração do período apresenta um sujeito inexistente
e o verbo encontra-se impessoal.
II. Pode-se substituir o verbo da oração “Fazia horas” por uma
locução verbal (“Devem fazer...”), alterando assim a
classificação do sujeito.
III. A segunda oração do referido período é classificada como
subordinada substantiva.
verifica-se que está(ão) correta(s)
Gabarito comentado
Tema central: O foco da questão é a análise sintática e semântica de sujeitos e verbos impessoais, ponto vital na interpretação e compreensão da estrutura das orações na norma-padrão. Saber identificar orações sem sujeito (de sujeito inexistente) e reconhecer as funções sintáticas de orações subordinadas é fundamental, especialmente em textos literários, como neste trecho de Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
Justificativa da alternativa correta: E (Apenas I está correta)
I. “A primeira oração do período apresenta um sujeito inexistente e o verbo encontra-se impessoal.”
Correta. Conforme Bechara e Cunha & Cintra, verbos impessoais não admitem sujeito. Quando “fazer” exprime tempo decorrido, como em “Fazia horas que procuravam uma sombra”, trata-se de oração sem sujeito, com verbo em terceira pessoa do singular. Assim, a oração “Fazia horas” é um típico caso de sujeito inexistente.
Análise das alternativas incorretas:
II. “Pode-se substituir o verbo da oração ‘Fazia horas’ por uma locução verbal (‘Devem fazer...’), alterando assim a classificação do sujeito.”
Incorreta. Mesmo em locução (‘Devem fazer’, ‘Pode fazer’, etc.), se o sentido for de tempo decorrido, ‘fazer’ permanece impessoal; não há sujeito, e o verbo principal continua no singular: “Devem fazer duas horas que ele saiu”. O sujeito segue inexistente.
III. “A segunda oração do referido período é classificada como subordinada substantiva.”
Incorreta. O trecho “que procuravam uma sombra” é uma oração subordinada adjetiva explicativa, pois explica/detalha o substantivo “horas”. Não exerce, portanto, função típica de oração subordinada substantiva, que seria, por exemplo, ocupar o lugar de sujeito ou complemento.
Destaques e estratégias:
- Atenção à impessoalidade de verbos como ‘fazer’, ‘haver’ e ‘ser’ quando indicam tempo ou fenômenos naturais – sempre em terceira pessoa do singular, sem sujeito!
- Fique atento à diferença entre orações adjetivas (ligadas a um termo antecedente) e subordinadas substantivas (sem termo antecedente, com função de substantivo).
Regra central: “Verbos impessoais que indicam tempo decorrido apresentam ‘sujeito inexistente’ e ficam sempre no singular.” (Cunha & Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo)
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