Questão d73e7871-72
Prova:
Disciplina:
Assunto:
No texto, a moça
No texto, a moça
O entendimento dos contos
— Agora você vai me contar uma história de amor — disse o rapaz à moça. — Quero ouvir uma história de amor em
que entrem caravelas, pedras preciosas e satélites artificiais.
— Pois não — respondeu a moça, que acabara de concluir o mestrado de contador de histórias, e estava com a
imaginação na ponta da língua. — Era uma vez um país onde
só havia água, eram águas e mais águas, e o governo como
tudo mais se fazia em embarcações atracadas ou em movimento, conforme o tempo. Osmundo mantinha uma grande
indústria de barcos, mas não era feliz, porque Sertória, objeto
dos seus sonhos, se recusava a casar com ele. Osmundo
ofereceu-lhe um belo navio embandeirado, que ela recusou.
Só aceitaria uma frota de dez caravelas, para si e para seus
familiares.
Ora, ninguém sabia fazer caravelas, era um tipo de
embarcação há muito fora de uso. Osmundo apresentou
um mau produto, que Sertória não aceitou, enumerando os
defeitos, a começar pelas velas latinas, que de latinas não
tinham um centavo. Osmundo, desesperado, pensou em
afogar-se, o que fez sem êxito, pois desceu no fundo das
águas e lá encontrou um cofre cheio de esmeraldas, topázios, rubis, diamantes e o mais que você imagina. Voltou
à tona para oferecê-lo à rígida Sertória, que virou o rosto.
Nada a fazer, pensou Osmundo; vou transformar-me em satélite artificial. Mas os satélites artificiais ainda não tinham
sido inventados. Continuou humilde satélite de Sertória, que
ultimamente passeava de uma lancha para outra, levando-o
preso a um cordão de seda, com a inscrição “Amor imortal”.
Acabou.
— Mas que significa isso? — perguntou o moço, insatisfeito. — Não entendi nada.
— Nem eu — respondeu a moça —, mas os contos devem
ser contados, e não entendidos; exatamente como a vida.
(Contos plausíveis, 2012.)
O entendimento dos contos
— Agora você vai me contar uma história de amor — disse o rapaz à moça. — Quero ouvir uma história de amor em que entrem caravelas, pedras preciosas e satélites artificiais.
— Pois não — respondeu a moça, que acabara de concluir o mestrado de contador de histórias, e estava com a imaginação na ponta da língua. — Era uma vez um país onde só havia água, eram águas e mais águas, e o governo como tudo mais se fazia em embarcações atracadas ou em movimento, conforme o tempo. Osmundo mantinha uma grande indústria de barcos, mas não era feliz, porque Sertória, objeto dos seus sonhos, se recusava a casar com ele. Osmundo ofereceu-lhe um belo navio embandeirado, que ela recusou. Só aceitaria uma frota de dez caravelas, para si e para seus familiares.
Ora, ninguém sabia fazer caravelas, era um tipo de embarcação há muito fora de uso. Osmundo apresentou um mau produto, que Sertória não aceitou, enumerando os defeitos, a começar pelas velas latinas, que de latinas não tinham um centavo. Osmundo, desesperado, pensou em afogar-se, o que fez sem êxito, pois desceu no fundo das águas e lá encontrou um cofre cheio de esmeraldas, topázios, rubis, diamantes e o mais que você imagina. Voltou à tona para oferecê-lo à rígida Sertória, que virou o rosto. Nada a fazer, pensou Osmundo; vou transformar-me em satélite artificial. Mas os satélites artificiais ainda não tinham sido inventados. Continuou humilde satélite de Sertória, que ultimamente passeava de uma lancha para outra, levando-o preso a um cordão de seda, com a inscrição “Amor imortal”. Acabou.
— Mas que significa isso? — perguntou o moço, insatisfeito. — Não entendi nada.
— Nem eu — respondeu a moça —, mas os contos devem ser contados, e não entendidos; exatamente como a vida.
(Contos plausíveis, 2012.)
A
finge não entender o próprio conto para perturbar o rapaz
B
sugere que a vida, como a maioria dos contos, dificilmente termina bem.
C
sugere que dificilmente o sentido da vida possa caber em
um conto.
D
acredita que a vida precisa ser decifrada, como a maioria
dos contos
E
acredita que os contos, como a vida, prescindem de
explicação