Num mundo dominado por homens, a mulher é tratada
como um ser diferenciado, que merece uma designação
especial. Enquanto a expressão “o homem” pode equivaler
a “o ser humano”, como na frase “O homem é mortal”, a
expressão “a mulher” só se refere aos seres humanos do
gênero feminino. A língua também revela um tratamento diferente dado à mulher na sociedade ao conter
designações específicas para ela, inexistentes para o
homem. Assim, a mulher de um chefe de governo é
chamada de “primeira-dama”, mas o marido de uma mulher
que desempenha aquele cargo não é chamado de
“primeiro-cavalheiro”.Conta-se que Cecília Meireles recusava a designação de
“poetisa”, por achar que esse termo não tinha a mesma
conotação de “poeta” (usado para os homens), ao
contrário, soava até pejorativo. Por outro lado, Dilma
Rousseff exigia que a tratassem por “presidenta” para
enfatizar que quem ocupava o cargo de chefe da nação
brasileira era finalmente uma mulher.
(Adaptado de Francisco Jardes Nobre de Araújo, O machismo na linguagem.
Disponível em https://www.parabolablog.com.br/index.php/ blogs/o-machismona-linguagem?fbclid=IwAR0n7sVvu2mNioWa1Gpp0BZL4TP6Uo-hGK7DKyltgIxk
d tRfoOaI6OEPCZE. Acessado em 05/06/2020.)
Segundo o autor de “O machismo na linguagem”,
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto, com foco nos efeitos do uso do gênero na linguagem e na relação entre línguas e questões sociais como o sexismo linguístico.
O texto aborda como determinadas formas linguísticas — como os femininos “poetisa”, “primeira-dama”, “presidenta” — surgem para especificar o gênero feminino, enquanto o masculino mantém caráter genérico (“o homem” = “ser humano”). Essa marcação reflete e revela concepções socioculturais sobre o papel da mulher na sociedade.
Justificativa da alternativa correta (D):
A alternativa D afirma que “a escolha de algumas palavras para marcar o gênero feminino pode se relacionar com a valorização social da mulher”. Isso está perfeitamente de acordo com o trecho do texto referente à exigência de Dilma Rousseff de ser chamada de “presidenta” para enfatizar o ineditismo feminino no cargo de chefia máxima do país. O autor ilustra que, nessas situações, o destaque ao gênero feminino não é neutro nem desprovido de intenção: pode evidenciar valorização, conquista ou reconhecimento.
Análise das alternativas incorretas:
A) Diz que o feminino se torna subalterno pelo uso genérico de “o homem”. Embora o texto trate do uso do masculino como genérico, não afirma que o feminino torna-se “subalterno”, mas sim que há diferenciação e ausência de termos equivalentes para o masculino (exemplo: não há “primeiro-cavalheiro”).
B) Diz que marcar o gênero feminino leva ao fim do privilégio do masculino na língua. É o oposto da argumentação do texto, que mostra persistência do masculino como padrão.
C) Afirma que usar palavras no feminino evita viés machista e incentiva menor diferenciação. O texto cita o caso de Cecília Meireles, que rejeitava “poetisa” justamente por considerar a forma feminilizada depreciativa — prova de que o uso do feminino pode reforçar, e não atenuar, distinções.
Estratégias para resolver questões assim: Atente-se aos exemplos do texto; identifique o que eles ilustram (valorização, crítica, ironia?); fique atento a palavras de sentido absoluto (“leva ao fim”, “evita totalmente”, “sempre”) nas alternativas.
Resumo: A questão avaliou a compreensão de como o uso de certas formas femininas pode expressar não só diferenciação, mas também valorizar a presença feminina em funções sociais históricas. A alternativa D traduz corretamente esse ponto textual e linguístico.
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