Questão d217b05b-8c
Prova:UNICAMP 2021
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Leia o poema e responda à questão que se segue.

A fermosura desta fresca serra
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do Sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza
com tanta variedade nos oferece,
se está, se não te vejo, magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
sem ti, perpetuamente estou passando,
nas mores alegrias, mor tristeza.

É correto afirmar que, no soneto de Camões,

A
a beleza natural aborrece o eu lírico, uma vez que se transforma em objeto de suas maiores tristezas.
B
a variedade da paisagem está em harmonia com o sentimento do eu lírico porque a relação amorosa é imperfeita.
C
a harmonia da natureza consola o eu lírico das imperfeições da vida e da ausência da pessoa amada.
D
a singularidade da natureza entristece o eu lírico quando ele está distante da pessoa amada.

Gabarito comentado

R
Rodrigo GarciaMonitor do Qconcursos

Tema central: Interpretação de Texto com ênfase na análise dos sentimentos do eu lírico e no papel das paisagens naturais na construção do sentido do poema.

O soneto apresenta uma exuberante descrição da natureza. No entanto, o que se destaca é como o eu lírico, ao experimentar a ausência da pessoa amada, perde a capacidade de se alegrar com essa beleza natural. Isso exige uma leitura atenta para diferenciar o que pertence à paisagem e o que pertence ao sentimento do “eu”.

Alternativa correta: DA singularidade da natureza entristece o eu lírico quando ele está distante da pessoa amada.

Justificativa: O eu lírico revela, nos versos finais, que “sem ti, tudo me enoja e me aborrece; sem ti, perpetuamente estou passando, nas mores alegrias, mor tristeza”. Ou seja, a maravilha da natureza não traz satisfação, mas tristeza quando falta a presença da amada. Trata-se de um caso clássico de paradoxo (conforme Bechara: ideias opostas coexistindo para evidenciar um sentimento intenso): mesmo em meio à alegria natural, impera a tristeza — o que fundamenta, pela semântica textual, a correção da alternativa D.

Análise das alternativas incorretas:

A) Incorreta. A natureza por si só não aborrece o eu lírico; o aborrecimento é efeito da ausência da amada, não da paisagem.

B) Incorreta. Não há indício de que a “relação amorosa é imperfeita”. O problema destacado no poema é a distância, não o estado do relacionamento.

C) Incorreta. Ao contrário: a natureza não consola o eu lírico; ela se torna insípida e fonte de tristeza. Isso é explicitado nos versos analisados.

Estratégia para interpretar questões como esta:

• Leia atentamente as palavras e conectores que estabelecem causa e consequência (ex.: “sem ti... tudo me aborrece”).
• Analise o comportamento do eu lírico em relação ao ambiente: ele valoriza ou rejeita o cenário?
• Cuidado com pegadinhas: alternativas que misturam as emoções do eu lírico com o atributo da natureza podem induzir ao erro.

Concluindo, a profundidade da questão envolve perceber que o valor da paisagem depende da presença da amada para o eu lírico — recorra sempre à análise detalhada dos sentimentos explícitos e implícitos!
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