Questão d119845a-e9
Prova:FAG 2017
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Denotação e Conotação, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Ao ler atentamente o excerto da crônica, verificasse o uso da linguagem:

Texto 1 - Repórter Policial

    [...] Assim como o locutor esportivo jamais chamou nada pelo nome comum, assim também o repórter policial é um entortado literário. Nessa classe, os que se prezam nunca chamariam um hospital de hospital. De jeito nenhum. É nosocômio. Nunca, em tempo algum, qualquer vítima de atropelamento, tentativa de morte, conflito, briga ou simples indisposição intestinal foi parar num hospital. Só vai para o nosocômio. E assim sucessivamente. Qualquer cidadão que vai à Polícia prestar declarações que possam ajudá-la numa diligência (apelido que eles puseram no ato de investigar), é logo apelidada de testemunha chave. Suspeito é Mister X, advogado é causídico, soldado é militar, marinheiro é naval, copeira é doméstica e, conforme esteja deitada, a vítima de um crime – de costas ou de barriga pra baixo – fica numa destas duas incômodas posições: decúbito dorsal ou decúbito ventral.
    Num crime descrito pela imprensa sangrenta, a vítima nunca se vestiu. A vítima trajava. Todo mundo se veste… mas, basta virar vítima de crime, que a rapaziada sadia ignora o verbo comum e mete lá: “A vítima traja terno azul e gravata do mesmo tom”. Eis, portanto, que é preciso estar acostumado ao “métier” para morar no noticiário policial. Como os locutores esportivos, a Delegacia do Imposto de Renda, os guardas de trânsito, as mulheres dos outros, os repórteres policiais nasceram para complicar a vida da gente. Se um porco morde a perna de um caixeiro de uma dessas casas da banha, por exemplo, é batata…a manchete no dia seguinte tá lá: “Suíno atacou comerciário”.
    Outro detalhezinho interessante: se a vítima de uma agressão morre, tá legal, mas se — ao contrário — em vez de morrer fica estendida no asfalto, está prostrada. Podia estar caída, derrubada ou mesmo derribada, mas um repórter de crime não vai trair a classe assim à toa. E castiga na página: "Naval prostrou desafeto com certeira facada." Desafeto — para os que são novos na turma — devemos explicar que é inimigo, adversário, etc. E mais: se morre na hora, tá certo; do contrário, morrerá invariavelmente ao dar entrada na sala de operações.
    De como vive a imprensa sangrenta, é fácil explicar. Vive da desgraça alheia, em fotos ampliadas. Um repórter de polícia, quando está sem notícia, fica na redação, telefonando pras delegacias distritais ou para os hospitais, perdão, para os nosocômios, onde sempre tem um cupincha de plantão. [...]
Fonte: STANISLAW, Ponte Preta. São Paulo: Moderna, 1986.

A
Jornalística.
B
Didática.
C
Denotativa.
D
Informal.
E
Técnica.

Gabarito comentado

F
Felipe MendesMonitor do Qconcursos

Comentário de Gabarito – Interpretação: Linguagem Utilizada na Crônica

Tema central: A questão avalia sua capacidade de identificar níveis de linguagem, especialmente distinguindo a linguagem informal da formal, e relaciona esse conhecimento à análise do texto lido.

Análise do texto: O excerto é uma crônica humorística que trata do comportamento dos repórteres policiais. O autor ironiza o uso de termos complicados (“nosocômio”, “causídico”, “trajava”, etc.) tornando clara sua intenção crítica e seu tom descontraído. Destacam-se expressões como “é batata…a manchete tá lá”, construção sintática solta, uso de reticências e comentários ao leitor, tudo típico da oralidade e do cotidiano.

Alternativa Correta: D) Informal

Na norma-padrão, linguagem informal caracteriza-se pelo uso de coloquialismos, frases de estrutura simples, e por priorizar a espontaneidade — “tá lá”, “é batata”, “rapaziada sadia”. Como traz CUNHA & CINTRA, ela é adequada para situações cotidianas e descontraídas. É justamente o que se observa no texto analisado.

Por que as demais estão erradas?

  • A) Jornalística: Apesar do tema ser jornalismo policial, o texto é uma crônica, não notícia; explora o humor e o comentário, não a informação direta.
  • B) Didática: Não há intenção de ensinar regras ou conceitos, mas de divertir e criticar.
  • C) Denotativa: Linguagem denotativa apresenta sentido literal. Aqui, há jogo de palavras, sentido conotativo, ironia e expressividade.
  • E) Técnica: Apesar de ironizar o excesso de termos técnicos, o texto em si é acessível e próximo da fala comum.

Estratégia para questões semelhantes:
Busque no texto marcas de oralidade, humor, expressões regionais, gírias ou construções sintáticas mais soltas. Essas são pistas claras de informalidade.

Segundo BECHARA (“Moderna Gramática Portuguesa”), reconhecer variações de registro é essencial para interpretar adequadamente textos em provas de Vestibular e concursos.

Resumo: A resposta correta é a letra D, pois o texto utiliza claramente linguagem informal, marcada por expressividade, crítica e coloquialismo.

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