Questão d1b627c2-e9
Prova:FAG 2017
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Tipologia Textual, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Ao iniciar a introdução do conceito de “memória coletiva”, pode-se afirmar que a autora do texto 3:


I. Utiliza como recurso textual, um argumento de autoridade de modo a gerar o nível de credibilidade pretendido.
II. Através de fatos históricos e testemunhos comprováveis produz um nível de expectativa pertinente ao tipo textual proposto.
III. Estabelece um comparativo entre tipos diferentes de lembranças, de modo a considerar a superioridade de um em relação ao outro.


Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s)

Texto 3 - Memória coletiva

    Em 1925, quando a era das comunicações começava a se acelerar, o filósofo francês Maurice Halbwachs aventou a ideia de uma “memória coletiva”: o conjunto de lembranças que um grupo de pessoas compartilha sobre um evento marcante e que, somado a fatos e imagens de domínio público, forma um tecido muito mais extenso e bem tramado do que a simples soma das recordações individuais. Esse tecido é tão forte, aliás, que pode ser compartilhado até mesmo por gerações que não assistiram aos acontecimentos. É um fenômeno presente na maneira como os judeus lembram o Holocausto ou os americanos revivem a Guerra do Vietnã. Na vida brasileira, o ano de 1970 é um desses polarizadores da memória coletiva: o ano em que o país reuniu a mais brilhante escalação da história do futebol, em que esse time derrotou de maneira quase heroica cada um dos seus adversários [...], em que a população experimentou, na Copa do Mundo, seu primeiro grande evento de mídia – e também um ano em que a ditadura militar arrancava as pessoas de suas casas e sumia com elas, em que tudo era dito aos sussurros e em que essa euforia de uma torcida nacional foi usada como cortina de fumaça para o desgoverno e se misturou a ele. [...] E está aí, em boa medida, a beleza de O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (Brasil, 2006) [...]: na maneira como ele ao mesmo tempo separa e une esses dois fios da memória.
    No começo de 1970, Mauro (Michel Joelsas), de 12 anos, é tirado às pressas de sua casa em Belo Horizonte e levado para o apartamento do avô, no bairro paulistano do Bom Retiro. Os pais, aflitos, dizem que estão saindo de férias e, quando puderem, voltarão para buscá-lo, de preferência a tempo de assistirem juntos à Copa. Vão-se embora sem conferir se o avô recebeu o menino em segurança. Mas ele não está em casa, nem vai voltar. Mauro vira então atribuição da vizinhança. Mora meio na casa vazia do avô, meio no apartamento ao lado, do velho Shlomo (Germano Haiut), zelador da sinagoga local – o Bom Retiro reunia então uma forte comunidade judaica, a que Mauro nem sabia pertencer. Janta com uma pessoa, almoça com outra, brinca com as crianças do bairro e, o tempo todo, mantém um olho grudado no futebol e o outro no telefone, à espera de uma ligação dos pais que não chega nunca.
[...]
(BOSCOV, Isabela. Disponível em: http://arquivoetc.blogspot.com.br/2006/10/memria-coletiva.html.)

A
I.
B
II.
C
I e III.
D
II e III.
E
I, II e III.

Gabarito comentado

C
Cláudia Nogueira Monitor do Qconcursos

Tema central: Interpretação de Texto — análise de argumentos utilizados pela autora na introdução do conceito de “memória coletiva”.

A questão exige que o candidato avalie três afirmativas, considerando se a autora lança mão de argumento de autoridade, de fatos históricos/Testemunhos e de comparação entre lembranças para destacar superioridade.

Análise da alternativa correta (C):

I. Utilização do argumento de autoridade: Correta. Ao citar Maurice Halbwachs, autoridade reconhecida sobre memória coletiva, a autora confere credibilidade e profundidade à explicação. Trata-se do típico argumento de autoridade, como explicitado por gramáticas consagradas (ex: Rocha Lima). No contexto da norma-padrão, essa estratégia é fundamental para consolidar pontos de vista e estruturar o texto dissertativo.

III. Comparação para destacar superioridade: Correta. Ao falar que a “memória coletiva” é “um tecido mais extenso e bem tramado do que a simples soma das recordações individuais”, a autora compara memórias coletiva e individual e atribui superioridade à primeira, usando construções comparativas (“mais extenso”, “bem tramado”). Essa comparação não é apenas descritiva, mas hierarquiza os tipos de lembrança, atendendo exatamente ao teor da afirmativa III.

Análise das alternativas INCORRETAS:

II. Fatos históricos e testemunhos comprováveis: A afirmativa sugere uso de testemunhos (depoimentos pessoais), mas, no texto, há apenas exemplos e menções históricas (Holocausto, Guerra do Vietnã, Copa de 1970), não testemunhos pessoais ou comprovações diretas dos eventos. Pela interpretação rigorosa, a autora apenas exemplifica, sem basear sua argumentação em fatos comprováveis/fidedignos advindos de testemunhos, o que torna a afirmativa II errada para o gabarito oficial. Atenção: muitos candidatos erram por não diferenciar exemplo histórico de testemunho individual!

Resumo das estratégias: Sempre destaque palavras-chave (“mais extenso”; “autoridade”; “tecido”) e analise a intenção de comparação do autor. Cuidado com pegadinhas de vocabulário (“testemunhos” ≠ “exemplos históricos”).

Gabarito: C (I e III estão corretas)

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