Questão d233ff39-8c
Prova:UNICAMP 2021
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

TEXTO 1


antipoema


é preciso rasurar o cânone

distorcer as regras

as rimas as métricas


o padrão

a norma que prende a língua


os milionários que se beneficiam do nosso silêncio


do medo de se dizer poeta,


só assim será livre a palavra.


(Ma Njanu é idealizadora do “Clube de Leitoras” na periferia de Fortaleza e da “Pretarau, Sarau das Pretas”, coletivo de artistas negras. Disponível em http://recantodasletras.com.br/poesias/6903974. Acessado em 20/05/2020.)


TEXTO 2

“O povo não é estúpido quando diz ‘vou na escola’, ‘me deixe’, ‘carneirada’, ‘mapear’, ‘farra’, ‘vagão’, ‘futebol’. É antes inteligentíssimo nessa aparente ignorância porque, sofrendo as influências da terra, do clima, das ligações e contatos com outras raças, das necessidades do momento e de adaptação, e da pronúncia, do caráter, da psicologia racial, modifica aos poucos uma língua que já não lhe serve de expressão porque não expressa ou sofre essas influências e a transformará afinal numa outra língua que se adapta a essas influências.”

(Carta de Mário a Drummond, 18 de fevereiro de 1925, em Lélia Coelho Frota, Carlos e Mário: correspondência completa entre Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2002, p. 101.)


Apesar de passados quase 100 anos, a carta de Mário de Andrade ecoa no poema de Ma Njanu. Ambos os textos manifestam

A
a ignorância ratificada do povo em sua luta para se expressar.
B
a necessidade de diversificar a língua segundo outros costumes.
C
a inteligência do povo e dos poetas livres de influências.
D
a ingenuidade em se crer na possibilidade de escapar às regras.

Gabarito comentado

P
Patrícia Mendes Monitor do Qconcursos

Comentário do Gabarito – Interpretação de Texto e Variação Linguística

Tema central da questão: Variação linguística e evolução da língua. Os textos destacam como a língua precisa se adaptar aos costumes e necessidades culturais dos seus falantes, rompendo, quando necessário, com regras fixas do cânone ou da norma estabelecida.

Justificativa da alternativa correta (B): "a necessidade de diversificar a língua segundo outros costumes."

O poema de Ma Njanu defende rasurar o cânone, distorcer normas e liberar a palavra, apontando a necessidade de a expressão refletir a realidade dos falantes. Mário de Andrade argumenta que o povo não é ignorante ao adaptar a língua, mas age de forma inteligente ao ajustá-la a novas influências, necessidades e costumes. Segundo Evanildo Bechara, a língua é um organismo social em constante transformação e adaptação, destacando a legitimidade das mudanças culturais e históricas no idioma.

Análise das alternativas incorretas:

A) Incorreta. Ao contrário do que sugere, os textos valorizam a atuação do povo como inovador e agente de mudança, não como ignorante.
C) Incorreta. Embora reconheçam a inteligência do povo, ambos os textos ressaltam exatamente a importância das influências externas; não há liberdade sem contato ou troca.
D) Incorreta. A proposta não é ingenuidade, mas sim consciência crítica para modificar a norma e fazer a língua refletir as experiências reais.

Elementos para interpretar corretamente: Utilize palavras-chave (como “rasurar o cânone”, “modifica aos poucos uma língua”), atente-se ao tom dos autores e à ideia de adaptação expressa nos textos.

Como estratégia, lembre-se que temas sobre variação linguística raramente valorizam a rigidez normativa, mas sim a flexibilidade e adaptação linguística.

Referências: Celso Cunha & Lindley Cintra defendem que toda língua viva sofre influência dos falantes, sendo a diversidade condição essencial para a sobrevivência e riqueza do idioma.

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