Leia os versos do poema Lira Itabirana, escrito
por Carlos Drummond de Andrade e publicado
em 1984.
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
O poeta faz referência à exploração de
minérios no Brasil e suas consequências
sociais. A respeito do papel da mineração na
história brasileira, considere as seguintes
afirmações.
I - No século XVIII, a exploração de metais
preciosos na região de Minas Gerais
desenvolveu redes internas de comércio
na colônia, articulando a região com zonas
de produção pecuária do sul e com
fornecedores de mão de obra escravizada
do nordeste.
II - Durante o Estado Novo, o projeto político,
imposto por Getúlio Vargas para reduzir a
dívida externa brasileira, estabelecia a
privatização das grandes empresas nacionais
e ocasionou a venda da Companhia Vale do
Rio Doce para o capital estrangeiro.
III - No Brasil contemporâneo, a exportação em
larga escala de minérios ocupa uma
posição central na economia, tornando o
país suscetível a crises, em razão das
variações nos preços internacionais e de
desastres ambientais de vastas proporções.
Quais estão corretas?
Gabarito comentado
Alternativa correta: D — Apenas I e III
Tema central: o papel histórico da mineração no Brasil — sua dinâmica econômica, redes de abastecimento e trabalho no ciclo do ouro (séc. XVIII), as políticas estatais sobre empresas mineradoras e a posição da extração mineral na economia contemporânea.
Resumo teórico:
I. No século XVIII, Minas Gerais impulsionou uma economia interna: a mineração exigia alimentos, gado e mão de obra. Tropas de muares e tropeiros ligavam Minas a zonas de criação (centro-sul) e a escravização dependia do tráfico e realocação de escravizados vindos do Nordeste e da África. (Ver: Caio Prado Júnior, Formação do Brasil Contemporâneo; Emília Viotti da Costa sobre escravidão e economia colonial.)
II. A Companhia Vale do Rio Doce foi criada no Estado Novo (1942) como empresa estatal — portanto, não foi vendida durante o governo Vargas. A privatização da Vale ocorreu em 1997, no governo Fernando Henrique Cardoso. Logo, a afirmação II conflita com a cronologia e o conteúdo das políticas. (Fonte: histórico da CVRD/Vale; estudos sobre privatizações nos anos 1990.)
III. No período contemporâneo, o minério — especialmente o minério de ferro — é central nas exportações brasileiras, tornando a economia vulnerável a choques externos (variações de preço, demanda chinesa) e a riscos socioambientais de grande impacto (ex.: Mariana/2015, Brumadinho/2019, envolvendo a Vale). (Fontes: IBGE/MDIC — estatísticas de comércio exterior; relatórios e cobertura sobre os desastres.)
Justificativa da alternativa correta (D): Afirmativas I e III estão corretas porque descrevem, respectivamente, a formação das redes internas e dependência de mão de obra durante o ciclo minerador colonial e a centralidade/fragilidade da mineração na economia atual. A II é falsa: confunde momento histórico e política — Estado Novo criou a CVRD; a venda ao capital privado deu-se décadas depois.
Análise das alternativas incorretas: - A (Apenas I): omite a precisão contemporânea da mineração (III), logo insuficiente. - B (Apenas II): incorreta, pois II é falsa. - C (Apenas III): omite a validade de I, que descreve corretamente o século XVIII. - E (I, II e III): incorreta porque inclui II, que está equivocada historicamente.
Dica de interpretação para provas: atente a expressões temporais (século XVIII, Estado Novo, contemporâneo) e a fatos concretos (data de criação vs. privatização). Questões que misturam períodos costumam testar cronologia e causalidade — verifique datas e atores (estado x setor privado).
Fontes recomendadas: Caio Prado Júnior (Formação do Brasil Contemporâneo); estudos sobre mineração colonial e tráfico escravo; históricos institucionais da CVRD/Vale; IBGE/MDIC e reportagens e relatórios sobre Mariana e Brumadinho.
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