O título “Democracia”, do Texto 1, deve-se ao fato
de que (assinale a alternativa correta):
TEXTO 1
Democracia
Punhos de redes embalaram o meu canto
para adoçar o meu país, ó Whitman.
Jenipapo coloriu o meu corpo contra os maus-
[olhados,
catecismo me ensinou a abraçar os hóspedes,
carumã me alimentou quando eu era criança,
Mãe-negra me contou histórias de bicho,
moleque me ensinou safadezas,
massoca, tapioca, pipoca, tudo comi,
bebi cachaça com caju para limpar-me,
tive maleita, catapora e ínguas,
bicho-de-pé, saudade, poesia;
fiquei aluado, mal-assombrado, tocando maracá,
dizendo coisas, brincando com as crioulas,
vendo espíritos, abusões, mães-d’água,
conversando com os malucos, conversando sozinho,
emprenhando tudo que encontrava,
abraçando as cobras pelos matos,
me misturando, me sumindo, me acabando,
para salvar a minha alma benzida
e meu corpo pintado de urucu,
tatuado de cruzes de corações, de mãos-ligadas,
de nomes de amor em todas as línguas de branco, de
[mouro ou de pagão.
(LIMA, Jorge de. Melhores poemas. São Paulo:
Global, 2006. p. 74.)
TEXTO 1
Democracia
Punhos de redes embalaram o meu canto
para adoçar o meu país, ó Whitman.
Jenipapo coloriu o meu corpo contra os maus-
[olhados,
catecismo me ensinou a abraçar os hóspedes,
carumã me alimentou quando eu era criança,
Mãe-negra me contou histórias de bicho,
moleque me ensinou safadezas,
massoca, tapioca, pipoca, tudo comi,
bebi cachaça com caju para limpar-me,
tive maleita, catapora e ínguas,
bicho-de-pé, saudade, poesia;
fiquei aluado, mal-assombrado, tocando maracá,
dizendo coisas, brincando com as crioulas,
vendo espíritos, abusões, mães-d’água,
conversando com os malucos, conversando sozinho,
emprenhando tudo que encontrava,
abraçando as cobras pelos matos,
me misturando, me sumindo, me acabando,
para salvar a minha alma benzida
e meu corpo pintado de urucu,
tatuado de cruzes de corações, de mãos-ligadas,
de nomes de amor em todas as línguas de branco, de
[mouro ou de pagão.
(LIMA, Jorge de. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2006. p. 74.)
Gabarito comentado
Gabarito: C
Tema central: Interpretação de Texto — Identidade cultural e sentido global do poema. A questão exige análise da coerência textual, ou seja, da forma como o poema estrutura e integra diferentes culturas na formação da identidade do eu-lírico.
Justificativa da Alternativa Correta (C):
A alternativa C é a correta porque capta o sentido principal do poema: o eu-lírico apresenta sua formação pessoal e cultural como resultante da miscegenação de culturas presentes no Brasil — indígena (“jenipapo coloriu o meu corpo”), africana (“Mãe-negra me contou histórias”), branca/europeia (“catecismo me ensinou a abraçar os hóspedes”). Todas essas referências estão dispostas de maneira democrática, valorizando todas as origens igualmente e sem hierarquias, o que justifica o título “Democracia”. Essa interpretação exige atenção à coesão e coerência (KOCH & ELIAS) e análise das figuras de linguagem (CUNHA & CINTRA), pois as várias experiências citadas são simbólicas, denotando miscigenação e inclusão.
Análise das Alternativas Incorretas:
A) Destaca a liberdade formal do poema, mas esta é consequência do conteúdo, e não o motivo do título. O foco do poema está na integração cultural, não apenas na estrutura dos versos.
B) Fala em denúncia de formas ditatoriais e desejo de “produção poética democrática”, o que não está presente textualmente. O poema é celebrativo e inclusivo, não de protesto ou denúncia.
D) Menciona a aceitação de uma cultura dominante e outras dominadas, sugerindo conflito ou hierarquia cultural — contrário à ideia do texto, que valoriza o convívio e a fusão das tradições.
Estratégias para a prova: Busque identificar no texto as palavras-chave e explicações simbólicas dos versos. Fuja de alternativas que introduzam ideias não presentes no texto (generalizações, protestos, hierarquias). Cuidado com pegadinhas semânticas, como “denúncia” ou “aceitação de dominação”, quando o tom do texto é inclusivo e harmonioso.
Referências normativas: KOCH, Ingedore; BECHARA, Evanildo; CUNHA & CINTRA. Estes autores reforçam a importância do contexto, da coesão e das figuras de linguagem para a boa interpretação textual.
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